Certas frases das Escrituras, caso chegassem a nossos dias como se fossem a única, sem nenhuma outra, entre as tradicionadas como saídas da (própria) boca de Jesus, fariam efeito, ou o mesmo efeito. Hoje acordei imaginando o efeito desta: "Basta a cada dia o seu mal", caso somente ela fosse suposta herança entre tudo o que é atribuído a Jesus como ipsissima verba.
O sentido dessa frase deve estar ligado às seguintes circunspecções: a primeira delas é que, no dia de ontem, já ido, a ele couberam todos os males. Duas opções, pelo menos: o vosso pecado vos há de achar ou game over até o dia do Juízo Final. E faça o favor de atualizar sua agenda e desfazer os compromissos, porque nesse dia, compulsoriamente, estaremos todos juntos, diante do Telão e frente a frente com o Juiz.
Segunda delas, é que para este dia que aqui começa estarão reservados seus próprios males, pelo menos até 12 h, que é meia-noite no falar regional daqui. Reflexões sobre a maldade, costumam ser sutis, porque cada um, ao analisar sua malícia, está afetado por elas e nunca será, totalmente, isento. Desse modo, será facílimo nos julgarmos melhor do que outrem. E, principalmente, se julgarmos a nós mesmos protestantes, herdeiros indiretos da Reforma, vamos nos julgar melhores do que os outros.
Falha estúpida esta, porque a Escritura indica que somos indesculpáveis, quem quer que sejamos, visto que, no que julgamos outrem, a nós mesmos nos enganamos (e nos condenamos). E fazendo assim, argumenta Paulo na Carta aos Romanos, ignoramos, propositadamente, que foi a bondade de Deus, e não a nossa (própria), hipoteticamente, que nos conduziu ao arrependimento. Isto aqui, arrependimento, é o expediente que nos coloca frente a frente com Deus e, consequentemente, com o nosso pecado, não necessariamente nesta ordem.
Terceira delas, entre as circunspecções: Por quem sois? Pelo sangue de Cristo. Alguém se julga suficiente para avaliar a abrangência deste significado? Ora, se Cristo decidiu, por Si, intervir e assumir a culpa por todo e cada homem/mulher, filigranas, no varejo e no atacado do meu, do seu e do pecado alheio, alhures e algures, impossível abarcar num mínimo de compreensão toda essa abrangência. Na contabilidade do próprio mal, cada um aprende a, uma vez vacinado para esse veneno, precaver-se contra o mesmo mal praticado, evitando reincidência, repetições, o mesmo videotape.
O pecado, de tão entranhado em nossa personalidade, constante de nossa própria assinatura, enfrentá-lo passa a ser tentativa de fuga. Repeti-lo, acaba por nos tornar hipócritas e dissimulados. Envergonhados, só nos resta admitir ou, vez por outra, negar. Nesse jogo de ocultação/revelação, dizem as Escrituras, trava-se um embate, nós versus o Espírito, o Espírito versus nossa carnalidade. Talvez, o único trecho nas Escrituras que afirma que o Espírito milita. Milícia, diz um eventual dicionário, é "arte e prática da guerra" ou "a guerra propriamente dita". Talvez, de novo, a única passagem nas Escrituras que afirma que uma personalidade tão plácida como o Espírito se envolva numa, digamos, milícia.
E ora bem, vejamos, o que no Rio de Janeiro chamam milícia. Mas pode acreditar que esse Espírito não usa as armas dessa milícia, esclarece o (próprio) Paulo: as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus, anulam sofismas. Dicionário eventual: Sofisma é argumento falso ou raciocínio viciado, usado intencionalmente para induzir o outro ao erro. Denomina-se sofisma formal se as premissas que o sustentam são válidas e se sua falsidade derivar do mau uso das regras de inferência lógica." Enfim, sofisma, seja no barato ou no requinte: costumamos praticar dos dois tipos.
Basta o seu (próprio) mal. Quando o engendramos, e somos nós, unicamente, os humanos, que o engendramos, costumamos dissimular esse mesmo mal. Nem nós mesmos temos isenção e condições equilibradas para identificá-lo, assumi-lo e, definitivamente, debelar. Basta a cada dia. Esqueça o de ontem. Ou melhor, relembre, na medida em que essa lembrança possa ajudá-lo, quem sabe, a evitar sua repetição. E não adiantam truques de Alice ou trick-or-treat. Pecado é mal, com ele não se brinca, impregnou minha e tua existência e só Deus tem sua cura. E é pelo sangue, unicamente pelo sangue de Jesus. Por quem sois?
Basta o seu (próprio) mal. Quando o engendramos, e somos nós, unicamente, os humanos, que o engendramos, costumamos dissimular esse mesmo mal. Nem nós mesmos temos isenção e condições equilibradas para identificá-lo, assumi-lo e, definitivamente, debelar. Basta a cada dia. Esqueça o de ontem. Ou melhor, relembre, na medida em que essa lembrança possa ajudá-lo, quem sabe, a evitar sua repetição. E não adiantam truques de Alice ou trick-or-treat. Pecado é mal, com ele não se brinca, impregnou minha e tua existência e só Deus tem sua cura. E é pelo sangue, unicamente pelo sangue de Jesus. Por quem sois?
Nenhum comentário:
Postar um comentário