sábado, 21 de maio de 2022

Teologia bíblica da vocação - 15

 Missões para as pessoas de bem, para os bons cidadãos, para os mais abastados, para aqueles que lotam nossos melhores restaurantes nos fins de semana, aqueles que enchem nossos lagos e litorais com seus barcos, iates e jet ski, missões para profissionais, artistas de rádio e televisão, desportistas, etc. está caindo em desuso. Até mesmo certas organizações que outrora exerciam papel preponderante no alcance dessas pessoas, estão hoje em declínio. Jesus não agiu assim. O mesmo Jesus que disse: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar boas novas aos pobres… (Lucas 4.18a), gastou também o tempo necessário com um homem rico, Nicodemos, para colocar os pés dele para dentro do reino de Deus. (João 3.1-21). O que Jesus nos ensina com isso? Ensina que todo aquele que tem seus pés fora do reino de Deus, seja pobre ou rico, “está em situação de risco”…

Não queria entrar muito nesse assunto, mas preciso dizer que alguns estão equivocados sobre o sentido de Missão Integral. Acham que Missão Integral é missão para pobres. Puro engano! A Missio Dei é integral da primeira à última página das Escrituras. E isso para todas as pessoas, em todos os lugares e em todas as situações, independente de raça, cor, status social ou poder aquisitivo. As Escrituras jamais ofereceram para alguém, um evangelho dicotomizado. É claro que Missão integral inclui os pobres, mas não preferencialmente e muito menos exclusivamente. Missão Integral é como bem colocou Valdir Steuenager:
“O evangelho falava de mim e do outro, especialmente do pequeno e do pobre. O evangelho falava do corpo, da alma e do espírito. Ele falava da pessoa e dos sistemas e estruturas onde elas vivem. Falava do passado e do presente e apontava para o futuro de Deus. O evangelho mostrava um Jesus que anunciava e vivia o reino de Deus, e me convidava a segui-lo nas sendas da esperança desse reino.” (A Missão Integral nem é tão integral assim!), ultimatoonline [ultimato@ultimato.com.br], edição de 25/05/2014).

Missão Integral, ou MI, como a trata Steuenager, inclui os pobres, sim, mas inclui muito mais do que isso. Tem a ver com a estrutura de sociedade em que as pessoas vivem, sejam elas pobres ou ricas. Tem a ver com a história, a cultura e as tradições das pessoas. Tem a ver com corpo, alma e espírito e tem a ver, em ultima análise, com a visão do reino de Deus e não com visões particulares.

Em Xerente, por exemplo, não existe palavra para pobre e rico. O colega que fez a tradução do Novo Testamento para a língua Xerente, Pr. Guenther Carlos Krieger, teve que “fabricar” juntamente com sua equipe de tradutores nativos, expressões descritivas na língua indígena para essas duas palavras: Pobre, ficou: rom kõ tdêkwa ‘aquele que não é dono de nada, e rico, ficou: rom zawre tdêkwa ‘aquele que é dono de muitas coisas’. Mas a sociedade Xerente é igualitária e sua estrutura é essencialmente integrada. Lá não se faz as tradicionais dicotomias que fazemos por aqui, como material versus espiritual, religioso versus profano, animado versus inanimado, corpo versus alma, e assim por diante. Em Xerente, a palavra para alma ‘dahêmba’ é usada também para corpo. Quando se quer fazer a diferença entre uma coisa e outra, tem-se que fazer uma “ginástica” linguística muito grande…

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