Eu, por exemplo, já passei por 62 viradas de ano. Evidentemente, das primeiras delas não me lembro. Aliás, as tantas outras também não anotei uma a uma.
Se eu me debruçar agora, serão detalhes e retalhos. Se bem que, ainda me lembro deste traço da infância, com retalhos bem se faz uma colcha.
Mas não quero abordar aqui pedaços de lembranças. Mas sobre o que é igual e diferente nas viradas de ano. Inegável que são momentos emocionantes.
E tirante os excessos, a alegria contagiante é franca e plenamente legítima. Jesus, um natural e espontâneo festeiro, fico imaginando, que dificuldade teria para ajustar sua agenda nesses dias.
O ser humano tem essa profunda necessidade de marcar essas datas com festa, símbolo que são de renovação em suas vidas. Confraternização, gastronomia, música, os fogos de artifício.
Mas o que e de que modo, verdadeiramente, vai se renovar? Nós evangélicos costumamos reivindicar uma certa capacidade, à frente dos demais mortais, de perceber e valorizar determinados aspectos da existência.
Por exemplo eu, desde pequeno nessa crença, ouvi muitas vezes: "só o crente sabe o que é verdadeira felicidade"; "só o crente sabe o que é verdadeira liberdade, diferente de libertinagem"; "o crente não tem vício: não bebe, não fuma, não transa com a mulher do vizinho" etc.
Como se o evangelho, conforme a Bíblia o apresenta e como devesse ser entendido se resumisse nesse ser ou não ser desses modos de ser acima, entre outros de natureza semelhante ou mesmo método de conduta. Há quem proceda assim, autointitulando-se ateu.
Por isso especificamente nesta virada de ano, nesse começo da segunda década do século XXI chega-se a um impasse: despersonalização do que significa "ser crente", tremendo aumento dos "desigrejados", um vexame da marca "evangélico" na mídia média e um grupo de "heróis da resistência" tentando manter a identidade dessa coisa toda dentro das igrejas em crise.
Feliz Ano Velho, diz um livro do filho do engenheiro civil e político Rubens Paiva, Marcelo Rubens Paiva. Depois, largando este texto, pesquise sobre a vida dos dois, fundamentalmente lendo esse livro. Aqui desejo usar o seu título, apenas.
Se Deus existe e você que lê este texto acredita nisso, precisa dar voz a Ele. Porque se Deus existe e é mudo, sem, ao menos, falar Libras, Deus de nada adianta. Mas, se Deus fala, Deus renova. "Farei novas todas as coisas", disse Isaías, um profeta, em nome dEle.
Mas como saber que Ele fala? Qual a voz que, sem equívocos, é a Sua? Será a voz das religiões? Talvez. Já foram razão de guerras, genocídios, perseguições, discriminações, fanatismos, fundamentalismos, enfim. Religiosos, mais ainda, "autoridades religiosas", adiantaram-se nas acusações a Jesus e depois não admitiram tê-lo matado.
Deus fala pela Bíblia? Também já foi mal usada, quando imposta ou mesmo rejeitada sem motivos. Não é livro nem cristão e nem judeu, embora dela, a pretexto, a humanidade tenha inventado tanto o cristianismo quanto o judaísmo.
A humanidade é prodigiosa em inventar religiões. Será que Deus fala pela natureza? Vamos ouvir nela Sua voz ou vamos seguir a ideia "científica" do acaso? A sopa oceânica primordial, em constante mutação, atingida por fenômenos meteorológicos, provocou o surgimento ocasional da primeira molécula.
Como dizia Ariano Suassuna, um dia, a molécula disse: "Vou virar célula". Afinal, como localizar a voz de Deus? Será que ele fala no íntimo? Você só pode negar a fé de uma só pessoa: a sua própria. Pode até formar a mesma parceria com outros que não creem.
A fé do ateu também é fé. Diferente da outra. Os que creem que Deus existe, também têm seus parceiros de fé. São duas igrejas, com doutrinas diferentes: aquelas dos que têm fé em Deus e a dos que têm fé em não Deus. Cada qual com seus argumentos. Ateísmo, mais um -ismo, não escapa de ser mais uma religião.
Se Deus existe, para Ele, tudo verdadeiramente, renova-se. Acima, o grupo de "heróis da resistência", ainda dentro das igrejas em crise, creem nesse tipo de Deus. Jesus, certa vez, perguntou-se se, em seu retorno à terra, encontraria, ainda, fé (aqui, a dos que creem no Deus).
Quem sabe, quem sabe...
Deus renova. Ele não precisa de ser renovado. Nós é que precisamos. Caminhamos para a morte. Mais dia, menos dia. Mais ano, menos ano. Eu sinceramente espero que, daqui a um ano, 1° de janeiro de 2021, eu esteja podendo escrever no meu novo modelo de smarth e você esteja aqui lendo.
Comecei este ano desejando renovar-me. Não preciso renovar Deus. Ele se renova por Si mesmo. Sua imutabilidade não significa que seja avesso ao novo. Mas busque ouvir sua voz. Para não inventar "Deus". Para não inventar outra religião. Ora, escolha uma dessas que estão por aí.
Mas cuidado para não fanatizar-se, saindo por aí, falando "em nome de Deus", sem nunca tendo-O ouvido. Mas, onde está mesmo a voz de Deus?
Nenhum comentário:
Postar um comentário