Os três evangelistas falam do Batista. Aliás, os quatro. João foge do esquema dos sinóticos. A ideia dele é outra. Mas também fala dele. Batista era um tresloucado.
Incisivo no que dizia, duas coisas: somente tinha aquilo a dizer, ao que dava toda e única importância, ao mesmo tempo em que, deprimido, quando preso, perguntou se era aquilo mesmo que disse todo o tempo o que tinha a dizer.
A velha questão pela autenticidade da identidade desse Jesus já se discutia, fosse no tempo do Batista, assim como no tempo da escrita do opúsculo agora chamado Evangelho de Marcos.
A diferença em Marcos é que ele demarca o começo de seu evangelho pelo anúncio do Batista, vinculando ao texto de Isaías que o denomina "voz do que clama no deserto".
Em João, por exemplo, logo no início do evangelho, as autoridade judaicas vão perguntar ao Batista qual era a dele, com aquela loucura de aspergir água sobre quem quisesse ou tivesse manifestado entendimento pela mensagem que trazia.
De que Jesus, esse que batiza com o Espírito Santo do Antigo Testamento, estava vindo e já entre eles. Era tudo por autenticação: a pessoa de João, sacerdote fora de ofício, a autenticidade de seu ritual extemporâneo e a autenticidade do próprio Jesus.
João Batista irrompe como quem anuncia um advento. E é o maior marketing da história. O Filho de Deus entrou na história. Ou, se preferir, porque dá no mesmo, Deus irrompe na história.
E quando o Batista está para morrer, porque foi preso, e da cadeia não sairia vivo, Jesus se desloca para a Galileia, conhecida na época como "dos gentios", sumo desprezo por aquelas paragens.
Mas era por isso mesmo que seria priorizada por Jesus, aliás, prioridade esta, outra indicação profética de Isaías. Jesus ruma para lá, e Marcos assinala aquela que será, por assim dizer, a base referencial de todo o ministério de Jesus.
"O tempo está cumprido, o reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no evangelho". Esses quatro destaques conceituam e caracterizam toda a atividade de Jesus, bem como tudo o que vai dizer.
Jesus afirma que se inscreve num tempo restrito, que é desfecho de todo um preparo e, por isso, demarcado como profético e apocalíptico.
O destaque principal desse tempo é a irrupção do reino de Deus, que está e não está, porque sinal da presença e acesso a ele estão abertos, mas a plenitude do reino ainda vai se cumprir.
A atitude, diante dessa realidade configurada, não é de mera consciência de informação, mas de arrependimento, que é um retraimento íntimo, diante do reconhecimento de uma falta pessoal irremissível, a não ser diante e por meio de Jesus Cristo. O Batista já o havia mencionado.
Crer no evangelho corresponde a assumir toda a mensagem de Jesus Cristo. Ele anuncia o evangelho, ele é o evangelho e ele garante totalmente o evangelho. Por isso foram chamados Evangelhos esses livros.
Pelo testemunho que dão a respeito de Jesus: quem o assume, é porque se arrependeu. Então entrou no tempo infinito, apocalíptico e completude astral. Já está dentro do reino, reconhecendo-o e dele dando testemunho.
Uma figura esse Batista. Uma figura esse Jesus. Ambos autênticos.
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