sábado, 21 de maio de 2022

Teologia bíblica da vocação - 7

 VOCAÇÃO E CHAMADA E SUA RELAÇÃO COM OS DONS ESPIRITUAIS

Na Vocação Geral, como já dissemos, todos os crentes estão incumbidos e comprometidos com o testemunho de Cristo, independentemente dos dons espirituais que tenham recebido do Espírito Santo. Já, na Vocação Específica, há uma harmonia entre o chamado de Deus e os dons espirituais recebidos pela pessoa chamada. Quando a Bíblia preconiza que todos os crentes são vocacionados, ela o faz na base dos dons espirituais que cada um recebe, dons, esses, correspondentes com os ministérios que irão exercer.

Essa correspondência entre dom e chamada pode ser constatada facilmente nos exemplos das chamadas específicas já demonstradas, tanto no Velho como no Novo Testamento. Deus não chama pessoas para determinados ministérios sem que elas tenham os dons correspondentes para exercê-los, nem mesmo sem que elas tenham talentos, aptidões, tendências e até mesmo preferências e “jeito” por tal ministério.

Por isso, convocações de caráter muito geral e envio aleatório de pessoas para campos missionários, do tipo “f altam cinco pessoas para compor o grupo que vai para o país tal” sem se levar em conta os dons dos convocados, são convocações temerárias. Elas podem trazer problemas tanto para os campos missionários para onde cada elemento vai, como para o próprio elemento, com o perigo de desencorajá-lo mais do que incentivá-lo.

Estamos vivendo uma época em que convocações de missionários temporários e voluntários em missões tornaram-se muito comuns. Igrejas têm enviado grupos e até caravanas para campos missionários, esperando que lá todos façam missões. A iniciativa não é má, em si. Mas, corre-se sempre o risco de enviar gente que nunca teve um chamado específico e nem tem os dons necessários para os trabalhos a que está se propondo.

Convocação missionária é coisa séria e não pode ser feita na base de impactos, sensacionalismo e emoções, e os alvos dos convocados devem ser bem definidos. Sem exagero, é possível até que alguns aproveitem a ocasião para fazer turismo, especialmente se o campo missionário proposto for algo exótico ou se for mesmo um ponto turístico. Tive oportunidade de verificar isso no meu próprio campo missionário entre os índios Xerente, no Tocantins, o que, obviamente, não é o caso de narrar aqui. Tenho ouvido, entretanto, mais do que uma vez, testemunho de gente que esteve em campo missionário e demonstrou, em palavras e gestos, o quanto estava alheia à realidade do que estava fazendo. Certa vez ouvi o testemunho de um jovem que serviu por um tempo como voluntário num desses conhecidos trabalhos com dependentes químicos. Quando ele chegou à parte da história onde tinha até que “dar banho” em alguns dos dependentes químicos, ele deixou transparecer, no rosto e em suas palavras, a sua “repugnância” pelo trabalho que havia feito. Uma grande pena, pois seria exatamente num serviço como esse que uma pessoa dotada para a função, demonstraria seu amor, seu carinho, sua compaixão pelo dependente químico, levando-o a entender o amor de Cristo e ter sua vida por ele transformada.

É bom que a igreja envolva toda a sua membresia no trabalho de evangelização e missões, mas deve-se tomar o cuidado de não se introduzir pessoas em campos missionários e em outros trabalhos, fora de seus dons espirituais e de sua proficiência.

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