sexta-feira, 24 de maio de 2024

Apocalipse nosso de cada dia - Anunciam-se os sete flagelos do juízo de Deus - Parte 29

    Desde o sinal da mulher e do dragão, anteriormente descrito, João assinala o próximo como grande e admirável. Consiste no surgimento repentino de 7 anjos, trazendo consigo os sete últimos flagelos, por meio dos quais será consumada a cólera de Deus.

   No céu, então, destaca-se o mar de vidro, mesclado de fogo, aquele mesmo já conhecido, tanto do início deste livro, quanto das visões de Ezequiel e Daniel. João descreve os vencedores da besta, sua imagem e número, a que recebera do dragão autoridade e poder. 

    Estes que venceram, acham-se de pé, sobre o mar de vidro, com harpas, cantando tanto o cântico de Moisés, quanto o do próprio Cordeiro.

   Com esses cânticos de louvor, abarcam o que significa, para Deus e toda a humanidade, as revelações em marcha do Antigo Testamento, representadas em Moisés, a sua culminância em Cristo, assinaladas pelo Cordeiro:

³ "Grandes e admiráveis são as tuas obras,  Senhor Deus, Todo-Poderoso!  Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! ⁴ Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos." Ap 15.

   Após o preâmbulo desta cena  João agora vê abrir-se no céu o santuário do Tabernáculo do Testemunho, de onde saem os 7 anjos vestidos de linho puríssimo e resplandecente, com uma cinta de ouro à altura do peito.

    É quando, então, um dos quatro seres viventes passa às mãos dos anjos as sete taças de ouro cheias da cólera de Deus, cujo título "Aquele que vive pelos séculos dos séculos" sobressai.

    A solenidade desse momento encheu de fumaça o santuário, procedente da glória e poder de Deus, de modo que o acesso a ele se tornou impedido, enquanto não se cumprissem esses sete flagelos dos sete anjos com suas sete taças. Cria-se, desse modo, o suspense para as próximas cenas.

sábado, 18 de maio de 2024

Ainda sobre mães

Todas as outras
 muito bem representadas

    A gente as carrega conosco. Zoada bendita, as palavras de ordem, as broncas oportuníssimas, as cobranças das tarefas de escola. Ah, meu bom Deus, que não chegasse nenhuma reclamação.

   Eu tinha uma merendeira amarela. Oh, como foi custoso adquirir uma, porque as finanças eram todas contadas. Merendeira seria um luxo. Era mesmo o saco plástico, com a merenda embrulhada em papel de pão, aquele mesmo, acinzentado.

   Cid Mauro!!!!! Ouvi o grito solene, ainda na casa de Cascadura, Rua Mendes de Aguiar 90, ap 101. Dorcas, minha mãe, com uma nota de 5 mil cruzeiros, aquela mesmo do Tiradentes, perguntando como foi parar dentro da merendeira amarela.

   Tive que mentir. Mãe, é que o colega deixou largada na mesa dele, ora, ia perder. Então eu guardei. Sabe o nome disso, Cid Mauro, no mesmo tom solene: é roubo.

   Não, mãe! Eu bradei. Jamais. E a mãe entrou com a lógica dela. Vocês lembram da lógica das mães? Muitas vezes, confessemos, vinha acompanhada de chinelos, beliscões, puxões de orelha. Mas era totalmente convincente.

   Ela disse: O seu colega viu você pegar? Ele sabe que está com você? Hora dessas, com a mãe perguntando onde está o dinheiro, ele vai saber dizer? Você vai agora se ajoelhar, pedir perdão a Deus, e amanhã vamos devolver esse dinheiro ao colega.

   Estamos em 1963. Morando em Cascadura, ela estudando o Curso Normal no Colégio Nilopolitano e eu o Jardim de Infância, no Instituto Filgueiras, o velho, porque o novo ficava defronte à linha do trem, na avenida principal.

   Coisa de criança, comentou rindo a mãe do coleguinha, quando recebeu de volta a nota do Tiradentes. Não, disse Dorcas. Já conversei com ele, para nunca mais fazer isso. Dessa idade que se aprende.

   Cada um de nós tem histórias dessas para contar. E a essa altura de vida, se quando pedimos perdão por pecados, são faltas leves, vamos agradecer a essa educação. Modelo infalível. Didática renomada.

   Eram assim as mães dessa família. Talvez, possamos dizer, dessa época. As de nossa família ainda tinham, por detrás, como código de ética regente, o temor a Deus.

   Podem ter sido diferentes no temperamento, mas não na têmpera. Mais ou menos presentes, fisicamente, nas igrejas, mas ainda mais notável era carregar a igreja dentro de si.

   A imagem bíblica que eu acho a mais linda de igreja é a congregação do 🏜 deserto, no Antigo Testamento. Armavam e desarmavam suas tendas enquanto peregrinavam.

   E havia um tabernáculo, uma tenda imensa, no meio do arraial, simbolizando a presença de Deus. Mas era uma tenda vazia. Com símbolos do que cada um tinha em sua própria tenda: bacia de lavar, mesa, pão, candelabro e um baú de guardar coisas.

   Na tenda que foi nossa casa, onde moramos com nossa mãe, quando nos acordava à noite, eu dizia assim: desliga a luz. Mas era tosse. Vinha um xarope (lambedor, diz o acreano). Eu tomava e, ao lado, Cid, meu pai, orava, para a tosse e a febre irem embora.

    Essa ideia da tenda ao redor de uma tenda maior vazia, era para ensinar ao povo que carregassem Deus consigo dentro. Armem e desarmem a igreja que vocês têm dentro, porque é dentro onde Deus quer morar.

   A tenda que era nossa casa, era o refúgio de proteção, onde a mãe reinava. Se temos, hoje, esse esboço de família, foi lá o nosso referencial. Não. Nunca quisemos pais infalíveis: seriam fake. Eles tinham os defeitos que hoje também temos. E as virtudes que nos transmitiram com seu exemplo.

   As mães dessa família, mais ou menos igrejeiras, aprenderam, entre si, amar. Havia uma intuição dentro delas. E intuição é como fé, basta uma do tamanho de um grão de mostarda, a menor das sementes de hortaliças.

   Essa intuição as guiava. Com ela, o alarme sempre acusou o perigo. E elas cumpriram seu papel, sem que fossem soberbas, mas foram altaneiras. O que falta dizer sobre elas, já bisavós dos netos de seus filhos?

   O que dizer das que já foram, deixando bruta saudade, mas com certeza de que cumpriram honrosamente o seu papel. Ora, isso é lugar comum, chover no molhado, ser repetitivo.

   Mas é esse o maior tesouro que herdamos, ou seja, ter sido simplesmente mães, as mais comuns de ser, o mais dedicado, o mais presente, sábias, enfim, amorosas.

   Gratos, mães da família. Vocês são sensacionais. Eunice trisavó, Eunice filha bisavó,  Dorcas-Maninha, Leila, Miriam e Gislaine bisavó. Francisca bisavó, Iracema, Zila. Acho que não esqueci ninguém.

  Há uma rede de amizades. Outra marca célebre dessa família foi granjear muitos amigos.  Em 1951, Cid noivo de Dorcas reencontrou o irmão dele, Isaías, materialista e membro da Juventude Comunista.

    Nunca mais esqueceu os cultos a que assistiu, na casa da Rua Osvaldo Cruz 306, equina com o morro da Dr. Rufino. Foi cativado por essa amizade e atraído por esses laços. Nunca esqueceu do sorriso de Baldomero, o Tula, e de sua acolhedora hospitalidade. Findou pastor, como diz o acreano.
  
     Há quem chega para se agregar, esses pais, esposos dessas mães. Trazem com eles suas famílias. Grande essa rede de gente. Assim como as cunhadas, também agregadas, trouxeram junto suas famílias. Haja tempo para se contar muitas outras histórias de amizades.

  Bom. Provinciano. Suburbano. Mas não pensem que deixei os pais, sim, os homens, para segundo plano. Porque têm as mesmas marcas de virtudes e defeitos das mães.

   Porém eu desconfio que, quanto mais, como a Bíblia, aconselha, encararam essas mães como auxiliadoras idôneas, deram-se bem. Porque, ora, para as sábias esposas, mais valia, sempre mais valeu, para eles, terem seguido os conselhos delas.

   Caramba, grande dívida de amor temos com as mulheres dessa família. 

5 mil merréis de uma bronca bem dada


sexta-feira, 17 de maio de 2024

Apocalipse nosso de cada dia - O enfrentamento do dragão e sua besta: as três vozes - Parte 28

   A reação às ações do dragão e da besta, sua assecla, do mesmo modo, é divisada por João, que olha e vê o Cordeiro sobre o monte Sião, em companhia dos 144.000, que têm na fronte tanto o seu nome, quanto o de seu Pai. 

   Ao mesmo tempo, do céu, manifesta-se um coro, com vozes de muitas águas, assim como de potente trovão, que também soa como tanger de harpas.

   Esse coro entoava, diante do trono, dos 24 anciãos e dos seres viventes um cântico que tão-somente poderia ser aprendido pelos 144.000 em companhia do Cordeiro, esses comprados, da terra, por Seu sangue.

      A marca de conduta deles foi nunca ter-se como adúlteros, mas seguidores do Crodeiro, por toda a parte e, como primícias para Deus, ter sido redimidos dentre os homens e, em absoluto, ser mentirosos, enfim, mácula alguma.

   Pelo fato de ser mencionado o monte Sião, como referencial, e serem 12 X 12 X 1000, costuma-se avaliar esse número como a totalidade dos salvos, seja, dentre o povo de Israel, os que creram no Messias, tipificados nas 12 tribos, sejam dentre as demais nações, como que reprsentados nos 12 apótolos.

     Na continuidade da ação, nesse momento, urge um anjo que, atravessa os céus, trazendo consigo um evangelho eterno, ou o evangelho eterno porque, como afirma Paulo, não há outro, mas a ocisão da divulgação deve revelar-se especial, mais ainda por incluir toda tribo, língua, povo e nação.

     Esse anjo, costumado a ser identificado, nessa altura do livro, como primeira voz, proclama:

 ⁷ "Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas." Ap 14.

    Sempre o evangelho, sempre urgente a sua pregação, sempre solene a advertência.

    A segunda voz é proclamada por um segundo anjo, o qual reforça o contexto da proclamação do anterior, agora dizendo: 

    ⁸ "Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria das suas prostituições". 

   Esta que caiu é representante de todo o governo humano vil, através dos tempos, globalizando o seu mau exemplo.

  O terceiro anjo proclama, mais uma vez reforçando o contexto desse juízo, que os adoradores da besta e sua idolatria assumida têm, na fronte e na mão, assim identificados, a marca de seu culto.

     A eles vota o anjo que, pela opção feita, vão beber do vinho sem mistura da cólera de Deus, oferecido pelo cálice de Sua ira, e atormentados com fogo e enxofre diante dos anjo e do Cordeiro.

   Diante desse quadro distingue-se, através dos séculos, essas duas opções, quais seja, dos adoradores da besta e sua imagem, de um lado, e da perseverança dos santos, do outro, assim denominados os que, em sua perseverança, creem no Cordeiro e que, mesmo diante de provações, guardam os mandamentos de Deus e mantêm sua fé em Jesus.

  Em seguida às vozes dos anjos, duas ações subsequentes numa colheita, ceifa e vindima, caracterizam o pormenor desses tempo de juízo e seleção entre salvos e não salvos. 

    Na ceifa ou corte, sobre uma nuvem branca, divisa-se uma semelhança como filho de homem, a personagem das visões de João, no início do livro, desta vez com uma coroa de ouro sobre a cabeça e uma afiada foice em sua mão.

   É quando, do santuário, sai um outro anjo e se dirige a ele, dizendo que leve a efeito a ceifa, visto ser essa a hora exata, porque a seara da terra está madura para ela. 

     Imediatamente, o imperativo do anjo foi atendido e efetuada a ceifa de toda a seara da terra, num só corte. Pois agora, em seguida, do mesmo santuário sai mais um anjo, e desta vez com outra foice sobre sua mão.

   A ordem, então, a este segundo anjo provém de mais um, este o terceiro, mencionado o poder de que dispõe, sobre o fogo, ordenando ao companheiro que recolha, agora numa vindima, os cachos maduros de uvas a partir da videira da terra. 

    Foi feita e a colheita lançada num lagar, este caracterizado como aquele da cólera de Deus. Mas o resultado do esmigalhamento dessas uvas não foi vinho, mas sangue que, pelo volume, subiu até a altura dos freios de cavalos, numa extensão de 1600 estádios que, uma vez desmembrado em 4 X 4 X 1000, confere com toda a extensão da terra.

   Todas essa ações, em sua amplitude e detalhes, definem o momento em que Deus inicia seu juízo sobre a terra, do qual casa passo mede e responde, por sua vez, às ações do dragão e seus aliados. O drama continua, mas se avizinha do seu fim.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Apocalipse nosso de cada dia - A parceria do dragão com a besta - Parte 27

   O dragão arremata aliados. Por isso, João entrevê, erguer-se do mar, uma besta, com dez chifres, sete cabeças, dez diademas ornamentam esses chifres e tem, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia.

   Sem dúvida, poderes temporais, que desprezam, desmerecem e afrontam o poder espiritual, do qual a igreja foi chamada para ser sinal autêntico.

   Os números são simbólicos, podendo indicar imperadores romanos e seu símbolo de força, seus generais ou ministros. A besta reúne em si características de hábeis e bravos felinos, a boca do leão e a destreza do leopardo, além da altiva postura do urso.

   Recebe do dragão poder, grande autoridade e trono, como concessão a eles feita por Deus, em seu juízo, visto que quaisquer e todos os poderes e potestades estão subordinados ao Cristo de Deus.

  E por ela própria, não somente poder político, mas religioso será exercido, porque mesmo ferida de morte a sua cabeça, prontamente será curada, o que surpreenderá grande parcela da humanidade, que seguirá após ela, pelo assombro dos sinais e prodígios da mentira, como menciona Paulo, que a beneficiaram.

   Este foi o resultado: ⁴ "...e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?" Ap 13.

   42 meses = 1260 dias = 3,5 anos. Essas contas conferem com a profecia das 70 semanas, em Daniel 9, sendo 3,5 = 7/2 sempre um período simbólico de metade de um tempo previamente definido.

   Não são números literalmente matemáticos, mas simbólicos, indicando a precisão dos desígnios de Deus, de que todos os fatos de toda a história estão sob o controle dEle e que não haverá falhas em seu cumprimento.

   Até o mal tem cronometrado o seu tempo de ação, debaixo da soberania de Deus. Sempre lembrando que, essas autoridades político-religiosas rebeldes à soberania de Deus estarão seguidas de todos que, como mais uma vez Paulo indica, sentindo coceira nos ouvidos, não deram crédito ao evangelho, 2 Tm 4,3.

   Vão caracterizar essa ação conjunta dessas forças do mal as seguintes posturas:

1. Boca que profere arrogâncias e blasfêmias;
2. Boca que difama Deus, o tabernáculo do céu e os que nele habitam;
3. Pelejar contra os santos, ou seja, os eleitos, vencendo-os, provisoriamente;
4. Assumir autoridade sobre toda tribo, língua, povo e nação;
5. Receber adoração, na terra, de todos os que não têm o seu nome inscrito no Livro do Cordeiro, com efeito, morto desde a fundação do mundo.

   Solene advertência encerra esse prelúdio de ação do império do mal e sua provisória vitória, tempo de estrita medida do juízo de Deus, não se pense, portanto, que Sua justiça minguou, porque os santos permanecem fiéis, como destaque:

⁹ "Se alguém tem ouvidos, ouça. ¹⁰ Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai. Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos." Ap 13.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

IEFP no contexto social

 IEFP e sua tarefa

    O Instituto Ecumênico Fé e Política - IEFP, desde sua fundação, propõe ser um espaço de afluência de lideranças religiosas, em busca de uma convivência respeitosa de sua diversidade.

   Para tanto, abre-se à sociedade, com sua proposta, consciente dos desafios que isso representa. Não se ilude que, para que haja justiça e paz, muitas vezes será necessário a denúncia do erro.

   Portanto, a liderança do IEFP e seus membros partem do princípio de que é necessário, primeiro para si mesmos, assumir uma crítica de costumes. E qualquer crítica se torna, ao mesmo tempo, construtiva e destrutiva.

   Quando se trata de religião, exatamente o expediente ligado à palavra "Fé", de seu nome, lida-se com o transcendente, ao mesmo tempo que com tradições, ritos, doutrina e com o próprio sagrado.

   E quando se trata de sociedade, expediente ligado à menção "Política", em seu nome, lida-se com ideologias, sistemas políticos, partidos, pluralidade social, escolhas diversas, assertivas ou não.

   Assim como, na religião, a pluralidade religiosa aflora, no IEFP, como essencial, do mesmo modo na política, o senso suprapartidário constitui-se no seu principal eixo, como modelo de autocrítica, seja no contexto religioso, assim como no contexto político, o que não se constitui numa tarefa fácil.

   Principalmente no viés de opção.

   A tarefa será de se constituir, a si mesmo, no contexto religioso, assim como político, no Brasil, onde a mais recente polarização dificulta que palavras de bom senso e crítica sadia, isenta, prevaleçam.

   O mais corriqueiro, no contexto social atual, são posicionamentos radicais e acusações contra o outro, assim como a taxação recíproca de posições antagônicas, sem que o diálogo e as diferenças sejam postas no seu devido lugar de convivência.

    Nesse contexto é que o IEFP se propõe a ser lugar de mediação. Deve, portanto, praticar uma crítica constante a si mesmo, com espaço plural e igual a todos os seus membros, seja no teor religioso, assim como político, de modo a oferecer-se, à sociedade, como modelo de mediação.

   IEFP e o contexto amazônico

    Não se pode decalcar a Amazônia do contexto nacional, como se fosse um lugar isolado, sem fronteiras e sem influências externas. Assim como não se pode confundi-la ou misturá-la, em termos culturais, com as demais regiões do país.

   Ela possui características próprias, assim como assume, herda e incorpora aspectos, sejam positivos ou negativos, das outras regiões,  moldada por movimentos decisivos que a marcaram, desde sua "colonização".

    Aqui se deve operar uma divisão conceitual entre religião, e suas intenções, e a capacidade inata ao ser humano de, além de propor e definir, para si, religiões, assumir o viés da imposição, com violência, ao outro, muitas vezes numa relação também conflituosa com outros expedientes da sociedade.

   Por exemplo, na repressão aos indígenas, no início da ocupação europeia da Amazônia, religião, forças armadas e colonizadores deram-se as mãos para se impor uma religião majoritária, juntamente com o poder  político opressor, nesta região, desfigurando o quadro original de seus povos e tradições.

    Porém isso não quer dizer que os povos que aqui viviam eram puros, perfeitos, isentos de maldade, tendo todos eles uma cultura religiosa irretocável, como se o paraíso bíblico perdido fosse aqui. O choque cultural foi e sempre será inevitável e imposições, sejam religiosas ou políticas, que têm sido violentas, na evolução da humanidade, desde sempre, carecem de denúncia e correção.

   Não existem nem religiões e nem ideologias políticas perfeitas, porém estão em vigência em função e apesar das imperfeições humanas. Não será a singela proposta de uma religião, à qual se "converter", ou a mera proposta ou imposição, em si, de qualquer ideologia, que vão "salvar" a humanidade.

   Portanto, quem está sujeito à crítica é a condição humana, em geral, na vivência dos choques culturais, os sistemas de governo e seus modelos de condução do povo. Qualquer modelo de opressão, ainda que mal disfarçado em ideologia ou religião benfazeja, deve ser denunciado.

   Exemplos retirados da história

   Caso se deseje focar em Jesus, expressão do cristianismo, ele contestou aspectos da religião judaica oficial e, por isso, teve sua ética e a própria vida postas em xeque.

   O profeta Oseias, no século VIII a.C., desqualificou a estrutura sacerdotal de seu tempo, Jeremias, a partir de 605 a. C., que lia Oseias, idispunha-se com o poder religioso e o político de seu tempo. E Isaías, contemporâneo de Oseias, denunciou a idolatria em Israel.

   Mas não quer dizer que apenas abandonar a idolatria resolva todas as questões, porque o Israel não idólatra crucificou Jesus e o cristianismo da Idade Média, não idólatra, patrocinou "guerras santas" chamadas Cruzadas.

   Há, de sobra, na história, maus exemplos de sistemas políticos, ambos, à esquerda e à direita, se assim se desejar definir, praticando genocídios. Não existem ditaduras benéficas, sejam de direita ou de esquerda, ambas sempre apoiadas por militares. Assim como não existem democracias perfeitas.

   O IEFP, caso deseje se expor como modelo de mediação, seja religiosa ou política, deverá ser crítico da condição humana que justifique qualquer tipo de violência como necessária, seja ela religiosa ou política.

    A violência praticada contra indígenas, na gênese da ocupação europeia da Amazônia, foi político-religiosa. Do mesmo modo que a opressão praticada contra os negros, ignorada pela Igreja, desconsiderada pelo rei "cristão", assim como benéfica para o sistema político-financeiro, fosse católico, anglicano ou protestante.

    Mas não cessou aí, nesse tempo, nem a opressão religiosa e nem a opressão política. Caso o IEFP deseje assumir que a democracia, se não é o melhor regime, ainda é o melhor fórum social, deve denunciar, tanto a democracia que oprime, mas também os regimes que a rejeitam, definitivamente, e não a praticam.

     IEFP e seus desafios 

    Não será uma tarefa fácil, para os membros do IEFP, administrarem suas perdas e ganhos. Porque lidar com religiões é admitir choques culturais, com suas perdas e ganhos, do mesmo modo no contexto político, com suas diferenças, diversidade e contradições.

   O IEFP deve primar por sua autonomia de modo permanente. Caso se interponha como lugar de debate, seja religioso ou político, a começar por seus membros, deverá aprender a exercitar seu potencial interno de conviver, de maneira pró-ativa, com a diversidade e sua capacidade interna de dialogar, e ainda lidar com o contraditório, seja no contexto político, do mesmo modo, quanto no religioso.

   As carências da Amazônia são, em grande parte, reflexo das carências nacionais. E a política que se pratica no Brasil ainda tem os vícios dos interesses pessoais à frente do interesse púbico. Por isso a política de trato para com essa região ainda é de exploração de recursos, regida por interesses financeiros, atrelada a uma administração pública corrompida.

   Assim como na ocupação dela, no século XVII, houve uma associação de interesses político-religiosos que se aliaram contra a cultura e a população indígena local, visando exclusivamente sua exploração, na fase atual ainda há o que corrigir quanto à associação de interesses, embora as forças de exploração sejam outras.

    Macro religiões e seu conflito de interesses devem ser levadas em consideração. Na atualidade, costuma-se acusar evangélicos, denunciando, de modo acertado, sua promiscuidade com o poder político, esquecendo-se de que católicos sempre ocuparam esse mesmo espaço promíscuo, afetando a laicidade do Estado, desde o "descobrimento" do Brasil.

    Caso o IEFP se mantenha como referencial à sociedade, além e juntamente com sua postura isenta e equidistante, em relação às religiões, deverá manter sua postura política, do mesmo modo, plural, isenta e equidistante.

     Caso nesse permanente esforço de equilíbrio entre a dimensão Fé, de sua identidade,  e a dimensão Política, dessa mesma identidade, não ocorra permanente esforço de isenção, sua tarefa estará comprometida. E seu espaço como fórum social para debate religioso e político, no contexto social, estará desconfigurado.