terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

 Algumas versões traduzem “Beemote” como hipopótamo ou elefante, mas o animal aí referido não possui características nem de hipopótamo nem de elefante. A descrição bíblica indica que o animal possuía uma cauda grande e potente, pois é comparada com o cedro – árvore alta, forte e resistente. Ora, hipopótamos ou elefantes não possuem uma cauda como esta, descrita no v. 17. A declaração é que tal animal se alimentava em lugares altos, diferente do hipopótamo e do elefante. Juntamente com o v. 23 concluímos que se trata de um animal muito grande e pesado, pois não se alarmava com enchentes, mesmo de um rio como o Jordão, com um considerável volume de águas.

Além disso, o hipopótamo não é encontrado na região geográfica que descreve esse acontecimento bíblico. As particularidades deste animal apresentadas nesses versos são as de um dinossauro herbívoro, provavelmente um braquiossauro, que media aproximadamente 25 metros de comprimento, 15 metros de altura e pesava cerca de 90 toneladas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 Disse Josué ao povo: Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós". Josué 3:5


"Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto.
Procederam corruptamente contra ele, já não são seus filhos, e sim suas manchas; é geração perversa e deformada". Dt 32:4,5

     Santidade e o agir Deus.

1. Nosso primeiro equívoco é imaginar que são nossas ações que desencadeiam o agir de Deus. Mas é o contrário: o agir de Deus que desencadeia em nós (ou não) o que é justo.

      Caim e Abel são exemplo da diferença entre ser, diante de Deus, santo ou não.

"Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante". Gn 4:3-5

- Qual foi o agir de Deus em direção à proposta de santidade na vida de Caim (Abel tinha o que faltava ao irmão):

"Então, lhe disse o Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante?
Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo".
Gênesis 4:6,7

1. A santidade começa na conversão: esta começa no arrependimento:
"Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte". 2 Coríntios 7:10

Primeira lição a aprender: não é o nosso agir que desencadeia o agir de Deus, mas nos afastarmos do pecado para nos consagrarmos a Deus que permite a Ele usar-nos.

2. Nosso segundo equívoco é supor que maravilhas são feitos de Deus que se distinguem de quaisquer outros, pois todos os feitos de Deus são maravilhas.

"Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade,
e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais,
pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado.
Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo!
Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia
e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados,
e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel".
Hebreus 12:18-24

"Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o Senhor. Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto;
depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave.
Ouvindo-o Elias, envolveu o rosto no seu manto e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. Eis que lhe veio uma voz e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?".

1 Reis 19:11-13

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Carta 1995

               

 Prezado Rev. Cid Mauro Araújo de Oliveira:

   ___ É para mim um prazer escrever-lhe e o faço com grande alegria. Sempre o admirei profundamente. Peço-lhe permissão para citar alguns pensamentos... "uma viva inteligência de nada serve se não estiver a serviço de um caráter justo, um relógio não é perfeito quando trabalha rápido, e, sim, quando trabalha certo" --- Uma fábula oriental dava conta de um espelho que permanecia claro quando os bons se miravam nele e se embaciava quando os impuros o fitavam. Assim, podia o dono dele conhecer o caráter dos que dos que o utilizavam ---- Sem dignidade de caráter é impossível fazer-se caminho no mundo. ___ Quando de perde a riqueza, nada se perde; quando se perde a saúde, perde-se alguma coisa; mas quando se perde o caráter, perde-se tudo!" ___Quando o homem escuta, Deus fala. Quando Deus fala, os homens são transformados, o caráter das Nações é modificado. ____ Rev. Cid Mauro, citei estes pensamentos como uma homenagem ao seu caráter. Você herdou de seus pais um caráter adamantino. Sempre o admirei profundamente, pela tenacidade nos estudos, fez um grabde 2o grau na Escola Técnica Federal, um grande Curso de Bacharel em Teologia, Licenciado em Português-Hebraico, pela UERJ --- Mestre em Teolgia pela Pontifícia Universidade Católica. Foi professor de Hebraico em vários Seminários ---- além de outras atividades. E por grande capricho deixou para constituir a sua família, ainda jovem, mas com a idade bem madura, tudo para poder fazer cursos especiais na vida. --- Fez um excelente casamento. Já é pai de um lindo menino que vai alegrá-lo de uma maneira profunda (Isac). É casado com Regina Célia moça de valor, a gente nota, só em entrar em contato com ela, moça segundo o Coração de Deus. Você é um homem segundo o Coração de Deus casado com uma moça com as mesmas qualidades. Deus há de abençoá-los profundamente. Quero parabenizá-lo pela estada de seus pais em sua casa, respectivamente: Dorcas Lima Araujo de Oliveira e Pastor Cid Gonçalves de Oliveira, sendo que ele comemorou no dia 21 de agosto 77 anos de preciosa existência. Tive o oportunidade de orar por ele. Tenho uma dívida impagável para com ele, só  a eternidade poderá pagá-la. Ele sempre foi um homem especial. Toda a família Gonçalves e Barcelos o admiram pelo seu carinho e gentileza. Quero augurar-lhe muitos anos de vida.
     Rev. Cid Mauro que Deus o abençoe abundantemente. São os votos de Nair de Jesus Barcelos e de Isaías Barcelos de Oliveira e toda a família. Que Deus faça de você um instrumento poderoso de Sua paz.
     
     São os votos de:
Isaías Barcelos de Oliveira e
Nair de Jesus Barcelos. 



sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Jornada Teológica de Ano Novo - 5 - Final - Redução ao absurdo

    Em relação às Escrituras podemos fazer um arco de sentido único, a respeito da personalidade e ação do Deus, desse modo, hipotético, que a percorre do seu início ao fim. Ainda que se queira supor que se trata de um arranjo, há um distintivo na Bíblia que, ou a garante como verdadeira, ou a estigmatiza como um dos mais absurdos livros ou coleção deles. 

     Porque as Escrituras vão afirmar, uma vez que se conjugam Antigo Testamento, este equivalente à Tanach hebraica, livro-texto do judaísmo, com o Novo Testamento, parte cristã dessa reunião de tradições escritas, o Deus do Antigo Testamento se faz homem, encarnado no homem Jesus que, uma vez tendo sido morto, ressuscita de entre os mortos.

      Portanto, na encruzilhada dessas duas tradições, a tradição judaico-cristã, como são usualmente chamadas, se existe um Deus, este se revela no Antigo Testamento, escolhe um povo para se tornar conhecido a ele e por meio dele e, ao final, na história do Novo Testamento, esse Deus, ao se tornar homem, realiza a salvação, assim chamada, por representar o resgate do ser humano de sua condição de corrupção pecaminosa e mortal.

     Se existe um Deus, fez-se homem para assumir a minha culpa, reconciliar-me, quer dizer, unir-me a Ele em comunhão, por meio de Jesus. Se eu tenho pecado, que todos temos, o batismo, quer dizer, a união a Cristo e em Cristo me faz morrer e ressuscitar em Cristo, o que significa herdar uma nova vida, em condições de lutar contra o pecado interno e pesoal e vencê-lo. Essa salvação é eterna e garantida, já a partir desta vida, no ato da fé, sem retrocesso e caducidade.

     Esse é o ponto central das Escrituras. É a partir dele, ou seja, do centro para a periferia, para usar esse termo de expressão, que devem ser validadas. Sim, porque seu principal agente será o Deus criador que se lança ao resgate de sua principal, prioritária e amada criatura, não exitando em se fazer homem para, de uma vez por todas, tornar efetivo e possível esse resgate.  

      Esse, termo que, usualmente, empregava meu pai, é o "pano de fundo" das Escrituras. Qualquer e todas as demais histórias orbitam em torno dessa narrativa central, desse percurso que, por via do cristianismo, no Novo Testamento, ainda instiga a imaginação do leitor quando supõe que, para conseguir seu fim, sua principal finalidade, Deus fez-Se a Si mesmo homem, pois não haveria como superar as imperfeições humanas, a não ser por esse meio.  

      Assim como não haveria outra opção para que o homem Jesus assumisse em si mesmo as imperfeições humanas, já que não as possui, e pudesse purgar em si o pecado (termo técnico síntese de toda a maldade instalada no ser humano), basta que haja uma opção sincera e voluntária em aceitar e acolher esse ato propiciatório, quer dizer, em lugar, expiação e esgotamento da dívida humana para com Deus. 

  E o Novo Testamento ainda vai apresentar uma terceira Pessoa, a quem Jesus introduz na história da salvação de que falam as Escrituras, indicando que a obra que Ele realizou, embora suficiente, única, perfeita e definitiva, está fora do ser humano. Para que seja, voluntariamente para quem opta, aplicada ao que crer, somente pela ação, no(a) crente, do Espírito Santo. Quem crê é, pelo Espírito, batizado em Jesus, ou seja, unido a Jesus, de modo que a trajetória de Jesus seja a de cada um que crer.

     Assim como Jesus é, para Deus, assim se torna o que crê e, por sua fé, é batizado em Jesus. Como Jesus é para Deus, assim o que crer se torna, do mesmo modo. Com a garantia do Espírito Santo, chamado "selo para resgate da propriedade de Deus", que são todos os que creem, tendo em si habitando esse mesmo Espírito, porque, no Novo Testamento está confirmado que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. 

      Esse o Deus, essa a história das Escrituras. Na matemática existe uma modalidade de demonstração de teoremas denominada "redução ao absurdo". Existe exatamente para demonstrar uma modalidade de teorema que se revela impossível de demonstrar. A solução será demonstrar que o seu inverso é verdadeiro. Então, definitivamente, por indução e dedução, o outro estará comprovado. Para afirmar o Deus das Escrituras e, concomitantemente, as próprias Escrituras, basta provar o seu inverso, anulando sua história, no que tem de essencial. Estará terminado. Simples assim.

      

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Jornada Teológica de Ano Novo - 4 - Um Deus e seus planos?

      É radical e de uma vez por todas. Se a opção for por admitir que as Escrituras apresentam um Deus, que nela é único, e que se comunica com o ser humano, elas próprias são a primeira fonte de comunicação desse e com esse Deus. 

    Pelo modo como nela está expressa a história da revelação de um Deus, seriam as Escrituras fraude sistematicamente organizada, na concepção e autoria dos seus textos? Ou ainda uma reunião de lendas, literatura piegas ou construções mitológicas sobre a saga de um povo?

     Nosso objetivo não é discutir texto a texto, ou discorrer sobre o modo específico como tratam do Deus, de que modo a literatura nela exarada reflete sua cultura e época, porque isso já está exaustivamente feito. Mas, em linhas gerais, supor que a ideia sobre um Deus ali descrito fosse tal que se sobressaísse a qualquer outra, por outros meios, exposta. 

     E assim, de uma vez por todas, estaria definido se vale a pena considerar Deus esse das Escrituras ou negá-lo e, consequentemente, negá-las, e assim definir se vale a pena procurar outro ou achar Deus fora das Escrituras. Eventualmente, poderemos considerar que elas dão alguma pista sobre Deus, que seria, em alguma proporção, Aquele que aparece, em esboço, em suas páginas. 

     Então vamos, mais uma vez, anotado que será em linhas gerais, ao perfil do Deus delineado em suas páginas, quer dizer, nas páginas das Escrituras. Elas o indicam como criador, iniciando com uma descrição como tudo foi, por etapas, feito. Para logo indicar a relação pessoal desse Deus com o homem/mulher, segundo elas dizem, criados à Sua imagem e semelhança. 

    Mas para que essa "imagem e semelhança", por motivos óbvios, não seja indicada como um rascunho, devido ao vexame, para um Deus, que representaria a performance da condição humana, as Escrituras indicam logo a razão da distorção e incoerência verificada, descrevendo o modo como homem/mulher contradisseram sua origem.

     Homem/mulher, criados para viver num paraíso, o que combina, segundo as Escrituras, com o perfil do Deus nela descrito, resolvem contradizer Deus, desconhecendo-O como parceiro de suas próprias condutas. Portanto, são expulsos para o que se chama Terra, ainda que esta fosse criada, anteriormente, com essa ideia de ser um jardim paradisíaco. Pois o planeta se tornará, agora, à imagem e semelhança dos seres criados, sem nenhuma depreciação para eles, visto mesmo que, quer exista ou não exista um Deus, o planeta não deixa de ser à imagem e semelhança desses seres que nele habitam.

     Pulando por cima de duas histórias, a primeira indicando que, ao invés de seguir a sugestão do Criador, para que se espalhassem e ocupassem com inteligência o solo, resolveram amontoar-se no que inventaram e passaram a chamar "cidade", com torre e tudo. E a segunda, na qual Deus quase que se desconhece, porque notou duas coisas: 1. A maldade do homem/mulher aumentava, quer dizer, multiplicava-se na terra (ou Terra?); 2. E que isso era sem cura, quer dizer, era continuamente mal o principal desígnio do coração de homens/mulheres. 

     O que essas duas histórias apresentam em comum, segundo ilustram essas partes das Escrituras, é a disposição de não estar nem aí para o Criador, em Suas sugestões. Inventam o que hoje se chama cidade e definem fronteiras e brigam entre si, por nada, e, em termos de refinamento de maldade, esta só aumenta e continua aumentando, com ou sem motivo, se é que, para ser mal, seja necessário um motivo, essas histórias, com ou sem existência de um Deus, são um retrato da humanidade. 

     Respectivamente chamadas, essas duas narrativas, de Torre de Babel, palavra esta que significa "confusão", sendo a outra denominada de história do dilúvio, a narrativa seguinte vai apresentar um homem a quem Deus escolhe e separa, revelando a ele um plano de constituir um povo entre todos os outros povos, para que, ao final, possa reunir, de novo, junto com Ele e para Ele, toda essa turma, quer dizer, todos os povos como um só, os quais 1. espalharam-se pela terra (ou Terra) toda e 2. decidiram ser maus, multiplicado e continuamente, e maus cada vez mais. 

    Esse é o começo da história, em linhas gerais, das Escrituras.  Convenhamos: ainda que nesse comecinho, existindo ou não, já dá para simpatizar com um Deus desse, disposto a consertar com parceira o rascunho em que o pessoal transformou a coisa toda e ainda pretende reunir com Ele todo mundo junto, de novo.
      

sábado, 9 de janeiro de 2021

Jornada Teológica de Ano Novo - 3 - Um Deus nas Escrituras

     Duas advertências neste terceiro texto desta singela, porém, repetimos, pretensiosa série. A primeira é para dizer que não vamos adentrar numa discussão exaustiva e de grande envergadura sobre a existência de Deus. 

     Porque nos falta competência para isso, por um lado e, por outro, essa discussão já deu "pano para manga" e, na maioria das vezes, revela-se estéril, eu diria até, contraditoriamente falando, incompatível com a fé. 

     Pois a simplicidade, finalidade e profundidade da fé não se presta a essa discussão. O próprio Paulo Apóstolo afirma que "a fé não pergunta", por mais, repito, contraditório que pareça. Porque supondo-se que Deus exista, a relação com ele é por meio da fé. 

     Portanto, a fé não pergunta pela existência de Deus. Ela pressupõe a existência de Deus. Aí, sim, faz muitas perguntas. As perguntas que a fé propõe são de natureza diversa da suposição pela existência de Deus. Porque a fé já pressupõe a existência de Deus. 

     A segunda advertência diz respeito ao que foi abordado no final do texto anterior. Não vamos aqui discutir o método científico e nem sua relação com a fé. É necessário compreender correta e individualmente cada um deles. 

      Muitas vezes a ciência depura a fé, mas não a define. Outras vezes, a ciência não vai ter ferramentas de como explicar algo que a fé, de modo natural, admite. Portanto, não vamos aqui discutir a relação entre fé e ciência, embora certas afirmações aqui feitas possam esbarrar na necessidade de definir, com precisão, o campo específico de uma e da outra.

    Vamos começar afirmando que a Bíblia, evidentemente, pressupõe a existência de Deus e se autoapresenta como uma primeira comunicação dele. Para citar um de seus autores, mais exatamente anônimo, na assim chamada carta aos Hebreus, diz que "Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras".

    A primeira frase das Escrituras, "No princípio, Deus criou os céus e a terra", aciona, a um só tempo, fé, ciência e comunicação: alguém, em nome de Deus, está fazendo essa afirmação.

     E o que a Escritura está afirmando, pelo menos neste texto, não contradiz a ciência que, de si mesma, não sabe tudo sobre tudo e, sobre o universo, com detalhes, como surgiu. Ela tem suposições, por meio de seus métodos, hipóteses e teorias, mas não tem todas as respostas.

    Então, para que não se torne estéril a discussão de onde supor a fronteira entre ciência e fé, é necessário partir do pressuposto de que cada qual trata de um objeto diferente de estudo. Cada qual com seu método: a ciência, se for o caso, perguntada ou se perguntando sobre Deus, embora não seja este um objeto específico dela para estudo, e a fé perguntando a Deus.

     Para o Deus apresentado nas Escrituras, esta se constitui numa primeira comunicação a Seu respeito. Quem, nas Escrituras, fala sobre Deus ou quando, nas Escriruras está escrito o que Deus fala, elas estão se constituindo numa comunicação de Deus ao ser humano.

     Nesta altura de nossa argumentação, faremos uma escolha, que será por optar, como já mencionados anteriormente, em verificar o modo como as Escriruras apresentam o Deus a Quem ela se refere e o modo como ela declara que ele se comunica. 

    Porque já existe nela pronta, de certa forma, sistematizada, por assim dizer, uma ideia sobre Deus. Aqui, em linhas gerais, vamos abordá-la para, então, decidir uma das seguintes opções:

1. O Deus das Escrituras, exaustivamente nela indicado, por suas variações textuais, indicadas as formas pelas quais se comunica com o ser humano é o único possível de ser crido como verdadeiramente existente;

2. Uma vez definido dar sua existência como provável, se vale ou não a pena procurar outro, em função de, por hipótese, da fraca evidência das Escrituras, e, por assim dizer, dar por encerrada a tarefa, até mesmo admitindo que, por uma "redução ao absurdo", as próprias Escrituras, por sua incapacidade ou imprecisão em conceder uma diretiva precisa a respeito da existência de Deus e Sua capacidade inquestionável de comunicação com o ser humano, elas mesmas, ao contrário, constituir-se-iam (com merecida mesóclise) numa prova de Sua não existência.

     Portanto, terminamos este texto propondo verificar em que condições as Escrituras indicam um Deus e afirmam de que modo se comunica com o homem. Porque se ela puder ser desacreditada e, em que variados graus, isso puder ser levado a efeito, restará checar se, fora dela, vale a pena procurar por qualquer Deus e, se valer a pena, que pistas ela pode dar como válidas. 

Jornada Teológica de Ano Novo - 2 - Como comunicar-se

    No texto anterior estabelecemos o que chamamos axiomas, três deles, que passamos aqui a descrever, a fim de dar continuidade à nossa argumentação. Ah, sim, o assunto versa sobre a existência ou não de Deus. E os três axiomas se expressam como segue:

    1. Afirmando que Deus exista ou que exista um Deus, vamos nos ocupar aqui com a suposição de que Ele é único: se está (ou se for) difícil provar a existência de, ao menos, um, imagina a de outros tantos.

    2. Caso exista, só nos interessa (a nós e a toda a humanidade) um, ou melhor, Um que se comunique com o ser humano, porque não interessa a ninguém Um que não dê, literalmente, as caras, quer dizer, a cara (com todo o respeito).

 3. Evidentemente, deve haver intermediários autorizados para falar em nome dEle, visto que essa comunicação, muito e necessariamente descomplicada, para efeito de sua relevância, precisa ser essencial, muito embora não deva ser tão informal assim, porém protocolar. 

 Resta, neste texto, continuando a argumentação, esclarecer o modo como se dá essa comunicação e por boca de quem. Porque, como já foi assinalado, alguém que saísse por aí dizendo "falei agorinha com o Altíssimo", seria tido como, no mínimo e antigamente se falava, "louco manso".

      Para introduzirmos, portanto, esse item da argumentação sobre a modalidade de comunicação com o Altíssimo, será necessário mencionar a tão antiga e não menos conhecida, porém, atualmente, em vários graus desacreditada Escritura.

      Também conhecida como Bíblia ou tradição (escrita) judaico-cristã, por incluir duas partes: Antigo e Novo Testamento, como denominam os cristãos. Lembrar que, pelo ramo do judaísmo, ela é denominada Tanakh que, na verdade, refere-se à uma abreviatura de suas três partes componentes, senão vejamos:

     "T" de Torah, Lei; "N" de Naviim, Profetas; e "K" de Khtuvim, Escritos. Lembrar, ainda, que esta Tanakh é idêntica, em seu conteúdo, ao Antigo Testamento da Bíblia protestante porque, no Antigo Testamento da tradição católica, foram acrescentados mais 7 livros e ainda outros trechos em mais 2 livros, todos constantes na Septuaginta, esta a primeira versão, para a língua grega, feita a partir dos originais hebraico/aramaico dos textos, cerca de 250 a. C., em Alexandria, na diáspora, enquanto que a Tanakh judaica, herdada pelos protestantes, segue a tradição hebraica mais conservadora da Palestina.

     Por que mencionar Escritura? Porque elas falam de um Deus. Ora, se vamos, em meio a esta humilde, porém não menos pretensiosa, argumentação falar da tentativa de provar que existe, pelo menos, um Deus, não começar a partir da citação exatamente do Deus de que falam as Escrituras seria omissão, o que produziria uma inutilidade argumentativa.

     Não se pode avançar na tentativa de indicar outro deus sem admitir, na economia desta jornada, a possibilidade de existência desse indicado nas Escrituras. Portanto, não podemos avançar sem que, com todo o respeito, desautorizemos como Deus o próprio Deus das Escrituras (e, consequente e concomitantemente, as próprias Escrituras). Para só então partir, se for o caso, à demonstração de outro. 

  Mesmo porque a fama das Escrituras, exatamente por causa da sua divulgação secular, por que não dizer, milenar, torna famoso o Deus de que ela mesma se revela portadora, vide a história de religiões como o judaísmo e o cristianismo, este em seus variados ramos.

     E, se a argumentação vai se direcionar, como já indicado, para uma expansão do axioma três, específico para se definir por quais meios o Deus hipotético se comunica, vamos introduzir aqui as Escrituras como uma possível fonte indicativa da possibilidade e, quem sabe, até dos meios pelos quais, efetivamente, se dá essa hipotética comunicação entre Deus e o ser humano.

      Dizendo de uma outra forma: não se avança nessa jornada sem antes introduzir, em regra geral, a temática da comunicação com Deus como apresentada nas Escrituras. Supondo, então, ser necessário, de antemão, desacreditar seu conteúdo, no específico dessa possibilidade e, de uma vez, desacreditando ou desautoirizando como Deus esse que ela apresenta, caso seja uma falácia a possibilidade de comunicação com Ele.

      E para terminar esta etapa, que já se revela extensa, mais uma vez queremos destacar o respeito necessário ao se tratar deste assunto. Porque, se para alguns, é tão fácil duas coisas: 1. desacreditar as Escrituras e, 2. obviamente, o Deus de quem elas falam, para outros todo esse assunto se revela de suma importância e, por razões óbvias, até sagrado.

    Será necessária uma dissecação, vamos usar esse termo, das próprias Escrituras, visto que, em algumas partes, até como vício do ofício, elas falam com muita intimidade do Deus que apresentam em suas páginas. Porém, devido ao que podemos chamar de "evolução do pensamento humano", estudos, escolas, academias, enfim, o pessoal foi se desapegando de certas partes delas, corrigindo, vamos dizer assim, certos modos próprios delas se expressarem, indicando certas "falas" de Deus como disposições ou modos peculiares, literários, simbólicos, subordinados à época dos autores, enfim, "falas não-literais" do "Deus". Portanto, toda uma filtragem, segundo se alega, tornou-se necessária. 

      Resumindo, por incrível que pareça (e, por essa, ela não esperava), indiretamente a ciência é que vai dar a última palavra a respeito do grau de credibilidade das próprias Escrituras e ainda, não que ela, a ciência, tivesse procurado isso, vai acabar por definir se essas "falas" de Deus ou a respeito de Deus são mesmo como estão expressas, ou seja literais, figurativas, interpretativas, teológicas, enfim.

       Mas essa discussão até onde ciência e "fé" avançam, encontram-se, repelem-se ou se autoexcluem, talvez, seja ou não seja o nosso objetivo aqui. Mas certamente, em alguns momentos, não poderemos avançar sem esbarrar e transpor esse obstáculo.