Outra tendência atual é a tentativa de modificações do texto
bíblico, no intuito de adaptá-lo à visão de variedade de gênero adotada,
de modo geral, nos discursos da sociedade moderna no mundo todo. Ora,
alterar o texto bíblico ao gosto do freguês nada resolve, por duas razões:
(I) a mais óbvia, é que quebra a autenticidade do próprio texto; (II) a
outra, é que mascara o que já foi dito, sem esconder o que já está lá
escrito. Portanto, resta outra solução, não menos óbvia, que é a solução
hermenêutica, ou seja, entender o texto, aplicado ao nosso tempo.
O problema, melhor dizendo, a solução para entender a
argumentação bíblica está em situar no Gênesis o ponto de partida de sua
cosmovisão. Vamos repetir aqui, a fim de aplicar a esta argumentação: o
texto bíblico diz que Deus criou homem e mulher, macho e fêmea,
abençoando-os e dizendo “crescei e multiplicai-vos”, ou mais claramente,
“façam sexo e gerem filhos”, para povoar o planeta. Ora, deduzem-se
duas coisas: (I) a concepção original bíblica para o casamento é
heterossexual, monogâmico e indissolúvel; (2) constituem-se em família
homem, mulher e filhos gerados dessa relação. Então, todos os textos
seguintes estarão em acordo com essa concepção. Ou seja, se a relação
heterossexual é posta como padrão, qualquer outro gênero de relação
será, no texto bíblico, reprovada. Trata-se de coerência com uma
cosmovisão previamente adotada.
Retornando ao texto bíblico, em sua sequência, ocorre o que está
indicado em Gênesis 3, que é a narrativa da queda: homem e mulher, com
relação a todas as suas decisões e conduta, optam, por sua atitude, a não
levar sempre a efeito o padrão de Deus. Daí que, com a continuação da
história, por exemplo, a Bíblia já indica a decisão de um homem escolher,
para si, duas esposas. Deduzimos, então, que nesta e em outras muitas
escolhas, homens e mulheres escolhem conduzirem-se, se quiserem ou
não, pela vontade de Deus. Aonde esta argumentação nos conduz?
A dizer que, os que desejam seguir o que a Bíblia expressa, que o
façam. Os que não desejam seguir, também o façam. Há liberdade dada
por Deus para esses dois grupos. Mas, por favor, os que decidirem não
seguir o modelo bíblico deixem o texto como está. Ridículo ir à Bíblia para
modificá-la. Ora, digo ridículo porque, se todos os que não seguem o
modelo de conduta indicado nas Escrituras lhe quisessem modificar o
texto, teríamos milhões de “Bíblias”. Assuma sua conduta com coragem,
seja ela a que condiz com o texto bíblico ou a que não condiz. Mas caso
assuma a que não condiz, não queira, ao inverso, justificar-se pelo texto.
Por que está tentando buscar, exatamente, na Bíblia, a sua justificativa
para não fazer o que ela diz? Sustente a sua decisão por si, conteste o
Livro e siga adiante. Ou será que sua postura não é suficientemente
segura para que você a assuma, sem a necessidade de perverter a fonte
bíblica?
3. Homossexualidade na Bíblia
Não faremos um exaustivo estudo aqui deste assunto. Apenas
citaremos textos que atendam ao objetivo desta lição, que é: (I) situar a
proposta bíblica de casamento no contexto social atual; (II) indicar que,
sem fugir ou distorcer o texto bíblico, é possível convivência respeitosa
entre os grupos a favor ou contra o modelo bíblico exclusivo de
casamento.
Um dos primeiros textos sobre homossexualidade, ainda no
Gênesis, diz respeito à destruição das cidades de Sodoma e Gomorra. O
termo “sodomia”, que significa “sexo anal”, deriva do nome da cidade,
pois Gn 19.5 narra que homens cercaram a casa de Ló, sobrinho de
Abraão, para que os homens de “boa aparência” nela abrigados – na
verdade, pelo texto bíblico, eram anjos – fossem dados a eles para que
abusassem sexualmente deles. Modernamente já presenciei citações
dessa história e das orgias praticadas naquelas cidades como não
negativas, porém como procedimentos naturais, como se fossem uma
festa de vale tudo. Aliás, frequentemente, praticadas em variados níveis
da população, basta ver links na internet. Vamos aplicar a esse texto o
método acima sugerido, definindo dois grupos: (I) os que se escandalizam
com a sugestão daqueles sodomitas e seguem a argumentação bíblica; (II)
os que não seguem a argumentação bíblica, e julgam natural aquela
sugestão.
Aliás, já falamos sobre sexualidade e reafirmamos aqui que o
texto bíblico tem, em suas páginas, exemplos negativos e positivos. Com
relação a estes, repetimos que, na Bíblia, sexualidade: (I) cumpre o papel
da atração recíproca homem e mulher, como define o Gênesis; (II) deve
ser ensinada, acompanhando o desenvolvimento das crianças, aprendida,
de início, no contexto da família; (III) tem seu clímax no ato sexual, o qual
deve ser praticado no matrimônio que, em si, é confirmação de
maturidade e pressupõe condições de manutenção de um compromisso
permanente. Portanto, sexualidade, na Bíblia, insere-se num contexto de
educação sexual, que postula direcionamento para uma relação
heterossexual, assim como continência, a fim de que seja dirigida
exclusivamente para o casal, homem e mulher, no contexto do
matrimônio.
Portanto, práticas homossexuais não condizem com a cosmovisão
bíblica, já definida a partir do texto da Criação, no livro do Gênesis. Não há
por que tentar modificar essa cosmovisão. Trata-se de adotá-la, ou não.
Os que a adotam, não devem impor sua própria visão a outros ou acusar
os que não a aceitam. Daí vão se derivar as posturas de convivência
respeitosa de parte a parte. (continua)
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