sábado, 30 de maio de 2015


  Minha alma tem sede de Deus

              Pelos menos, três aproximações: (1) quem fala, (2) o que fala e (3) de quem fala. Homem, a sede e Deus. O salmista, confira lá, no Livro dos Salmos, nº 42, diz que tem sede de Deus. Qual a natureza dessa sede? Quem diz que nutre essa sede? Que Deus?

              Bem, com relação a quem fala, quantos se identificariam com ele? Quantos há que podem dizer, com o salmista, "minha alma tem sede de Deus"? Problemático, porque para cada um que fala, será um deus diferente. A não ser que ocorra uma combinação, o grupo partilhe de uma mesma crença porém, mesmo assim, a ideia de Deus será distinta para cada um.

             Que celebrem, entre si, um credo, que combinem, entre si, uma doutrina, quem sabe, então, será possível estabelecer uma mesma crença para o mesmo deus. Mas, falando de Deus e não de deus(es), como cada qual que assim se expressa, dizendo ter sede, o deus em questão terá um critério definido ou, falando de outro modo, esse deus será definido de modo específico, para que todos, com relação a ele, assim se expressem?

               Sede. O que fala de Deus? Tem sede. Evidentemente, sentido figurado, que será entendido por uma ânsia, vamos usar esta palavra, por algo vital, no caso, comparado à água, indique que, com relação a Deus, não se pode prescindir, do mesmo modo que água e que, caso não seja satisfeito, mantém essa mesma ansiedade em qualquer que, desse modo se manifesta.

            Deus. Que Deus? O Deus que a Bíblia define? Salmo 42 é texto da Bíblia. Seria o Deus imaginado no Salmo, especificamente? O Deus do Livro dos Salmos? O Deus do Antigo Testamento? No caso, encarado como Deus o da Bíblia, complementariam-se Antigo e Novo Testamentos, para apresentar uma identidade de Deus? 

               De qualquer modo, sede desse Deus, assim definido, assim exposto nos texto referenciais do Livro. Como cada qual que lê, explicita esse Deus? Como o salmista se expressa quando define o que sente e que imagem reflete ao leitor? Pelo menos três coisas ele afirma.

             Primeira: sente sua alma abatida, por isso vem a sede de Deus. Segundo, sente saudade da multidão de povo, com a qual se identificava, quando iam todos juntos à Casa do Deus. Terceiro, na calada da noite ele dirige uma oração a Deus, ele fala com Deus.

              Abatimento da alma, comunhão com iguais e fala pessoal, num boca a boca, num cara a cara com Deus. Visto por um ateu, permitam-me buscar tal viés ou esse ponto de vista da narrativa, essas três razões são típicas ou lugares comuns para que fique clara a dependência, carência emocional do ser humano por uma figura, digamos, divina.

           O conjunto das mazelas humanas, que findam por provocar abatimento ao ser humano, por causa de sua inconformidade frente a sua fragilidade; o conjunto de iguais que decide, entre si, fechar questão em torno de uma religião ou doutrina, todos combinados em aceitar rituais, fixar liturgia e estabelecer simbologia sobre o deus no qual afirmam crer; e, por fim, a solidão existencial do homem, todos à parte, quando mergulha dentro de si, num momento em que ninguém pode socorrê-lo em seu medo ou com ele se identificar, nesse momento extremo, fala com seu deus.

             


     
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário