Talvez, sede.
Sede, aperto humano sensível e alarme
constante que requer satisfação imediata. Sede de água, por exemplo, mais
radical do que sede por pão, visto que menos se demora vivo quando se desidrata,
do que quando se definha por fome.
Há sede que se torna doentia, acho que
nem cabe definir por esse mesmo termo. Por exemplo, a ânsia do viciado que,
dependendo do apelo pelo vício, ocorre até desvio de conduta. Quem rouba ou
agride por drogas ilícitas, de dependência mais forte, diferente de quem, outro
exemplo, é um comedor compulsivo.
Vício por bebida, droga lícita, ou
cigarro, célebre cancerígeno, ou mesmo pelo jogo, aqui encarando sede já como
termo metafórico. Há outros sintomas ou tipos de sede que os viventes nem, de
longe, reconhecem ou admitem que dela sofram.
Sede pela palavra. A metáfora, aqui, é
que a palavra se constitui num alimento necessário à sobrevivência, vital num outro sentido. A Bíblia aplica essa metáfora
por ocasião da tentação de Jesus, quando lhe é oferecida a chance de
transformar pedra em pão. Ele respondeu que, nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.
A resposta de Jesus é que palavra é vital. Ele mesmo, certa vez, disse que sua comida era fazer a vontade do Pai, no caso, Deus. Assim como disse, em outra oportunidade, numa polêmica férrea com os judeus, que o seu (dele) corpo se constituía em verdadeira comida e seu (dele também) sangue se constituía em verdadeira bebida. Para mostrar como se constitui vital crer nEle.
Declara também, a Si mesmo, ser o pão que desceu do céu: “Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. [...] Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.”
Declara também, a Si mesmo, ser o pão que desceu do céu: “Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. [...] Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.”
Para esse tipo de sede não há alarme
da parte dos homens. Eles não sabem o quanto é vital e, por isso, não
reconhecem a necessidade crucial de satisfazer tal sede. É urgente fazê-los enxergar, perceber, sentir essa carência,
confrontando-os com os danos causados pela recusa da palavra, como alimento
vital.
No caso, é a própria palavra que
esclarece e diagnostica essa carência, em que sentido e para o que ela mesma se destina e para quem
aponta. A palavra aponta para Jesus, que a Bíblia indica como Logos, palavra
viva, de Deus. A sede é por Jesus, pão dos homens, água da vida.
Quem já saciou sua sede e sua fome
pertence ao grupo dos que podem tornar claro aos demais, por meio de seu
testemunho, que necessitam beber dessa mesma água e comer desse mesmo pão.
Identificar tal carência e demonstrar, por diagnóstico, a real necessidade àqueles que, sem saber, sofrem pela
falta de água da vida e de pão do céu é a missão dos que dela já beberam ou do pão já se alimentaram.
Isaías define os antecedentes desses
que já encontraram Jesus: “Todos nós
andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor
fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.” Aqui se deve entender qual é a relação entre, de um lado, andar desgarrado como ovelhas/desviar-se pelo caminho e, de outro, fazer cair sobre "ele" a iniquidade de nós todos. Quem é "ele"?
O vocábulo “todos” é disposto
estrategicamente nesse texto, no início e no fim, e se refere a todos os homens
e mulheres. Atribuído a esses, o “andar desgarrado”, o “desviar-se pelo caminho”
e a “iniquidade”. Atribuído a Jesus, o “ele” do texto, a carga: andar
desgarrado e desviar-se pelo caminho corresponde, na terminologia bíblica, à iniquidade.
Em que sentido, pode-se perguntar, o
texto afirma que “fazer cair a iniquidade sobre ele” faz converter o rumo de quem “anda
desgarrado” ou se “desvia pelo caminho”? Somente uma palavra explica essa
associação. Fazer cair sobre Jesus é um ato divino, segundo o texto indica.
Andar desgarrado e desviar-se pelo caminho é labor humano e incorre num preço a ser pago.
O que faz alguém se desviar pelo
caminho ou se desgarrar de um rumo definido é uma equivocada filosofia de vida. Certamente,
há um padrão e um caminho, uma "vereda de justiça, por amor do Seu nome" e os que se desgarram, ou seja, todos, pois todos se desgarraram, saíram do padrão, carregam sobre si iniquidade.
A conduta se torna, então, laborar em iniquidade, dissidente, fora e iníquo, in (não) + aequus (igual, parelho), não igual, não condizente, não concernente ao padrão.
Que padrão? Padrão da vida, padrão de Deus. O preço
a ser pago, diante de Deus, pela fuga ao padrão e incursão em iniquidade,
conduta não aprovada por Deus, esse preço é que Jesus pagou, carregando sobre si a iniquidade de nós todos. E o
homem precisa saber que nutre uma fome de Deus, fome e sede pela palavra que o
reconduz ao caminho de Deus, à conversão de rumo, a voltar-se para o frente a
frente com Deus.
E só a palavra pode convencer quem
está nesse desvio, que são todos, demonstrando como ocorre essa troca, do
desvio para o caminho de Deus, que é Jesus, argumentando de que modo, pela
palavra, alguém se convence dessa necessidade.
Talvez, sede. Certamente, sede. O
homem nem sabe que tem sede por Deus e por trilhar, em Jesus, o caminho. Éramos
desgarrados e nos desviávamos pelo caminho, mas Deus fez cair sobre Jesus essa
iniquidade. Portanto, essa sede é de se alimentar da palavra de Deus e
reconhecer ser melhor, muito melhor trilhar o Caminho. Sede do pão e da água da vida. Sede de Deus, satisfeita em Jesus.
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