sexta-feira, 29 de maio de 2020

Artigos soltos 39

Uma oração ao Deus da minha vida.

         Oração é eventual. Tem força própria. Muitas vezes irrompe. Surpreende. E nos vemos todos dentro delas. Certas coisas e certas situações em nossa vida nos expõem todos e inteiros. Caramba, como sentimos medo nessas horas.

        Quando Pedro negou, foi tomado pelo medo. Expôs-se todo e inteiro. Sua fraqueza (e franqueza, também) involuntária. Somos Pedros. E aquela prostituta (nem sei se era uma) que, violentada, teve sua vida exposta.  Aqueles homens, ora, os homens, eventualmente, mais do que eventualmente tão covardes: expuseram publicamente e rasgaram a intimidade alheia. 

       Ainda bem que provocaram Jesus. A qualquer e diante de toda a provocação, Jesus explode em amor. Quando você ouve um pássaro cantando, ele explode em amor. Quando você houve um bebê chorando, explode em amor. Se uma flor desabrochar, no invisível, com ou sem flagrante, como brota uma semente, no escondido, como explode a pipoca, explode e brota e floresce em amor.

      Jesus derramou do seu amor na vida da mulher. Aqueles homens não tinham do que acusar Jesus, senão de amor. E amar sempre dá muito medo. Por isso João, que é chamado "apóstolo do amor" certa vez disse "quem tem medo, não se aperfeiçoou no amor". E você me diga se há outra origem para o amor, senão Deus. Por isso que a Bíblia diz que o amor jamais acaba.

       No princípio, é o amor. Isso o livro não diz. Mas é como se dissesse. Me diz, então, se antes de tudo não está o amor e se, depois de tudo, ele não continua. Imagine a sua vida sem amor. Agora me diga se amor ê algo, assim, improvisado entre os homens, largado, como um bate-papo com os amigos. Jesus era homem de bate-papo com os amigos. 

       Ele os procurava. Tirante uma hora ou outra de oração, ele procurava e estava o tempo todo entre amigos. Certa vez que ele veio ao encontro deles, mais que urgente, andou sobre o mar. E até se assustaram com essa urgência. Você não acredita? Em que que você não acredita? No amor, em Jesus ter flutuado, na capacidade dele de fazer amigos, afinal, em quantas coisas você não acredita?

      Responda: acredito no amor, pratico com restrições, quer dizer, escolho a quem amar, mas não acredito que o amor seja eterno. Não acredito que ele era antes e que vai prevalecer depois. Para mim, amor não é eterno. É circunstancial. Para mim o cemitério é o fim do amor. Amor não é presença, para mim. Tem prazo de validade. Amo, quer dizer, amei alguns que já foram. Morreram. Um dia também vou morrer. O amor acaba na morte. 

     Tudo morre. O pássaro que cantou, morre. O bebê que chorou, um dia vai morrer. A flor que desabrochou é a que menos dura viva. O amor termina na morte.  Até Jesus morreu (se é que ele existiu). Jesus ressuscitou. Deus se reinventou. Porque Deus é amor. Um cara anônimo disse num dos livros da Bíblia que Deus é imutável (ora, sobre "Deus" se diz muita coisa). Outro cara da Bíblia disse "Deus é amor". Desculpe-me mencionar a Bíblia, livro tão provocativo. 

      Porque ela que diz que Deus é amor. Você não é obrigado(a) a crer nisso, quer dizer, nem na Bíblia, nem em Deus e nem no amor. Ou, quando muito, definir "amor" de outro jeito. Fique em paz. Ou perca a paz (o que às vezes é até melhor). Caso perca a paz, faça uma oração. Uma oração ao Deus da minha vida. Não é um deus. É Deus. Ele se reinventou. Explodiu em amor. Isso mesmo, até a ciência, essa "deusa", para alguns, de todas as respostas (até daquelas que ela ainda não tem, e o nome disso é fé), até ela diz que houve um Big-Bang.

       Pois então. Deus explodiu em amor.  Deus reinventou-se e ainda se reinventa a cada gesto de amor de verdade. Lembra do passarinho em seu trinado? Do choro da criança (ou qualquer choro verdadeiro)? Lembra da mulher violentada? Lembra de Jesus, boêmio, buscando amigos e crendo que a cada dia, mais uma chance, mais rostos, mais pessoas, mais chances de amar? 

       Desculpe, mas a Bíblia diz que Deus se fez homem. Você acha que é engodo ou mentira dizer isso? Pelo menos, é poético. O "livro inventado" diz que Deus é amor e explodiu-se porque não mais aguentava a solidão. Numa explosão de amor, criou o universo, colocando-nos como poeira cósmica dentro dele. No meio de uma explosão de amor. Diga que é mentira. Diga que seu amor é de mentira. Diga a si mesmo(a) que a morte é o limite do amor. 

     Diga que vida só existe do cemitério para fora. Eu vou continuar acreditando na vida. No amor. E quando encontrar Jesus numa roda de samba, com amigos, terei sempre  certeza do que disse  certo poeta: o samba também é uma forma de se expressar verdades.

EAD - Vídeo 2 - Professus21

      Como aprender e ensinar de forma saudável e viável em tempo de pandemia: 8 recomendações (pesquisadores):

1. Diversificação de atividades: arte, jogos, lab. remotos, ambientes de programação e ajuda recíproca entre alunos, aprendizado para além das plataformas;

2. Construa conhecimento: interpretação inteligente e sistemática do que se vê e do que se experimenta. Não é somente a vista passiva de vídeos, mas dominar as ferramentas on/off line, produzir teorias, inventar, como se propõem problemas e se chegam a soluções;

3. Valorizar o saber do aluno: pensar em tópicos atuais e contextualizados na problemática vivida: menos "aulas" e mais projetos que aproximem realidade e contexto cultural dos alunos. Por exemplo, a síntese do saber em família, diante dessa nova realidade, tornando mais propício o ambiente à aprendizagem;

4. Redução do currículo: "Menos é mais": poucas experiências, porém mais significativas, pela impossibilidade prática de reproduzir 8 disciplinas escolares em casa. Definitivamente, tentar cobrir todo o conteúdo não será aprendizado;

5. Alcançar todos os alunos: igualdade e personalização, à frente do pedagógico, para que o facilitador on line não seja fator de desigualdade;

6. Limitações e cuidados: privacidade em casa e cuidado com a exposição na rede. Crianças, adolescentes, pais e professores precisam ter cuidado com exposição de dados;

7. Continência: não lançar mão de recursos sem prévia avaliação, para evitar despesas desnecessárias: usar o que estiver disponível. Fazer registro pormenorizado de tudo o que foi positivo/negativo nesse momento novo. Compartilhar conteúdos e atividades, recursos e ideias.

8. Envolver todos. Equidade como prioridade. Verificar limitações de instituições. Cada realidade específica. Fechar escolas e universidades não é o ideal, mas se impõe nesse momento. Porém, haverá chance de aprendizado.
    
  Planejamento, cuidado e senso de colaboração. Para garantir continuidade de aprendizagem, ainda que nesse novo contexto. Uma hora a menos de aprendizado, porém uma hora a mais de lição de humanidade.

EAD - Prioridades

- 1 bilhão de crianças em casa no mundo inteiro;
- Escolas e universidades são foco de prevenção, daí seu isolamento;
- Professores e educadores transferindo aprendizagem para plataformas on line;
- Não há como transpor a Escola para dentro de casa, cumprindo o mesmo currículo;
- Não há como professor transferir uma aula integralmente para a plataforma;
- Não há como a criança/adolescente estacionar manhã/tarde inteiras diante de uma videoconferência;
- Os pais não dispõe de recursos acadêmicos próprios para sempre ajudar;
- Agora é necessária a consciência de que vamos ajustar as expectativas e que as soluções serão experimentais;
- Expectativas realistas de acordo com o momento vivido;
- Quais são então as prioridades para (1) pais (2) estudantes e (3) instituição?
- Estudantes devem ser motivados a reagir positivamente aos desafios;
- Entender como grande momento e oportunidade de aprendizado para estudantes, pais, educadores e sociedade em geral;
- Compreender o potencial da educação on line em detalhes;
- Mas reconhecer também as limitações: a dos alunos, das famílias e das instituições;
- Um grande desafio é a equidade: na realidade brasileira há grande quantidade de alunos que não têm acesso aos recursos on line;
- Aparelhos, computadores, rede, menor espaço útil em casa;
- O que representa essa transposição? Como transferir informação/formação? Em que sentido a aula por vídeo substituiu/não substitui a aula presencial?
- Aulas ideais: promovem investigação, construção coletiva do conhecimento e colaboração entre os alunos;
- Trazem resultados mais duradouros e eficazes;
- Como fazer a distância?  Aqui entra o trabalho de redesenho curricular;
- Requer organização prévia para crianças e adolescentes: mas como garantir a continuidade do aprendizado em meio a esse isolamento físico, social e paralização de aulas presenciais?
- Como criar estratégias de modo a que o estudantes aprendam de forma viável e saudável?
Recomendações:
1. Muita atenção à diversidade de atividades;
2. Propor construção do aprendizado;
3. Entender os riscos da privacidade;
4. Alcançar o aluno, ir de encontro a ele;
5. Reduzir o tamanho do currículo;
6. Avaliar a validade do material tecnológico a ser utilizado;
7. Entender o momento como chance de grande aprendizado coletivo.

sábado, 16 de maio de 2020

ABRAHIM FARHAT
idealista e sonhador

A família Farhat Sírio Libanês chegou a Manaus em 1910, e sucessivamente em Rio Branco. Tornou-se amigo e assessor de Dom Giocondo, que amava escutar e trabalhar com jovens de visão ampla como ele, Marilia Santana, Mauricelia, Irene Dantas, Nely Cruz, Mario Lima, Jorge e Guilherme Tomás. Certamente este grupo ajudou  o bispo a se comprometer mais com as causas populares  ao ponto de  incentivá-lo a estudar advocacia para defender os pobres .

Amizade com Dom Giocondo. Um dia o Eudo Lustosa chegou a chamr a atenção de Dom Giocondo, pois havia comentários na cidade que o bispo andava demais com o Lhe, que era comunista e palestino e o bispo teria respondido que se todos fossem como o Abrahim, o mundo seria salvo pelos valores da solidariedade, da justiça e da igualdade.
Até o Jorge Kalume, um personagem muito católico na sociedade acreana, chegou a perseguir lideranças que tivessem uma visão mais aberta e crítica, ao ponto de mandar invadir a casa do bispo, onde os jovens do movimento estudantil estavam reunidos com o Lhe e o Helio Kury.
Com estes jovens, o bispo Dom Giocondo fundou o Gesca,  o Grupo de Elevação Socio Cultural do Acre, o primeiro grupo de jovens no Acre, com um espírito crítico, analizando a conjuntura, debatendo assunto de democracia, de cultura e de religião comprometida com as causas do povo e discutindo os movimentos de resistência. As reuniões destes jovens aconteciam no Colégio Acreano e no Salão da Catedral: organizavam festivais de música popular brasileira, promoviam recitais de poesia e sempre cantando de preferência o hino de Geraldo Vandré.

Suas companhias preferidas. O Abrahim, conhecido também  por Lhe ou Brachula,  era comum vê-lo  vendendo balões na praça, organizando arraiais nas estradas poeirentas para arrecadar um dinheirinho para promoções sociais. Foi ele quem conseguiu apoio da Igreja para publicação do jornal Varadouro editado pelo Silvio Martinello e Elson Martins. E também patrocionou o Grupo Raizes que fazia shows musicais por toda parte cantando músicas de protesto, em especial aquela do Vandré e outras do Chico Buarque. Naqueles tempo da Ditadura Militar o Lhé era incansável e vivia para sonhar tempos de liberdade e democracia comungando os ideais do Chico Mendes, Marina, Binho, Monteiro, Hélio Pimenta, Célia Pedrina e Jorge Viana.

Na paróquia de Santa Inês. Na Sta Ines, quando chegaram os padres da diocese de Lucca, houve uma explosão de atividades de evangelização e de promoção humana, como a fundação de novas comunidades na cidade e no interior, a organização dos colonos, a resistência dos posseiros e as ocupações dos novos bairros. Foi aí que o Abrahim veio para somar forças, apresentando a proposta de organizar numa sala da paróquia uma cooperativa de costureiras, pois já havia algumas jovens com uma visão comunitária que estariam dispostas, como a Fátima, Marlete, Josefa, Marizete. Com a ajuda do padre Sírio, foram disponibilizadas cinco máquinas de costura e as primeiras remessas de tecido. O Lhe insistiu com o Prefeito Adalto Frota até conseguir a encomenda de  200 macacões paras os garis e as margaridas da prefeitura de Rio Branco.
Terminada esta encomenda, a cooperativa não foi mais à frente, pois qualquer confecção de roupa não podia concorrer com as roupas industrializadas que as lojas vendiam a um preço bem mais em conta.

Na ocupação do bairro da Conquista,  estava visitando com os padres para animar uma meia dúzia de mulheres a acolherem a proposta de iniciar com um Kit cozinha uma produção e uma venda de charutos e pasteis.
Em Manoel Urbano apoiou a cooperativa de costureiras e a fábrica de redes com a ajuda do Pe Sírio, a irmãs  Fátima, Otacilia e Nieta.
Onde a Francisca Marinheiro estava nas diferentes ocupações, ele também estava junto, acompanhando as negociações com a polícia e com os oficiais de justiça.
Foi promotor da Associação das lavadeiras e estivadores com o Nilson Mourão, organizou a Associação das Prostitutas no Papoco com a professora Dalva para as mulheres profissionais do sexo terem direitos a exames médicos e a não sofrerem violência e exploração por parte dos cafetões.
Criou APA, Área de Proteção Ambiental para defender o lago do Amapá, onde dezenas de pescadores praticavam a pesca predatoria até com bombas e onde o Esquadão da Morte desovava vitimas.
Desde o ano de 75, o Lhe foi presidente da Cooperativa NS da Conceição fundada em 62, para trabalhar comunitariamente em terras repartidas.

Centro de Defesa. Sempre estava presente no Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Diocese (CDDH) com a Terezinha Zanata, Carlos Kanauara, Terezinha Mansour, Denise, Raimunda Bezerra, Iolanda, Marquinho, Nilson. Na opinião dele, a crise do Centro de Defesa se deu por diferenças ideologicas entre a Articulação e o PRC (Partido Revolucionário Comunista, um partido político brasileiro de esquerda, baseado ideologicamente nos princípios do marxismo-leninismo com forte penetração nos meios sindicais e estudantis) Este desentendimento político deu origem ao CDDHEP (Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular) com sede no bairro  Seis de Agosto.

Acidente ou atentado? Sobre a morte de dom Giocondo, o Lhe sempre teve uma opinião pessoal, pois para ele foi um atentado da Operação Condor, uma organização repressiva do Cone Sul contra os comunistas. A Operação Condor  prendeu entre outros, o Zé Chileno que era contra o Pinochet, foragido da Dina (serviço da inteligência Chilena). O Zé em Rio Branco foi protegido pelo Elson Martins, Antônio Manoel, Toinho Alves, Pedro Vicente e Abrahim.  A morte de dom Giocondo completaria a lista de outros atentados: Jango que foi envenenado, Juscelino e Letier no Chile.

Do livro em QRcode “50 anos na Amazônia”

sábado, 9 de maio de 2020

Contarei tudo que puder - Final

  
Cambiasca: vê-se pequenina a 
Ponte Nova, sobre o Rio
Paraíba do Sul
(Veja histórico no link ao final)

 Pois bem, para resumir, foi com esse tio amigo que o Senhor das Misericórdias, que outro não é, senão o nosso Deus, para sempre, mas trouxe  para o Rio de Janeiro prrcisamente a 26 de abril de 1934. Por coincidência, era data de meu batismo que ocorrera a 26 de abril de 1932, portanto, 2 (dois) anos antes no município de S. Fidelis, no seu 4⁰ Distrito, naquela época chamado Ponte Nova (essa nomenclatura veio mudar-se mais tarde pelo IBGE para o nome de Cambiasca). Isso porque o nome Ponte Nova era o de um município mais antigo do Estado de Minas Gerais. -- Os cambiascas eram padres capuchinhos fundadores da Igreja Católica de S. Fidelis. Daí o nome Cambiasca ou Vila Campiasca para substituir a antiga Vila Ponte Nova. Nota: segundo o IBGE, toda sede de município é cidade, e toda sede de distrito é Vila, daí Vila Cambiasca, por ser a sede se um distrito do Município de São Fidelis.

Anotações de meu pai
no caderno onde resolveu
rascunhar suas memórias.

Histórico de Cambiasca no link abaixo:

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Contarei tudo que puder - 7

    
Itaocara

    Tio Henrique homem pacato, de bons costumes, muito trabalhador na lavoura, chamada branca naquela época, lá no município de Itaocara ou então em todo o Est. do Rio. Lavoura branca era a plantação de milho, feijão, arroz, café, etc.
     O pequeno lavrador, como papai que tinha um pequeno sítio de 4 alqueires e meio de terra. Plantava milho, feijão, fumo ou tabaco, etc. Esses cereais eram o grosso de suas atividades. Daí tiravam para o sustento da família, vendendo parte da colheita no fim do ano, reservando-se nos chamados paióis a quantidade de milho, feijão, arroz, etc, para a alimentação da família e da criação de porcos, galinhas e ração dos animais de montaria.
     Tio Henrique morava, enquanto solteiro, conosco, isto é, sempre na companhia de papai que ele chamava de Tonico. Todo  Antônio (na intimidade) leva o apelido de Tonico. Mamãe Adalgiza Barcellos de Jesus era chamada pelo pré-nome mesmo de Adalgiza. Ela, mamãe, sempre tratava o tio Henrique com muita consideração e amizade. Ela levava em conta o seu companheirismo com papai. Mesmo porque eram dois irmãos que sobreviveram morando juntos, fazendo lavouras em sociedade.
      Tio Henrique que não se casou cedo ou no tempo próprio (ficando solteirão como se diz) tinha sempre umas economias reservadas. E na hora das aperturas financeiras era ele (tio Henrique) que socorria papai, emprestando-lhe dinheiro.
     O empreendimento da compra do sitiozinho acima citado, de quatro (4) e meio (1/2) alqueires no lugar denominado Farope no 4° Distrito do Município de Itaocara, foi adquirido com ajuda dos recursos financeiros do muito querido tio Henrique. Os dois irmãos Henrique e Antônio se davam muito. Mas quando havia qualquer atrito entre os dois, por qualquer motivo, mamãe era o anjo protetor, servia de anteparo para acalmar papai que tinha um gênio mais estourado ou mais irascível.

Jaguarembé: 4° Disitrito 
de Itaocara - nesta foto,
Jaguarembé de baixo. 

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Contarei tudo que puder - 6

                    
   Tio Henrique era bonachão, alegre, gostava de ir aos bailes e danças e brincar com as moças, sempre namorando-as sem assumir compromisso. Sempre tinha seu animal de estimação para montaria (cavalo ou burro) ou mula. Tinha suas boas roupas (da época e do uso do lugar).
      Não deixava de possuir sempre uma boa arma de fogo (revólver 38 "Smith & Wesson" -- a marca de sua confiança ou garrucha) de marca famosa. Não era crente filiado a nenhuma igreja. Era o filho comum de todo brasileiro que mesmo não praticando nenhuma religião se diz católico apostólico romano! Pois foi batizado pelos pais ou parentes responsáveis na igreja católica.  Passa a viver a vida sem doutrina, sem compromisso disciplinar e sempre se dizendo católico e cristão, sem contudo, infelizmente ser cristão no verdadeiro sentido. 
       Pois foi esse tio sempre amigo que sempre estava junto de meu pai a trabalhava na lavoura em sociedade com papai e viu nascer todos os filhos de papai e mamãe e era amigo de todos nós, seus sobrinhos.
      Mas depois de solteirão, já com os seus 40 (quarenta) ou mais anos se embelezou por uma moça muito mais nova do que ele, muito volúvel. Seu nome era Maria José Isabel. Filha de José Isabel, cujo apelido era Juca Isabel. Sua mãe era Nila Isabel. 
     Maria José, na intimidade Zezinha. Quando moça gostava de dançar baile, ir às festas populares da época, e não gozava de boa fama entre os nossos vizinhos da época.  Isso nos idos de 1928, 29 ou 30. O fato é que o querido tio Henrique, homem pacato, simples de boa fé foi, em certa ocasião, num baile onde a Zezinha se achava. Dançou com ela, enamorou-se com ela e acabou, mesmo muito avisado pelos amigos e vizinhos conhecidos dos costumes da moça volúvel e sem juízo, que era a Maria José (Zezinha), casando-se com ela nos idos de 1931 mais ou menos. 
    No princípio foi tudo bem. Lugar de gente pacata, simples, amiga. Povo da roça. Lugar denominado Farope, perto de Ibituna (o povo do lugar até hoje grafa e pronuncia Ipituna). Mas o IBGE que faz o mapa do Brasil na sua nomenclatura grafa Ibituna.
      Mas a família de Zezinha era grande. Tinha diversos irmãos. Com a crise da lavoura, com a grande seca que se deu por lá, a família Izabel veio toda para o Rio e passou a residir na Penha e na Estação de Olaria, numa rua que, na época, era chamada de Cascatinha.
     Isso se deu mais ou menos no ano 1931. Em 1932, com a crise e pressionado pela mulher Zezinha que queria viver perto do pai Juca Isabel, a mãe Nila e os irmãos (todos vieram para o Rio, o então Distrito Federal, e no subúrbio da Penha passaram quase todos a trabalhar no então Curtume Carioca, uma grande firma que trabalhava com peles de animais, transportando-as em couro para indústria de calçados, bolsas, pastas, etc).

Curtume Carioca,
em torno de 1950.

Contarei tudo que puder - 5

São Sebastião do Alto, RJ,
onde se situa Ipituna, 
atualmente seu 3° Distrito.

Episódio n° 1:
       Historiarei a minha vinda para o Rio de Janeiro, o então Distrito Federal  -- a Capital da República desde os tempos do Império. 
      Entretanto, será muito interessante contar como me tornei crente em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. 
      Estava começando a juntar uma letra de forma com a outra para formar a palavra no pequeno sítio da família, no lugar chamado Farope. À semelhança das cidades que são divididas em bairros, no interior, nas zonas rurais os lugarejos são divididos e recebem os mais diversos nomes.
     Papai ao casar-se, deixou de trabalhar na fazenda do tio Manuel Inácio e foi trabalhar por conta própria na companhia de um irmão, chamado Henrique. Tio Henrique era muito amigo de todos os meus irmãos.  Papai Antônio Gonçalves de Oliveira casou-se com Adalgiza Barcellos de Jesus. 
     Papai havia trabalhado na fazenda do tio Manuel Inácio, onde fazia de tudo na lavoura. Inclusive aprendeu também algo da pecuária. 
    Ao casar-se com a mamãe resolveu deixar a fazenda do tio e ir trabalhar por conta própria. Isso aconteceu na fazenda chamada Boa Vista. Na companhia do tio Henrique arrendaram de um amigo seu (cujo nome não me ocorre no momento) e ficaram alguns anos criando gado e possuindo diversas vacas leiteiras.
     A fazenda Boa Vista só servia para criação de bezerros e gado em geral. As terras velhas e cansadas para a lavoura. Dessa maneira, ambos os irmãos, que tinham experiência com lavoura no Município de Santa Maria Madalena, resolveram mudar-se para o Município de Itaocara. Quando se mudaram para o outro lugar denominado Ibituna (o povo local o chama de Ipituna, mas nos mapas do IBGE a nomenclatura do referido lugar do Estado do Rio é chamado de Ibituna).
     Tal fato ocorreu nos idos de 1924, eu era menino de 5 (cinco) anos, pois eu sou de 21 de agosto de 1918 e a mudança da família logo no início daquele ano, mais ou menos no mês de janeiro ou fevereiro.
    Os dois irmãos: Antônio Gonçalves de Oliveira e Henrique Gonçalves de Oliveira estavam sempre juntos e unidos. Papai (Antônio, na intimidade Tonico) e o tio Henrique não se separavam. Papai casou-se com a prima Adalgiza Barcellos de Jesus, como já narrei atrás. Meu tio Henrique ficou solteirão. Sempre morando com o mano Tonico e fazendo lavoura de milho, feijão e fumo associado com papai.

Pedra de Manoel de Moraes, em Sta Maria Madalena, às margens do Rio Imbé.

Veja outras histórias sobre ela:


quarta-feira, 6 de maio de 2020

Que milagre se espera?

                                

      6 de maio: níver na pandemia. 
     Todos esperamos, um dia, contar a netos, quem sabe bisnetos: "Sobrevivemos àquela pandemia".
     Não posso deixar em branco comemorar 63 em meio a ela. Neste texto, vou abordar vocação pastoral e pandemia, com uma ligeira discussão sobre conversão e pandemia.
    Três modelos de vocação aparecem nos três profetas (chamados) maiores: Isaías, 700 a. C., Jeremias e Ezequiel, contemporâneos, por volta de 600 a. C.
     Em Jeremias o chamado desde o ventre. Pode até não ser o meu caso, mas esteve perto. Seis anos incompletos, ao lado de Dorcas (sempre), ouvi, 1963, Ivan Espíndola de Ávila na Congregacional de Nilópolis. 
     Ao final, ele deu aos dois que foram à frente, eu e um outro rapaz, o "Diploma de convertido". Assinei com garranchos e li "Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida". Preocupou-me assinar isso.
    Lembro que consultei, em separado, pai e mãe para saber se dava para manter a palavra. Descansaram-me com suas recomendações e argumentação. 
    De Ezequiel, lembro a recomendação de comer o livro. Desde muito cedo, ainda em Cascadura, de onde saímos em 1967, Cid, meu pai, contava histórias bíblicas. 
    E me mandava conferir no Livro. Acostumei-me a fazer. Primeiro, li as narrativas do AT. Na adolescência, descobri a argumentação de Paulo em suas cartas e a descrição de Jesus nos evangelhos. Os poéticos comecei pelos Salmos, é claro, e por Provérbios.
    Mais tarde, o desafio de ler os profetas maiores. Daniel, pela parte narrativa, já me havia atraído. Mas avancei também em seu apocalipse. Logo, então, quis ler o de João. E me perguntei por que os profetas  (chamados) menores eram tão pouco mencionados. 
      Devorei-os também. Período fértil de leitura e releitura da Bíblia na adolescência e transição para a juventude. Lastro para o ministério que, como Isaías, disse para mim mesmo: "Não é para mim". Relutância foi minha marca. 
      Desde os corredores da PUC/RJ, em 1977, quando tive certeza de que nunca seria engenheiro elétrico, até 1978, quando preenchi o formulário no Seminário dizendo ser "teólogo diletante", vocacionado jamais, e daí para o final de 1982, quando decidi ajudar na Congregação de Curicica, mas somente até encontrar o navio para Tarsis. 
        Em 2 de janeiro de 1983 fui ordenando e, em 2 de janeiro de 1993, fui casado. Lá se vão três IECCs: Igrejas Evangélicas Congregacionais de Curicica, Cascadura e Copacabana. Desde então, 1994-1995, no Acre até hoje: 25 anos fora do domicílio, mas na terra prometida.
     Sobre pandemia, qual seria, diante dela, a postura de Jesus? Há uma diferença entre seu ministério terreno e a condição atual, no que se referem a curas e milagres.
      No NT, iam atrás de Jesus ou o desejavam passando perto, como o cego Bartimeu, ao alcance da voz. Fosse um toque tímido, como a mulher do fluxo, ou um desafio desabrido, como com a mulher sírio-fenícia.
     Mas agora Jesus vem ao encontro: "Eis que estou convosco todos os dias". Ele vem ao encontro. Ele está conosco. Como Jesus sente e reage a uma pandemia? Três coisas a aprender.
     1. Não precisa ser avisado dela. Certa vez, os discípulos chamaram sua atenção para o Templo de Jerusalém, em sua suntuosidade. Foram advertidos, quanto ao futuro, de que nada daquilo perduraria.
     Jesus sabe mais da pandemia de que nós. Pode ser uma mazela que mais assusta, mas não é a pior delas: há outras que produzem ainda mais mortes, que não são por causas naturais. 
      2. Tem poder para fazê-la cessar. Jesus andou por toda a parte, ensinando, curando enfermos e oprimidos do diabo. Impossível que não se sensibilize com as estatísticas. 
      Embora suas curas não fossem nem a granel e nem à projeção de mídia, mas pontuais e selecionadas, reconhece que o mundo todo se ressente da modalidade de cadáveres em fila, sepultamentos a distância, em valas comuns, e isolamento social.        
     3. Não se mede pelo vírus. Sim, porque outras mazelas humanas vêm matando tanto ou mais que o corona. E a humanidade nada faz ou não se mobiliza para fazer cessar.
        Jesus se apresenta para escolha. Pelo menos três opções. Aceitar, para deixar de ser canalha, rejeitá-lo ou pode-se até sugerir hipocrisia de bom moço: aceitação falsa, demagógica e hipócrita.
       Não se ponha a culpa do vírus em Jesus. Não se ponha em Jesus a culpa pela não resolução das mazelas pré ou pós vírus .
       Foi ele mesmo que disse "contudo, não quereis vir a mim para terdes vida". O vírus não te deixa opção. O vírus te aceita. O vírus deixa a humanidade sem escolha.
          Já com relação à Jesus, apresenta-se ou é apresentado como escolha. Só que voluntária. Irrisório para alguns. Para a maioria, eu diria. Eu disse que aceitei em 14 de abril de 1963. Veja data e assinatura acima. 57 anos, desta pandemia até lá.
    Jesus é testemunha de que sempre estivemos à espera de milagres de conveniência, que sempre foram usados como argumento de que Jesus provasse sua intenção ou provasse ser Jesus.
   Que tipo de milagre se espera? A conversão do vírus ou a conversão do ser humano?
         O ser humano, que diz que não precisa de religião para resolver seus problemas. Não precisa mesmo. Com elas ou sem elas, as mazelas (não esqueci das minhas) da humanidade não se resolveram.
     Aceitando-se ou não, o vírus está aí. Quem sabe, seja mesmo mais real do que Jesus.  A opção continua sendo sua. Mas ao vírus, não precisa se converter: de modo inconsciente, mas natural, ele já se converteu a toda humanidade.
       Mas não a tornará melhor. Eu ainda acho que essa opção de melhorar a condição humana está mais para Jesus do que para o vírus. A opção continua sendo sua.