Texto por Victor Marques*
Constantemente referenciadas nas últimas décadas por institutos de pesquisa, veículos de comunicação e parte da própria população sepetibana, pela sua degradação ambiental e sua falta de qualidade da água para o banho, as praias de Sepetiba já foram os pontos turísticos de diversas pessoas de outras localidades, tal como os de Santa Cruz, e em especial, nas férias do mês de Janeiro.
Na primeira metade do século XX, as praias do Carmo e de Dona Luíza possuíam um vasto fluxo de visitantes em suas terras, sendo consideradas pela imprensa carioca da época como grandes atrações do litoral brasileiro. Com o aluguel de diversas casas de veraneio no bairro durante o mês de janeiro, correspondente às férias de parte dos trabalhadores, a economia local era fortemente movimentada com o turismo então presente.
A década de 40 veio com um grande fluxo de criação de agremiações esportivas, dentre elas, o Sepetiba Futebol e Regatas destacava-se como pioneiro no processo futebolístico no bairro.
No ano de 1947, surge também o Sepetiba Iate Clube, com suas atividades de natação e remo, na qual participavam alguns grupos de pescadores da região. Os visitantes muitas vezes interagiam com essa cultura multiesportiva das praias, com diversas famílias participando das práticas de esporte na Baía.
A famosa "lama medicinal", como ficou popularmente conhecida entre muitos grupos sociais cariocas, era passada nos corpos por muitos que visitavam a Baía, mesmo sem nenhuma comprovação científica. Já no ano de 1950, o filme “Estrela da Manhã”, dirigido pelo crítico de cinema Jonald, pseudônimo de Oswaldo Marques de Oliveira, morador de Sepetiba, um dos fundadores do Centro Pró-Melhoramentos de Sepetiba, foi filmado na Baía, contando com argumento de Jorge Amado e música de Dorival Caymmi.
O processo de poluição empresarial na Baía iniciou-se na década de 60, com a instalação da Companhia Mercantil e Industrial Ingá, expandindo-se alguns anos depois com a inauguração do Distrito Industrial de Santa Cruz.
A partir dos anos 70, a imprensa carioca começou a noticiar com frequência sobre a degradação ambiental que tomava a Baía, apontando o local como um dos destinos balneários impróprios no Rio de Janeiro.
Em 7 de maio de 1982, foi inaugurado o Porto de Sepetiba (atual Porto de Itaguaí), o qual intensificou ainda mais a poluição das praias de Sepetiba.
Todavia, as praias sepetibanas ainda possuíam um vasto número de turistas que se banhavam nas suas águas, seguindo com sua ainda forte economia local voltada ao turismo, até o final dos anos 80.
De meados de 90 até às décadas que se seguiram aos dias atuais, o fluxo de visitantes reduziu drasticamente nas praias, junto com as espécies marítimas presentes nas águas sepetibanas, tais como os botos-cinza e os camarões, e a referenciada “lama medicinal” ficou então nas memórias de outrora, sendo agora soterrada por uma lama de resíduos. E as férias de janeiro em Sepetiba estão agora guardadas nos veraneios das lembranças daqueles que a viveram.
Victor Marques* é graduando em história pela UFRRJ e Vice Coordenador de Estudos e Pesquisas do NOPH.
Imagem - Moradores locais e turistas na Praia de Sepetiba, mais de uma década após o início do processo de poluição empresarial na Baía. 29 de janeiro de 1972. Foto - Jorge Nicolella. Acervo: Arquivo Nacional, Fundo Correio da Manhã.
Referências bibliográficas:
ANDRADE, Victor - “DIVERSÃO NO PARAÍSO? EXPERIÊNCIAS ESPORTIVAS NO BAIRRO DE SEPETIBA (RIO DE JANEIRO, DÉCADAS DE 1940-1970) - NA ENCRUZILHADA DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA”, Recorde, Rio de Janeiro, número 1, volume 13, página 1 - 75, janeiro a junho de 2020.
IKEDA, Riyuzo - “Zona de sacrifício ambiental: O caso da Baía de Sepetiba - RJ”, Revista de Política e Planejamento Regional, Rio de Janeiro, número 3, volume 5, página 359 - 380, setembro a dezembro de 2018.
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