quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Artigos soltos 49

    A não ser que

    Sobre a existência ou não de Deus, há uma contradição básica. Os que nEle não acreditam, acusam-nos de sermos dependentes da resolução de nossas fragilidades. 
    Acreditaríamos em Deus, porque o divino resolveria, em vida, nossos problemas insolúveis e, ao fim, solveria a própria morte.
    Ora, não vemos assim Deus solucionando todos os problemas do crente. Aliás, se  Bíblia é reconhecida como o livro, por excelência, da fé,  logo a primeira história não apresenta essa finalidade utilitarista reclamada pelos ateus. 
   Ao contrário, contando a história de Caim e Abel, mostrando que a fé deste de nada adiantou para evitar que o próprio irmão o matasse, definitivamente, um marketing horrível, logo de cara, para a fé.
   E não é só isso. Se admitimos que o livro está certo e verdadeiro ao descrever uma conversa de Deus com o assasssino, tentando (no bom sentido) dissuadi-lo de sua intenção, deu em nada. 
   Donde se deduz que o argumento de que, em vida, crê-se, em Deus, na expectativa do livramento de apertos, ora, generalizando a lição e método acima, não se espere muito. 
   Sem falar na opção de Deus que, ao invés de prevenir o "seu chegado" Abel, procurou o gente ruim, na tentativa de convencê-lo a mudar de ideia, talvez, mais ainda, a se converter. 
    Abre-se, então, outro leque de argumentação, desta vez sobre a opção divina. Poderíamos até refletir, pelo menos provisoriamente, com a cabeça de Caim. Eu, me converter? A um Deus que, caso alguém, traiçoeiramente, prentenda me assassinar, não serei antecipadamente prevenido. 
   De novo, um péssimo marketing para a fé, pelo menos, para quem diz que os que creem, fazem-no na expectativa de auferir vantagens do Deus. Acho esse argumento pueril.
   Bem, então, previamente já sabendo que, entre as vantagens de se crer, definitivamente, não consta um seguro total de vida sem custos, resta saber se, ao final, pelo menos com relação à morte perdurará alguma vantagem.
    Pelo menos,  com relação a Abel, ficam os elogios que a Bíblia lhe dedica. Já é uma vantagem. Morto, ainda fala. Resta saber o que Abel fala. Certamente, nunca será dizer que, por seu "meu chapa" de Deus, um tremendo "gente boa" e nutrir uma fé que agradava ao Altíssimo, essa mesma fé nunca dirá que lhe garantiu integridade física. 
    Caso alguém avalie ser vantagem elogios póstumos, pode até adotar fé. Se acha que, definitivamente, somente para isso a fé serviria. Mas, e com relação à própria morte?
    Descartado o argumento de que atentados à vida, doenças, carestias, injustiças, em geral, serão obstaculizadas pela fé, resta saber, então, se há garantias em relação à morte.
    Bem, o ponto central da fé, na Bíblia, é a ressurreição de Jesus. Portanto, os que creem, como primeiro ponto de fé, descansam nessa certeza. Mas vejam bem, não é o medo da morte que conduz à fé. 
     Ela não depende de dados estatísticos, como num "controle de qualidade" ou teste de utilidade ou funcionalidade. 
      Os que creem, estão conscientes de que crer não traz vantagens imediatas, como imunidade a desastres e fatalidades, ou ainda, uma vez verificada, em vida, essa não disponibilidade da fé restaria, pelo menos, a ida ao paraíso, depois da morte.
      Respeitosamente, afirmamos que, de nada entendem da promessa bíblica sobre a fé aqueles que a avaliam como salvaguarda, enquanto em vida, e passaporte para o paraíso, após a morte. Não, desculpem: vocês não entendem nada de fé. 
    "Sem fé é impossível agradar a Deus". Não. Esta afirmação não se trata de uma imposição divina. É porque cremos para agradar a Deus. Só isso. Em resposta a Sua graça e ao Seu amor para conosco. 
    Não cremos para escapar de bala perdida, doença terminal ou acidente fatal no trânsito. Mesmo porque, pelo menos em relação a essas fatalidades, cito nominalmente crentes que foram por elas acometidos. 
    Definitiva e, finalmente, você não entende nada de fé. A natureza dela é agradar Deus em resposta a Sua graça e ao Seu amor. Achamos graça em Deus. Por isso cremos nEle. Não há o tipo de vantagem que você atribui. 
     Não há o tipo de troca pretendido, que só cabe dentro do seu senso de avaliação. Nunca vai entender.  A não ser que, um dia, creia.

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