quarta-feira, 20 de abril de 2022

 KARL BARTH: UMA INTRODUÇÃO Á SUA       CARREIRA E AOS PRINCIPAIS TEMAS DE SUA                     TEOLOGIA - Franklin Ferreira

    Barth entendeu que, para Anselmo, toda teologia deve ser feita num contexto de oração e obediência. Isso significa que a teologia não pode ser uma ciência objetiva e desapaixonada, mas deve ser a compreensão da revelação de Deus em Jesus Cristo, possível somente através da graça e da fé. Barth afirmou que o pré-requisito para a teologia correta é uma vida de fé, e sua marca é o desejo de jamais contradizer explicitamente a Bíblia.

[Ele] compreendeu que a tarefa do teólogo não é tanto acentuar a distância entre o homem e Deus, mas muito mais penetrar no significado do conhecimento de Deus que é colocado à disposição do homem na revelação. Então, impõe-se a Barth o problema da analogia, como o único método apto a resolver o significado da Palavra de Deus. Somente com o método da analogia é que o teólogo pode chegar a compreender o conteúdo da revelação. Não, porém, por intermédio da analogia entis (analogia do ser), que sendo uma categoria filosófica e humana, não pode estar em condições de entender a Palavra de Deus. A única analogia que pode compreender Deus e sua revelação é a analogia da fé (analogia fidei): a analogia que parte da fé ao invés de partir da razão.

O Fides Quaerens Intellectum assinala, portanto, a segunda virada decisiva na peregrinação teológica de Karl Barth: o abandono da dialética em favor da analogia. A partir de então, em Barth, a teologia da Palavra se torna uma cristologia.

Em 1927 publicou o primeiro de uma projetada série de volumes sobre Die Christliche Dogmatik [Dogmática Cristã]. Mas Barth foi criticado por esta ser baseada na filosofia existencialista. Certamente, ele não subordinou a revelação ao existencialismo na mesma medida que Bultmann. Mas ele desejava produzir uma teologia bíblica e livre da dependência de qualquer influência filosófica. Além disso, queria enfatizar a objetividade da revelação de Deus mais do que a subjetividade da fé humana. Então, ele decidiu começar novamente, e em 1932 iniciou a Die Kirchliche Dogmatik, obra que não chegou a terminar. Esta é a disposição dos volumes editados:

I/1 (A Palavra de Deus como critério para a dogmática, 1932) e I/2 (A revelação de Deus, a Sagrada Escritura, o anúncio da Igreja, 1938): Contém os prolegômenos da obra: a tarefa, o objeto, as bases, o método e os meios de conhecimento da teologia em geral e da dogmática em particular. A estes se acrescentam os capítulos fundamentais sobre a doutrina da Trindade (ponto de partida objetivo de toda teologia), a doutrina do Espírito Santo e a doutrina da Escritura.

II/1 (A obra da criação, 1940): O conhecimento de Deus: possibilidades, limites; a realidade de Deus, seus atributos: “as perfeições do amor divino” (que incluem graça e santidade, misericórdia e retidão, paciência e sabedoria) e “as perfeições da liberdade divina” (que incluem unidade [ou simplicitas Dei] e onipresença, constância e onipotência, eternidade e glória).

II/2 (A eleição gratuita de Deus – O mandamento de Deus, 1942): a doutrina da eleição gratuita de Deus e o mandamento de Deus como o fundamento da ética cristã. Grande parte deste volume é um comentário de Romanos 9 a 11.

III/1 (A obra da criação, 1945): fundamentos da criação, relação entre o pacto e a criação. Todo o volume é uma profunda e abrangente exegese de Gênesis 1 e 2.

III/2 (A criatura, 1948): A doutrina cristã do homem (antropologia teológica).

III/3 (O criador e a sua criatura, 1950): A providência de Deus, as potestades e os anjos.

III/4 (O mandamento do criador, 1951): Problemas éticos em relação com o estado de criatura do homem; relação com a criação animada, relações homem-mulher: casamento, pais e filhos, povo e humanidade, respeito pela vida (suicídio, enfermidade, pena de morte, guerra), trabalho, ofício, dignidade, honra, Dia do Senhor, etc.

IV/1 (O objeto e os problemas da doutrina da reconciliação. Jesus Cristo, o Senhor como Servo, 1953): Jesus Cristo, o Filho de Deus, juiz dos vivos e dos mortos, se humilha a si mesmo e se faz solidário com o homem destinado ao juízo: o Senhor se faz escravo (ministério sacerdotal de Cristo); por este ato se põe manifesto que o pecado é especialmente o orgulho, que faz frente ao juízo de Deus que realiza a justificação do pecador; esta justificação se traduz pela ação do Espírito Santo na vida dos homens pela união deste com a Igreja e no surgimento da fé em cada cristão.

IV/2 (Jesus Cristo, o Servo como Senhor, 1955): Jesus Cristo é a reabilitação do homem caído, que ascende para a vida com e para Deus; o escravo se torna Senhor (ministério real de Cristo); por este ato se põe manifesto que o pecado é essencialmente a inércia ante a Palavra de Deus e suas exigências; a obra de Deus prossegue na vida pela santificação do pecador justificado; esta justificação se traduz na vida dos homens pela edificação da Igreja e pela vida nova do cristão em amor.

IV/3 (Jesus Cristo, a verdadeira testemunha, 1959): Jesus Cristo é o fiador e o testamento de nossa reconciliação, em quem se manifesta em sua plena luz (ministério profético de Cristo); assim, o pecado se revela como mentira, negação da verdade, rejeição da Palavra; a obra de Deus no homem, a vitória do Espírito Santo sobre o pecado-mentira, que se expressa na missão e no testemunho da Igreja, e na vida do cristão em esperança.

IV/4: Este volume foi publicado como fragmento, tratando da ética da reconciliação, do Pai-Nosso e do sacramento do batismo.

  A Die Kirchliche Dogmatik [A Dogmática Eclesiástica] recebeu este nome por dois motivos: Porque, tendo eu combatido muito o uso demasiado fácil que se faz do título ‘cristão’, quis começar por dar eu próprio o exemplo; depois, e este é o ponto decisivo, porque queria chamar a atenção, desde o início, para o fato de que a dogmática não é uma ciência ‘independente’; ela está ligada ao âmbito da Igreja e só assim torna-se possível como ciência e adquire todo o seu sentido.

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