sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Contarei tudo que puder - 3

   
Templo moderno planejado:
Igreja Metodista de Valão do Barro 
e aquela da década de 1920,
época da infância de Cid. 

      Com esse evento, a pobreza material foi superada pelo peso e a força da verdadeira riqueza, que é ser filha de Deus pela fé em Jesus Cristo como todo e suficiente Salvador de sua alma. E com a sua conversão conseguiu levar o meu pai também à frequentar a sua igreja (Igreja Metodista do Córrego dos Índios) no Município de São Sebastião do Alto, no seu 2° Distrito Valão do Barro. Ele na sua maneira simples e roceira costumava justificar com os seus amigos que lhe perguntavam: -- "É verdade, Tonico, que você agora é protestante? -- É sim, é verdade! Porque 'aonde vai a corda, vai a caçamba'. Adalgiza foi ser metodista e eu fui também, ué!".
      Depois veio José, Djanira, Maria, Laíde, ela nasceu depois de Maria e faleceu, Cid, o mano João Batista, que também faleceu recém-nascido (tinha uma deficiência na coluna vertebral e não chegou a andar). Mario, Nadir e Isaías, de cujo parto faleceu com apenas 39 anos de idade. -- Ouvi de minha mãe, Adalgiza Barcellos de Jesus, a maneira jocosa como ela e o meu pai se gostaram e se casaram.
     Ela trabalhava, como ele, para o tio fazendeiro chamado Manuel Inácio. Ele era daquele tempo em que Inácio era grafado, ainda, Ignacio. Tremendamente genioso, bravo. Foi capataz no tempo da escravidão. E o pobre escravo sofria nas suas mãos. Podemos imaginar como era, devido à mentalidade escravagista reinante naquela época. Escravo era como um animal qualquer. Era tratado como animal útil, que existia para prestar serviços ao seu senhor. 
     Mamãe, jovem ainda, adolescente, trabalhava como doméstica na sua fazenda e papai também. Eram primos. E ambos trabalhavam na fazenda do tio, no Município de São Sebastião do Alto, no seu 2° Distrito Valão do Barro. 
     O que sei sobre esse tio Manuel Ignacio ouvi de mamãe e de papai. Era aquele tipo "cristão" que povoa o inferno, que do Senhor Jesus Cristo, Senhor e Salvador, não sabe nada nem sente nada. Mas, esse tipo de cristão que enche a nossa sociedade, porque é pertencente a uma igreja qualquer, de cristão não tem nada. 
     Lembro-me que minha mãe contava como foi o seu casamento com o meu pai. Ele era o produto típico do meio cultural daquela época do fim do século XIX, reinante no interior do nosso Estado do Rio de Janeiro. 
     Trabalhava como leão, de sol a sol, na fazenda do tio. De noite dava os seus passeios a cavalo em animal da fazenda. Levantava-se de madrugada para trabalhar nos mais variados serviços da fazenda do tio. Tanto cuidava das vacas leiteiras como entrava nos eitos da lavoura de cana-de-açúcar, milho e feijão ou café.  Nos sábados, vésperas dos domingos e feriados, frequentava as festas da época. Bailes, ladainhas, etc. Depois que teve as desilusões com as moças de sua época e cultura, ele que já observava a jovem prima Adalgiza, que trabalhava "como uma escrava" na fazenda, sob a direção e ordem de sua tia Ambrosina. Era ela mesma que cuidava de lavagem da roupa e da alimentação como "pau para toda obra" na fazenda.

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