Vamos começar pelos nomes dos avô e avó, Filomena (sem esquecer Quixeramobim). O pai do pai era Artur, avô paterno. A esposa era branquinha, do olho azul (como minha bisavó Dorcas), semente de alemão (ora, de novo, como em minha família!). E esse avô era bem moreno, do cabelo pixaim. Geralmente, as pessoas não gostam de pessoas negras. Da minha mãe eu lembro pouco o nome. Havia uma tia Maria, tia legítima de minha mãe. Quando eu saí de Lagoa Cercada, em Quixeramobim, fui para a casa dela. “Dei um trabalho desgraçado para ela”. Risos. Gargalhadas. Era valente, eu tinha uns 16, 17 anos. Saí da roça para estudar. Nunca deixei de estudar, mas era muito arengueira. Fiquei morando em Mossoró, até 1978. Só que na casa de minha tia Maria, eu fui morar com o tio, irmão de meu pai, tio Chico, só que eu bati nas filhas dele. Então eu fui expulsa de lá. De lá, eu peguei um ônibus, voltei à minha tia Maria, que eu ia embora para Natal. Seria com minha irmã, que morava com um tio terceiro. Porque quando essa irmã foi morar em Natal, a Fátima, mais velha, também de Mossoró, havia passado em Medicina e em primeiro lugar. E fui então morar com a tia Araci, que era como uma mãe. Mas voltando à saída do interior, para eu sair de lá, foi uma novela: porque era eu e Fábio ajudando papai no roçado. O Fábio saiu, ficou sobrecarregado. Meu pai era Lauro, mas conhecido na região como Zé Júlio. Porque foi colocado Zé Júlio? Quando eu fui saber, já tinha meus 17, 18 anos. Ficou sem saber por que Lauro Rodrigues Ventura até essa época. E lá no interior, perguntassem por Lauro, ninguém sabia. Meu pai era Zé Júlio? E por que o nome Zé Júlio? Meu pau, quando casou com a minha mãe, ele morava em Mossoró, muito jovem. Minha irmã Fátima, que já beira 70 anos, tinha 2 anos. Meu pai estava com ela nos braços e um dos irmãos dele pediram para ele ir lá na Milharina, porque os policiais estavam batendo num tio nosso. E ele saiu, com Fátima nos braços. E foi à Milharina e, quando chegou, o soldado estava batendo no Juarez e ele pediu para não fazer assim, que ele ia levar para casa. A resposta foi “Eu bato nele e bato em você também”, resposta do policial. Papai só fez entregar Fátima para mamãe e entrou na luta com esses policiais, que eram três, com um faquinha diminuta, mas ele era muito rápido. Chegou a levar um golpe na perna, que perdurou nos efeitos. Mas cegou a vitimar um deles. Com conhecimentos, saíram com ele de Mossoró, e foi num jipe do exército. Alcançou Aracati, no Ceará, vizinha de Mossoró. E tanto quanto minha mãe, foi criado no cajual, trabalhador, trabalhou em salinas, então foi se esconder pelo Brasil afora, para não ser pego ou morto. Foi quando conheceu esse fazendeiro, local onde a família então foi criada, numa fazenda em Lagoa Cercada, Quixeramobim. 1h hora de viagem entre as duas. Foi essa a razão de ser criado um novo registro para Lauro, agora Zé Júlio, imagina! Decorreram então 22 anos e ficou para trás o perigo de ser preso. E voltou a Mossoró, conhecendo a família do policial vitimado, ainda que por legítima defesa, da parte dele. A viagem de Lucia para estudar em Mossoró se deu nessa época de já poder retornar. Tendo ficado escondido todo esse tempo, eu vim então conhecer a minha avó já com meus 17 anos. Conheci tia Maria, mais dois tios por parte de minha mãe, Francisca, o tio Manoel e uma outra ainda que com pouca relação. Tenho uma rede de linha tecida por minha mãe, com o nome bordado, sem que ela soubesse ler, apelido Fanquinha. Vou retirar esse pedaço e moldar um quadro. Ficou perfeito, precisa ver. Mas ela não sabia assinar o nome. Sim, eu fui estudar, mas fui uma pessoa que dei trabalho. Mas por quê, porque valente demais. Foi como tirar uma onça de dentro do mato e colocar na cidade. Quando eu fui para Mossoró, o acesso à escola para onde eu ia, era sem dinheiro nenhum, ir e voltar a pé. Certo dia, eu vinha pela rua principal, com fome, cansada, terminada a aula uma 18h, e no sentido contrário um sei lá quem inventou de me tocar os seios, ara, dei-lhe uma pisa, mas uma pisa, que só sei que chegou uma pessoa que me tirou de cima dele. “Encaixei minha pernas nos braços dele, que tome-lhe peia, tome-lhe peia!”.
E ele era um vigia de outro colégio pelo qual eu passava defronte. Só sei que eu cheguei em casa e fiquei caladinha, não disse nada a minha tia. Pois sim fiquei caladinha, e havia a feira livre, aonde eu ia com a minha tinha, para ajudar a carregar as compras, foi quando tia Maria encontrou um conhecido, todos a conheciam, ela confeccionava redes, foi quando alguém a chamou: “D. Maria Ferreira, como é que está a sua sobrinha, está tudo bem?”. Ora, está aqui, respondeu minha tia. “Mas ora, essa menina é valente, hein?!” Pronto, eu disse. “Ela deu uma pisa num cara”, esclareceu a X9. Se não tirassem de cima dele... Mas a tia Maria... “Eu não estou sabendo de nada.” E vieram os esclarecimentos: “Mas venha cá, minha filha, você brigou?!” Ora, eu fui obrigada, minha tia. Bati no cara, porque ele queria pegar nos meus peitos. É aquela história, tia, eu me defendi. Mas não diga pro meu pai não, porque senão ele me leva de volta para Queixada. Mas da próxima vez que você brigar, eu conto. Mas ora, na escola, quem mexia com ela? Ninguém.



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