A epístola de Judas, penúltimo livrinho do Novo Testamento, colado ao famoso Apocalipse, em função de sua linguagem, é "prato feito" para polêmica.
Isso porque costuma-se acusar Deus, principalmente por causa do Antigo Testamento, como tipicamente iracundo. E a temática do livrinho detalha aspectos dessa ira.
Judas cita (1) minorias, (2) cidades e (3) anjos contra quem o próprio Deus se manifesta. São elas Sodoma e Gomorra, são eles os revoltosos contra Moisés no deserto e anjos são os que, cita o autor, "abandonaram domicílio e estado original".
Polemistas de plantão folgam em acusar a linguagem do livro absolutamente descontextualizada do tempo atual, assim como típico exemplo de como a Bíblia se apresenta disfuncional em sua pseudo retórica.
Vamos tirar Deus de cena. Assim, satisfazemos logo quem divulga que Ele nem existe. Saindo fora, Sua ira seria, então, lenda pura e não, como dizem, desvio de personalidade.
Agora vejamos se (1) destruir cidades, (2) eliminar minorias e (3) pôr a culpa da maldade em anjos maus se isso não é tipicamente humano.
A segunda Grande Guerra, 1939-1945, inaugurou destruição sistemática de cidades, à esquerda e à direita. Culminou com Hiroshima e Nagasaki, primeiras bombas atômicas detonadas, ironicamente, por uma "nação cristã".
Destruição sistemática de cidades é coisa de homens. Não culpem Deus por isso.
No mesmo teatro, minorias foram perseguidas e quase que totalmente eliminadas: ciganos, homossexuais e minorias étnicas. E nem foi algo inédito na história.
Discriminação, perseguição e eliminação de minorias ou grupos não é prática divina: é rotina histórica tipicamente humana.
Resta discutir a prisão de anjos que aguardam o "juízo final", comentada por Judas e o juízo de Deus contra eles.
Aqui, sim, é matéria tipicamente bíblica. O Livro conta a história dos anjos: ministros de Deus, com corpo imaterial, nome e personalidade própria que, esporadicamente, manifestam-se aos homens.
Da mesma forma que nós, que temos corpo material, nome e personalidade própria, anjos também escolhem ser maus ou bons. E não têm sobre quem jogar a responsabilidade de sua escolha.
Cessa a polêmica. Destruir cidades, perseguir minorias e culpar demônios pela maldade própria não tem nada a ver com Deus.
A linguagem de Judas se atualiza, se invertemos a ênfase e indicamos como maldade tipicamente humana o que polemistas desavisados apontam como ira de Deus, vício divino de Sua personalidade.
Trazendo Deus de volta à cena, para os que creem nEle, trata-se de uma postura típica de Quem se envolve com a condição humana, a ponto de se ter feito homem em Cristo.
Trata-se da reposta daquele que, segundo o Salmo 23, "guia pelas veredas da justiça, por amor do seu nome".
Nenhum comentário:
Postar um comentário