Cheguei a Cascadura em 1966. Minha mãe havia sido contratada para professora em Nilópolis, município onde nascera em 1930 e, desde essa época, na Congregacional de Nilópolis.
Meu pai havia ganhado no argumento de que, agora professora em Nilópolis, de 2a a 6a feira, deslocando-se de Cascadura, uma ida a mais no domingo era puro estresse.
Então, fomos para a Congregacional de nosso bairro, porque era sair da Mendes de Aguiar, atravessar a Ernani Cardoso, ladear o atalho pela vila, ao lado da horta, e chegar à João Romeiro 212.
E foi ali que, aos 7 anos incompletos, comecei a fazer parte da história da igreja, conhecendo os heróis de fé que a fundaram, desde 1953, sem saber que seria seu pastor em 1983-1994.
Um dos heróis era "seu" Guedes, esse da foto, ao lado de crianças, sua especialidade. Foi nesse tempo que conheci, na Vila das Torres, a comunidade de Magno, em Madureira, apertada entre a linha do trem e a horta.
Aquela mesma horta que começava (ou terminava) ali, na João Romeiro, encostada na subida do Morro do Fubá. Ali conheci Milton e Edinalva, Possidônio e Rita, Manuel e Maria Marques.
Pastores sabem que eles passam e as igrejas ficam. Mas carregamos essas lembranças. E por alguns, quase que não podemos dizer isso, sem despertar um santo ciúme, ficamos marcados.
Esse grupo de Magno me marcou profundamente. Manoel Marques meu soldado de todas as guerras em Curicica. Trabalho tão antigo e tão traumatizado.
Pr Zefanias, octogenário já, estagiou nessa igreja que quase, definitivamente, fechou. Cheguei lá em 1982. Era uma Congregação reaberta por Cascadura, que ninguém queria.
Manoel Marques agigantava-se. Chuva torrencial. Eu chegava lá, vindo da Uerj, pela Grajaú-Jacarepaguá, lá estava plantado no portão, ainda fechado, debaixo de um enorme guarda-chuva, com seu sorriso angelical. Olhando aquele sorriso, eu sabia como Jesus sorri.
Possidônio, certa vez, d. Rita, esposa dele, desobedeceu-o. Porque ele atravessou por cima da linha do trem, na Vila das Torres, um carrinho de mão e muito ferro velho, andando até Turiaçu, para vender: era mês de missões em Cascadura.
Escondido dele, agora com luxação nos joelhos, pelo esforço feito, mais de 70 anos, ela pedia ajuda. Levei-o ao hospital em Mangueira. Lá ele quis que eu confessasse a arte de d. Rita. Eu disse, deixa pra lá, irmão: afinal, ela tem razão.
E com relação à Edinalva Santos, era a família inteira. Aquela de Manoel Marques também era grande. A de Possidônio, apenas um filho, já adulto e casado. Mas a principal marca da família Santos era a união.
Lembro certa vez, e se torna fácil lembrar, que o telefone tocou no ap do Méier. Dia 5 de julho de 1982, dia da chamada "Tragédia do Sarriá". Edinalva, avisando que Milton estava em casa.
E o assunto era exortar o marido a estar mais presente na Igreja. Ela pediu que fosse urgente, para cercar o pai das meninas e do menino Enéas. Parti do Méier nesse dia fatídico.
E cerquei mesmo o Milton na Vila das Torres, para conversarmos sobre a importância de não abandonar a congregação, como diz o autor de Hebreus. Enquanto eu a Milton conversávamos, Paolo Rossi marcava o terceiro contra a seleção de Telê Santana.
Se alguém disser que não era essa a hora de conversa, é porque não conhece Edinalva. Pelo cuidado com o marido e com os filhos, não media esforços. Ora, se ele estava ligado no jogo do Brasil X Itália, mais do que estratégico cercar o homem. Estratégia de mulher: deixa Telê para lá, entre em campo o pastor.
Foi assim que lutou todo o tempo para manter a família unida e unida em torno do evangelho. Sempre existiu reciprocidade. Ela sempre foi grande apoio na União Feminina da igreja e sempre atendeu e reagiu positivamente aos estímulos que, como pastor e liderança da igreja ela recebeu.
Dorcas, minha mãe, Lourdes, a sogra e Arsylene, esta a esposa do pr Henrique Jardim e, mais atrás no tempo, Rute, esposa do pr Amaury sabiam que era para toda a obra o seu esforço e prontidão.
Rute conhecia sua disposição nos dias de 21 de abril, festas do Abrigo e Pedra de Guaratiba. Por isso a história da congregação de Magno e de Cascadura confundem-se, misturadas aos serviços, preocupações e prontidão de Edinalva.
Há pessoas que têm a igreja como referência, arrastando-a para o restante da vida. Outras são assíduas, não falham com relação aos seus compromissos com ela. E outras, ainda, como diz o salmista, moram na Igreja ou desejam isso continuamente.
Fazem seu ninho na Igreja. Ao longo de sua vida, essa mulher percebeu, e bem rápido, que deveria ser assim com sua família. Por isso, pastoreava seu marido. O filho e todas as filhas. E aposto que também netos e netas.
Sem dúvida o chamado para o filho, agora pastor, teve no zelo de Edinalva essa ressalva positiva. Parabéns, Edinalva, por seus muito bem vividos 80 anos. Nós, seus pastores, carregamos a lição desse seu zelo, que tornou tão bonita a sua família, continuamente exortada a estar sempre ao lado de Jesus.
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