sábado, 19 de maio de 2018

      Experiências ecumênicas

        Nesta semana, mais exatamente na quarta, fomos ver o bispo. Comitiva do Instituto Ecumênico Fé e Política. Eclética, formada por três pastores, um daimista, outro espírita e três católicos: um padre, outro ex-padre e uma irmã leiga.

      Boa conversa, boas impressões, boa diplomacia, pauta ampla. Hoje sábado, tempo suficiente para ruminar uma síntese e pô-la aqui escrita. Lembrei-me de Zacarias e Maria. Ambos fizeram ao anjo Gabriel uma mesma pergunta, porém num tom diferente.

        Quando o sacerdote perguntou no seu tom "Como será isto?", ao anjo, com relação à gravidez tardia de sua esposa estéril, a tonalidade revelava descrença. Quando a virgem fez a mesma pergunta, com respeito a sua gravidez sem concorrência humana, em sua tonalidade denotava, apenas, dúvida.

     A síntese de minha mais recente experiência com a legítima disposição da Igreja Católica em ser ecumênica também me coloca numa encruzilhada, a partir da qual expresso-me numa mesma frase, porém em duas tonalidades: uma interrogativa e outra afirmativa.

     Diante da postura entre dois bispos da Diocese de Rio Branco, separados por mais de 30 anos, D. Moacir Grecci e D. Joaquim Pertiñez, formulo uma mesma frase, a primeira em tom interrogativo, relacionada ao nonagenário bispo D. Moacir: "Taí, por que não ser católico?"

      E a mesma frase, agora em tom afirmativo, relacionada ao bispo Dom Joaquim: "Taí, por que não ser católico". São duas concepções de Igreja, a meu ver. Uma delas mais flexível, aparenta ser, essa representada pelo primeiro e mais antigo bispo, e outra mais inflexível, o que mais frequentemente se espera da Igreja Romana, representada pelo segundo e mais recente bispo.

       A conversa deixou claro que ecumenismo não existe para afetar ou alterar a visão específica de nenhuma confissão religiosa. Ninguém propõe sincretismos ou a possibilidade de um só modelo de uma "religião universal", resultado de um tipo qualquer de fusão de religiões. Hipótese absurda. Já foi testado o reinado de religiões. Termina, invariavelmente, em opressão.

      Mas ecumenismo pressupõe humildade. Assim como reconhecimento, no mesmo nível, da religião do outro. Em meu aprendizado de me despir de preconceitos em relação à outra religião, sempre admiti até que, para a Igreja Católica, pelo seu porte, antiguidade histórica e capilaridade, é natural sua liderança num movimento ecumênico que se queira mundial.

     É natural para ela. Mas se é que vai estabelecer um índex de quem e com quem vai exercitar ecumenismo e ainda numa forma segundo seu modelo e visão internos e, devido a essa postura, inapelavelmente, vai alçar-se a uma posição acima de todos ora, certamente, constituiu-se num clube restrito.

       Cacoete histórico dela. O clero fica com a instituição, os leigos que fiquem com o carisma. Esforços ecumênicos bem-sucedidos e inclusivos, para usar o termo, vão partir da base, porque demora séculos qualquer flexibilização. Recentemente, o que tornou palatável certos avanços e o influxo de várias concepções modernas, bafejadas pelo vento do Espírito, foi o Concílio Vaticano II.

     A missa tornou-se compreensível em língua nativa, católicos ultrapassaram evangélicos no interesse pela Bíblia, a acentuação da visão pastoral criou várias instâncias de contato, assistência e evangelização. Até uma feição política, à frente dos protestantes, representada pelas CEBs, teve lugar definido e campo amplo de ação.

     Vaticano II foi a Reforma com 445 anos de atraso. É de se supor, nessa marcha, tempo equivalente para a perda do medo e dos escrúpulos com relação ao ecumenismo. Isso me faz reforçar meus fundamentos, é claro, diante do reforço dos fundamentos dela, a Igreja Católica, em sua visão particular, professoral e restrita do ecumenismo.

        Um único e definitivo sacramento me faz cristão: o batismo do Espírito em Jesus. Como afirma Paulo Apóstolo, "estou crucificado com Cristo". Isso também me faz igreja, sem necessidade de absolutamente nenhuma outra mediação. Essa postura bíblica, ao mesmo tempo que indica libertação da escravidão do pecado, me torna livre também de qualquer hierarquia.

        Devo satisfações a Deus e, pelo modelo congregacional, também devo satisfações à minha comunidade. E livre. Livre para o exercício ecumênico. Reafirmando a minha fé e a do outro, repeitando as diferenças, prossigo nesse aprendizado.

         Reconheço a dificuldade que uma instituição tão enorme, como Igreja Católica, dispõe para exercitar, de modo mais flexível, o diálogo ecumênico. A tensão entre a fixação de seus dogmas, na descrição de sua maneira de crer, tão essenciais à sua identidade, assim como as regras de como funciona sua estrutura são obstáculo a uma resposta mais imediata ao ecumenismo, tendo em vista ser multifacetado o quadro das religiões.

      Continuará, para a igreja, a tensão entre mostrar-se mais semelhante a Cristo, o que é essência do evangelho, e sua impossibilidade como instituição em responder célere a essa postura. Terá de continuar seu cestro milenar de definir o que é certo ou errado, para si e para os outros, em termos de cristianismo. Será difícil arvorar para si esse direito e manter a humildade, que Jesus indica como primeira bem-aventurança.

       Dificuldade suprema na insistência em se admitir "a" igreja e não, como na verdade é, apenas "uma" igreja. Que seja a maior e mais antiga, está bem. Mas que não julgue a si mesma a única certa. Cacoete, cestro este milenar, do qual precisa se livrar, definitivamente, para o exercício pleno do ecumenismo.

       Exercício, sem medo, do amor. Como diz João Apóstolo, quem teme não está, ainda, aperfeiçoado no amor, essencial para o exercício do ecumenismo, continuamente aprendido e exercitado. Nem ela em sua milenar história sempre o vivenciou, todo o tempo. Mas ser igreja é prosseguir na prática, vivência e aprendizado do amor.



     

 

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