quarta-feira, 25 de março de 2020

Oração

    Este é meu terceiro texto específico sobre a COVID-19. O artigo "a" refere-se a ela como "pandemia" ou "doença".

    No primeiro texto, falei da experiência do rei Davi na eira de Araúna, registrada na Bíblia em 2 Samuel 24 e, no segundo, sobre oração.

    Estão os dois neste blog. Sobre a Eira de Araúna, Davi vislumbrou a cura, expressa pela frase final, escrita em 2 Em 24,16, como segue abaixo:

"Estendendo, pois, o Anjo do Senhor a mão sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o Senhor do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira a mão. O Anjo estava junto à eira de Araúna, o jebuseu".

     Sobre oração, no segundo texto, destaquei que qualquer um pode orar, pedindo a Deus misericórdia, neste momento, baseado no que diz Tiago sobre Elias, em Tiago 5,17-18, como segue abaixo:

"Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos".

     Neste texto, junto os dois anteriores, em minha argumentação, para dizer que devemos pedir a Deus "Basta", quer dizer que, como na época da eira de Araúna, Deus pode dizer "Basta, retira a mão" e, instantaneamente, assombrando-se o mundo inteiro, a conta dos mortos parar nesse número qualquer. 

      E qualquer um de nós pode fazer essa oração. Porque "Elias era homem semelhante a nós". Não havia mérito em Elias, maior do que em qualquer de nós, para que Deus atenda à oração de qualquer um ou de tantos ou de muitos e muitas orações que ele está ouvindo. 

    Gozado pensar "em" Deus ou "pensar Deus". Como o imaginamos? Todo amor. Neste exato momento, tendo ouvido e ouvido várias orações em todo o mundo. E assistindo aos efeitos da COVID-19. E mais, pelos seus atributos, sabendo o quê, quando e como vai terminar.

     O poeta popular, irreverente, vai dizer "Deus é um cara gozador". Mas o segundo verso diz "adora brincadeiras". Não se aplica a essa condição: COVID-19 não é brincadeira, nem de mau gosto. 

     Mal comparando, Senhor, muito mal, porque já se diz no mundo que o nosso Presidente é o pior, que até quer fazer cessar a quarentena, por sua vez, inteligente, acolhedora e tranquilizadora, como prevenção e arma contra essa cepa de vírus, mal comparando, qual a sua possibilidade, para dizer "Basta", ouvindo orações de qualquer justo ou de todos eles juntos?

      Atrevimento meu Te comparar a Bolsonaro, afrontando as estatísticas e o mundo todo, eu não Te afronto, maior seria essa minha fragilidade, ainda milhões de vezes maior do que a minha exposição ao vírus, seria minha fragilidade diante de Ti. Mas a pergunta é se, diante desse mal que se alastra, Tu estás imóvel, tudo podendo fazer, não seria isso, de si, uma afronta? Ou será, então, apocalíptico, como dizem esses "profetas de ocasião" entre os quais eu não me incluo (ou não quero me incluir e nem ser contado como um deles)?

      Mal comparando, parece que o Presidente está louco, Tu não és louco; parece que não tem escrúpulos, Tu és amor; parece que só pensa e si mesmo: mas Tu, em Jesus, Teu Filho, serves a toda e a cada um, individualmente, serves a toda a humanidade. 

     Como Abraão, Teu amigo, disse um dia, Gn 18,27, eu me atrevo:

"Disse mais Abraão: Eis que me atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza'.

     Porque na minha argumentação, discutível, porque pode ser que eu, não um justo, mas um falso profeta, esteja presumido, como disse, agora Moisés, em Dt 18,20:

"Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto",

e eu não pertença ao grupo desses justos, eu pergunto: Senhor, por que não, ainda, o "Basta"? Será juízo Teu? Ainda não aprendemos a lição? 

      Impossível que não haja se espalhado o medo, sim, de quem não foi, ainda, afetado, havendo agenda e conta estatística, este que ainda não foi, perguntar-se "serei"? E olhar para a família, pensado, vamos sobreviver juntos a isso? 

     Sim, Pai: porque não acho e nem vejo os "poderosos deste século" disponíveis a aprender alguma coisa. Sempre esses justos que foram aqui mencionados a orar, ou os pequenos, os pobres e os desprezíveis (o pobre, o órfão e a viúva, como diziam os profetas), esses, Senhor, ou já aprenderam, ou aprendem, ou aprenderão alguma coisa com a COVID-19. 

     Como aquele morador de rua do Reino Unido, que disse: "Não importa: não tenho nenhum valor". Quem vai, Senhor, aprender lições?  Minha mente não consegue avançar mais. Eu acho que só, então, poderemos dizer "gratos" pelas lições que vamos aprender ou que estamos aprendendo mas, a que preço? 

      Nós que, como disse Abraão em sua oração, que somos "pó e cinza"? E mais, ainda, ele disse e está  em Gn 18,31-32:

"Continuou Abraão: Eis que me atrevi a falar ao Senhor: Se, porventura, houver ali vinte? Respondeu o Senhor: Não a destruirei por amor dos vinte.
Disse ainda Abraão: Não se ire o Senhor, se lhe falo somente mais esta vez: Se, porventura, houver ali dez? Respondeu o Senhor: Não a destruirei por amor dos dez".

       Não nos tornamos, ainda, Sodoma e Gomorra, como Isaías disse que, no seu tempo, Israel se tornara, ou até mesmo Jesus, falando da dureza de coração dos moradores de Cafarnaum, onde ele morava e na sinagoga da qual cidade pregava:

 Isaias:

"Ouvi a palavra do Senhor, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra".  Isaías 1:10

Jesus:

"Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje.
Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo".  Mt 11:23,24.

      Não. Pelo argumento de Abraão, Gn 18,25, há justos em quantidade, ainda, no mundo, esses que estão, como Tiago diz, orando:

"Longe de ti o fazeres tal coisa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de ti. Não fará justiça o Juiz de toda a terra?".

       Tenho certeza que COVID-19 não é juízo Teu. Não porque Tu não tenhas esse direito. Porque quem somos nós para Te instruir, como, de novo, argumenta Isaías, em 40,14:

"Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?".

     E eu ainda incorro neste versículo abaixo, Isaías 45,9:

"Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de barro entre outros cacos. Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua obra não tem alça".

      Mas o COVID-19 está matando justos e injustos, ricos e pobres, em todos os países, de todas as raças, indiscriminadamente. Pelo argumento de Abraão, não é juízo; pelo argumento de Isaías, estou passando de meus limites. 

     Lá fora piou um pássaro. Para ele, não há preocupação. Vai amanhecer. Como eu disse no sermão de domingo passado, segundo escreveu Davi no Salmo 57,7-11:

"Firme está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme; cantarei e entoarei louvores.
Desperta, ó minha alma! Despertai, lira e harpa! Quero acordar a alva.
Render-te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as nações.
Pois a tua misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nuvens.
Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória".

      Grato, Pai, poder Te chamar assim. Grato por Teu amor por mim e pela humanidade, cada um dela. Se esse vírus é mesmo uma experiência de laboratório, espalhada de propósito, não interessa mais por quem, eu sei que Tu costumas deixar ao homem danar-se por sua própria causa. 

     Há não poucos ateus que, sem razão, afirmam que a maldade é a maior prova de que Tu não existes, por causa da Tua indiferença, dizem. Mas não. 

    Maldade não vem de Ti. Remédio para ela, vem de Ti. Ainda, Pai, que fôssemos culpados, por haver entre nós quem, inopinadamente, espalhasse (porque embora eu não acredite nisso, acho que haveria quem, como um nazista, não importa em que latitude, fizesse) às cobaias esse vírus, diga, Pai, diga que "Basta".

    E que essa próxima alva, esse novo dia que o piado desse pássaro, lá fora, que não conheço, que este dia que chega traga boas notícias. 

     Grato, Pai, por me ouvir. Grato, Pai, por nos ouvir. Ah, sim: vou compartilhar essa oração com o meu amigo e irmão, não necessariamente nesta ordem, padre Massimo. Ah, sim: ele é italiano. Eu acho que nem precisava Te lembrar...

       E talvez também, com alguns pastores. 

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