terça-feira, 3 de abril de 2018

Mal traçadas linhas 79

       No caminho, o Senhor me guiou.

        Assim se expressou o servo de Abraão. Tarefa árdua recebera. Selecionar alhures uma esposa para o filho do chefe.

       Não que fosse servo distante do patriarca. Não era. Jurou pondo mãos por debaixo da coxa do velho que assim seria.

       E confiou a Deus sua missão. Por isso, foi bem sucedido. Adiante, se o casamento desandou, a culpa foi dos atores. Não dele.

     Também estamos no caminho. Pusemos a mão por debaixo da coxa de Deus, quando nos permitimos batizar, espalhando aos quatro ventos que somos crentes.

      Resta saber de que tipo. Somos responsáveis, de novo diante de Deus, pelo tipo a que nos impomos. Que máscara vestimos.

     Nus e fora do paraíso. Decidimos nos vestir mas, a toda hora, Deus manda retirar máscara, roupa e maquiagem. Ele é que deseja nos vestir. Ridicula a tentativa do casal primordial.

       Aconselho que de mim compres colírio, vestes e ouro. A fim de que não se manifeste a vergonha da tua (nossa) nudez.

       O amor de Deus não é opção romântica. Romantismo, também chamado mal do século, baseia-se numa premissa falsa.

      O amor é único a nos livrar do mal, do perverso efeito do pecado. Amor não é opção. É sim ou não. É ser ou não ser. Onde não há amor, Deus não está.

       Não inaugure o seu amor. Isaías diz que nossa justiça é trapo de imundícia. Nosso amor também. Amor não é seletivo e nele também não há intensidade.

      E dizer amor de Deus é redundância: porque fora de Deus, não há amor. Portanto, não finja. Olha a tua cara no espelho. Cara a cara. Um olhando na cara do outro.

       Igreja é o lugar onde nos miramos cara a cara, exatamente para, de modo dolorido, constatarmos que somos iguais. Se há algo doloroso para as pessoas é admitir que (todos) sem exceção somos iguais.

     Tira a roupa. Tira a sua (tiro a minha) máscara. Já caiu há tempos. Olha no teu próprio ridículo, escondido(a) atrás do quê? Igreja não é passarela, no palco da vida.

      Ridículo nosso andar trôpego e mal ensaiado. Igreja, o grupo é espelho, cara a cara, contemplando um no outro a vergonha da sua própria nudez.

     Saiamos, pois, em direção à cruz de Cristo, carregando essa vergonha. Essa é nossa autenticidade. Aconselho que compremos, a preço de sangue, vestidos, colírio e ouro depurado.

     Estando no caminho, Deus nos guia? A fim de que não se manifeste a vergonha da nossa nudez. Não sejamos ridículos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário