terça-feira, 28 de abril de 2015


   Por esta causa II

         Voltando ao texto da Bíblia. Aliás, voltando ao mesmo texto da Bíblia. Alguém diria, poxa, de novo? Sim, a vida é feita de voltar ao texto da Bíblia, ainda que seja o mesmo texto. Melhor ou lamentavelmente dizendo, a vida deveria ser feita de voltar, continuamente, ao texto bíblico. Trata-se de um livro referencial, ao qual chamamos "Palavra de Deus". Para nós, se Deus fala, fala por meio desse Livro. Daí essa necessidade diária, de voltar, de novo, ao Livro.

         Paulo, nessa oração, escrita no texto de sua carta aos Efésios, justifica por que a faz. Costumo tentar entender o efeito didático dessa oração de Paulo. Porque ela está aí, há, pelo menos, quase 20 séculos. Feita, pronta, então, o que ela deseja ressaltar? Eu costumo me deter nesse ponto de partida, "Por esta causa", exatamente porque é o ponto de partida e chama a atenção para o conteúdo da oração.

         Aí, eu volto no texto, linhas atrás, tentando localizar ao que Paulo se refere, exatamente quando diz "causa". Saio à procura da causa. E aí, aleatoriamente, neste texto, eu pretendo destacar o que seriam três causas. Talvez seja uma só, a causa, mas eu desejo desdobrá-la em três causas ou em três modos de atinar com essa causa fundamental.

          Primeiro, Paulo diz que, de um modo especial, ele atribui a uma revelação específica, a um privilégio seu, ter recebido de Deus a indicação de que se tratava de uma "dispensação" especial, com origem na graça de Deus, confiada a ele, mas a ser distribuída a todos. Seria essa revelação um "mistério" ou o "mistério de Cristo".

             E creio que, se aqui, falei três causas, ou da reunião de três tópicos de uma mesma causa, a primeira é que Paulo afirma que Jesus termina com todas as barreiras e reúne, em si, todos e quaisquer homens, mulheres, raças, enfim, como o próprio Paulo disse aos Gálatas, para Deus, "não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos (vós) sois um em Cristo Jesus."

              Texto de Efésios, Cristo derrubou a parede de separação que estava no meio, a inimizade. Texto de Gálatas, quem reconstrói essa parede de separação, edificando aquilo que (Cristo) destruiu, a si mesmo se constitui transgressor. Essa é a primeira, na economia deste meu texto, afirmação que desejo ressaltar, nessa fala de Paulo, nesse trecho da carta aos Efésios: Jesus derrubou toda e qualquer parede de separação entre homens, não importa de que categoria ou em que categoria (não interessa mesmo) sejam classificados.
           
                Segundo ponto, esse ato de Deus, em Cristo, transparece, faz aparecer aos homens a multiforme sabedoria de Deus. Isto é, a assembleia, a eclésia, a igreja, a comunhão de pessoas que desse ato de Deus resulta, essa comunidade sem fronteiras indica, permanentemente, a homens e até a anjos, a multiforme sabedoria de Deus. E falar "multiforme sabedoria", em certo sentido, é pouco. É necessário (e urgente) definir do que se trata. Mas, para economia, de novo, destas linhas, basta dizer, procure maiores informações no conteúdo da mensagem do evangelho.

                 E, em terceiro, Paulo aponta para uma expressão ou limites aonde chegar, quando se trata de alcançar compreensão a respeito dessa ação de Deus ou aonde Ele pretende chegar com Seus, digamos assim, propósitos. Ele diz, em sua oração, que pretende, entre aqueles que foram alcançados pelo que ele chama (essa) "graça de Deus", que cheguem aos limites da largura, comprimento altura e profundidade, diz o apóstolo, sem esclarecer quais são. Não é tão exato como pretendemos que seja alguém, ao certo, quando fala de medidas.

               Somente conclui dizendo que se deve conhecer o amor de Cristo que, segundo ele, "excede todo o entendimento"  e arremata que isso é para que "sejais tomados de toda a plenitude de Deus". Aliás, arremata, não, porque faz a ressalva de que pode haver algo a mais, porque Deus é "poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos". Acho que aqui ele disse isso, no caso de avaliar sua oração como nem tão exata assim, com alguns pontos em que Deus poderia, ainda, completar.

               Resumindo, uma oração em que a causa é a obra que Deus realiza entre os homens, derrubando todas as barreiras entre Ele mesmo, Deus, e o homem, assim como as barreiras entre os homens, formando uma comunidade na qual Ele, Deus, pretende que alcancem, sem limites, medidas do amor de Cristo que, de si mesmo, excede todo o entendimento e que, ao final, sejamos todos tomados, vejam bem o termo, tomados de toda a Sua plenitude, da plenitude de Deus.

                Creio que, sem cerimônia nenhuma, estamos diante do despojamento de Deus. E de Sua bem sucedida tentativa de realizar comunhão com o homem. 

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