terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Trocadilho fácil


                 Nair, da família de Jesus. Também sou. E por nascimento. Claro, alguém pode até questionar. E se eu disser que tio meu, Isaías, também foi buscar parentesco nessa família? Tem gente que, da família de Jesus, está perto. Não adianta: tem de nascer nela.

                  Diz que é preciso nascer de novo. Nascimento biológico só, não conta. É necessário novo nascimento. E como pode isso? Jesus sempre soube. E ensinava isso. Lembro-me de 1970. Eu começava a estudar piano. Burro. Até hoje me arrependo de ter abandonado. Mas também, não foi minha única burrice.

                 Férias inesquecíveis. Não sei se minha prima Keila talvez se lembre. Assim, quando muda a lua, se dói algum osso. Às vezes, acontece. Aliás, para falar em lua, víamos nascer, soberana, pelo janelão daquela hoje centenária casa pastoral. Tomara que ainda esteja de pé. Gosto de antiguidades.

                   Ficava treinando no piano no porão da igreja. Devorei o Mascarenhas de Moraes. Gozado. Não sabia ler as notas no seu valor, então inventei ritmo. Ali pertinho, o chafariz luminoso da praça, em Santo Antônio de Pádua. Será que também assim ainda alumia, seguindo os acordes da música?

               Eu ficava esperando as meninas chegarem, com tia Nair. Eu e Dorcas, lá, já estávamos. Acho que Cid e Isaías, irmão caçula, viriam depois. Aqui a memória já falha. Quando chegassem as meninas poderíamos, juntos, iniciar as peraltices. Falando nisso, é melhor mudar de assunto. Voltar a Jesus.

                Ele sempre soube que era necessário nascer de novo. E vivia espalhando isso por onde andava. Aqui de novo vem à memória seu Jipe Willis. Muita chuva. Abaixem-se as lonas das janelas. Ponha-se a funcionar o artesanal limpador de para-brisas. Aquela poeirinha d’água entrando, por todos os lados. Prosaico veículo anos 60.

           Esticamos até Recreio, já em Minas. Haveria batismo na congregação. Assisti a eles. Batismo de batista, com muita água. Sou congregacional, como minha mãe. Teimosa, combinou assim com meu pai, este batista, como tio Isaías. Então, batizamos com menos água. Batistas imergem, congregacionais aspergem.

           Detalhe. O que importa mesmo é ter nascido na família de Jesus. Ou melhor, ter nascido de Jesus, não importa a família. O que importa mesmo nesta história é que eu fui testemunha de, pelo menos, desta viagem com Jesus, sem ligar fronteiras, espalhando o evangelho de Jesus, este o da Bíblia.

           Vi outras coisas, também como se fazia linguiça, num açougue na cidade, degustando uns nacos improvisadamente assados. E o cabrito acidentalmente atropelado na estrada? Acertado o prejuízo com o proprietário, também o degustamos. Tudo isso, antes de meu exílio improvisado numa fazenda próxima, devido ao excesso de peraltices: não era para qualquer cristão.

           Não me perguntem o nome. Mas havia, huuuummm, queijo qualho e requeijão feitos de manhãzinha muito cedo, biscoitinhos de fubá assadinhos no fogão à lenha. Com um guri, de que também não lembro o nome, ora, como pegamos ratos num armazém enorme, cheio de arroz recém colhido, à noite, usando como armadilha uma ratoeira de ferro, besuntada com esse requeijão caseiro, quer dizer, roceiro.

           Com esse mesmo cúmplice, subimos em árvores nas redondezas e assistimos a mais cultos nas congregações das cercanias. Sempre cultos. Sempre congregações. Sempre igrejas. Jesus sempre gostou de igrejas. Ensinou sua família também a gostar de igrejas.

           Igreja é como hospital: dentro, cada um tem um tipo diferente de mal. Há quem se julgue melhor do que o outro, mas este também é um mal adicional. Não adianta: todos são, por igual, doentes, doença a que só a Bíblia dá o verdadeiro nome: pecado.

            Alguma falha ou defeito, todos têm. A diferença é que, da igreja, nunca se tem alta. A não ser, quando se vai para o céu. Jesus já foi para o céu. Isaías, Cid, Nair e Dorcas, também. Todos da família de Jesus. Ele sempre, por onde andou, espalhou essa fé e certeza: é necessário nascer de novo, e nascer de Jesus. O jovem rico, da Bíblia, tinha outra riqueza. Jesus fez o teste, fingindo que queria dele grande prejuízo, perda total dos bens.

                Jesus só queria que ele entendesse que riqueza não compra tesouro no céu. Que riqueza daqui não sobe para lá. Perda total é compreender que a vida, o mais importante, precisa ser entregue como propriedade de Deus, pelo sangue de Jesus, o da Bíblia, com o selo de garantia do Espírito Santo. Quando a gente crê nisto, recebe esse Espírito como selo.

           Depois, tanto faz se no batismo haverá pouca ou muita água. Esse batismo no Espírito, essa fé em Jesus, essa propriedade de Deus que somos, Sebastião de Jesus espalhou, como mensagem, pelos rincões de Pádua. Uma dessas viagens, pelo menos essa, eu testemunhei.

             Um dia Isaías foi buscar para casamento uma de suas filhas. O jovem ateu da Juventude Comunista assistia, na casa de minha avó, em Nilópolis, cultos de oração. Cid e Dorcas, de joelhos, orando. Por pouco tempo aquele ateu resistiu o chamado de Jesus.  

           Minhas lindas primas, Naísa e Keila, e o Isaías Júnior, primos de outras lindas primas e primos. Grande família, essa família de Jesus. Todos e todas pertencem à família de Jesus. Quantos mesmo, da família de Jesus? Quantos, mesmo, já nasceram de novo? Trocadilho fácil. Sebastião de Jesus imitava Jesus, este o da Bíblia. Mas esta indica a imitação de Cristo. Pronto. Ponto.

3 comentários:

  1. Chorei, primo! Que texto engraçado e emocionante! homenagem linda! Obrigada! Pra sua pergunta, digo sim. Sim eu sinto meu ombro direito e sempre me lembro que você me derrubou da bancada... e a gente se divertia pra caramba🙌🙏❤️

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    1. Lindos tempos. Bons tempos. Valiosa herança nossos pais nos legaram. Vamos seguir nessa fé. Ensinar nossos filhos a seguir nessa mesma fé. Acreditamos na ressurreição de Jesus.

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