Os que choram
Bem-aventurado os que choram? Mas que choro? Qualquer choro? Qualquer um? Basta chorar? E quem avalia o tipo de choro? Quem chora ou quem assiste?
Há variados tipos de choro. Por ódio, por exemplo: não viu completada no outro a vingança que queria. Por amor, que seja. Choro por raiva. Choro por alegria. Choro por razões justificáveis e outras injustificáveis.
Linhas depois desta, há outra bemaventurança: bem-aventurando os que tem fome e sede de justiça. Está aí uma boa razão de choro: chorar de fome, de sede ou fome e sede de justiça.
Mas não deve ser literal, porque se for chorar por essa razão aí, que seja o mínimo de lucidez, olhando à volta, não se vai parar de chorar. Neste caso, alguma alienação se torna necessária.
Chorar pelo que é meu. Esaú chorou quando entendeu o que foi jogar fora seu "direito de primogenitura" que, para ele, era burocrático e desprezível e, para Deus, pleno de sentido.
Jonas deve ter chorado, por dentro e sem lágrimas, de não ver Nínive, como uma Pompeia dos tempos romanos, ter sido subvertida e submergida como Sodoma e Gomorra.
Jesus chorou, mesmo sabendo que estava para ressuscitar Lázaro e trazer de volta a alegria àquela família e, aos adversários, a gana de morte contra ele próprio.
Alguma sensibilidade e alguma lucidez serão necessárias a quem chora. E alguma atitude, também. Talvez choro insite oração e ação. As bem-aventuranças acontecem juntas na vida de quem enxerga e já entrou no Reino de Deus.
Talvez chorar, do jeito certo, seja sintoma de parecença com Deus.
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