segunda-feira, 18 de março de 2019

Os discípulos - 8

                Simão 

              Homônimo de Simão Pedro, este é o chamado zelota. Além deste título, pouco se sabe dele. Porém, o que seu partido político-religioso representava, era algo tão forte entre todos os judeus, que a última pergunta da última conversa do Jesus com os apóstolos foi sobre esse assunto.  

          Lucas refere-se, em Atos, à insistência dos discípulos em saber se o tempo de restauração do reino político, para Israel, estava prestes a ocorrer. A preocupação de Jesus era com outro reino, a respeito do qual ele já esclarecera: “o reino de Deus não vem com visível aparência, dele não dirão ‘eis aqui, lá está’, porque o reino de Deus está dentro em vós”. 

     Portanto, a resposta de Jesus aos onze, naquele momento, entre eles este Simão, era que receberiam poder do Espírito e seriam, de Jesus, testemunhas, até os confins da terra (e dos tempos também). A igreja é sinal permanente do reino de Deus dentro daquele que crê, até a próxima (e última) vinda de Jesus. 

      Muito provavelmente o chamado do zelota provocou dois efeitos: (1) um, nele mesmo, por ter que se ocupar com a estratégia do reino de Deus, em tudo diferente da estratégia política de reino pela qual ele era militante e estava acostumado a ser doutrinado; (2) outro efeito, nos apóstolos, por ver entre eles um militante do principal partido de oposição aos romanos, com história de rebeliões, assim como promessa de outras por vir.

        Pelo tempo dessa primeira rebelião, aliás liderada por um tal Judas, o galileu, Jesus deveria ter entre 10 a 12 anos. A próxima e notável foi profetizada por Jesus, em seu sermão de Mt 24, ocorrendo em 66-70, conhecida como primeira guerra judaico-romana, responsável pela destruição do templo em Jerusalém. 

     Chama atenção a estratégia de Jesus em acolher, entre os discípulos, um mosaico de personalidades. Alerta-nos para a tendência em uniformizarmos as pessoas, tentado enquadrá-las num padrão específico, que acaba gerando rejeição, preconceito e discriminação. Jesus chamou pescadores, André e Simão Pedro, nível social rasteiro, eles possuíam apenas redes. 

         Já os pescadores Tiago e João, eram filhos de um empresário da pesca. Mateus era funcionário da receita romana, conhecido como publicano e Judas, o Iscariotes, provavelmente de alguma função relacionada também a finanças porque, enfim, tornou-se o tesoureiro do grupo. Pode ser que Felipe, amigo dos pescadores, também fosse, pelo menos, um deles, pois era de Betsaida, ‘casa da pesca’. 

      Pessoas diferentes em suas preferências, níveis sociais, atividades profissionais espelham e representam os grupos que hoje formam as igrejas que nasceram de seu ministério, como Jesus havia planejado quando os convocou. 

      Imaginamos a agonia do zelota, confrontado com os métodos de Jesus, tendo de submeter ao Mestre sua intuição e militância. Eram escolas distintas. Muito provavelmente alguns dos elementos essenciais de ação social incomodavam tanto a Simão, quanto a Jesus. Mas havia, entre eles dois, divergência quanto à urgência e ênfase dos métodos de enfrentamento a adotar. 

        Simão aspirava a uma ação radical, imediata e, se possível, pelas armas. Ela ocorreu, como Jesus profetizou, culminando na destruição de Jerusalém e permanência do poder opressor do Império Romano, representante de todos os poderes opressores de todos os tempos. 

        Já a ação de Jesus, não menos radical, porém mais no sentido de ‘raiz’, definitivamente derrotou o mal, talvez não a presença dele, como qualquer zelota, que significa “zeloso”, desejasse de imediato. Porém derrotou a origem de todo o mal na humanidade, lançando semente e raiz do reino de Deus dentro, em cada um que crer. Não há derrota possível. 

       Não há ‘solução de continuidade’ com respeito ao reino de Deus, que (ou quando) está dentro em vós. Até Simão zelota também teve de aprender com o Mestre o específico que, somente pelo poder de Deus, os discípulos puderam conhecer.

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