quarta-feira, 23 de maio de 2018


Cascadura

       Bem que poderia ser.

       Achei na net esta foto. U'a mãe com seu filho pelo braço, ano de 1950, passeando em cima do velho viaduto de Cascadura.

     Poderia ser Dorcas e Cid Mauro. Embora eu seja de 1957, a foto carrega, congelados no tempo, traços de época.

     Vestido da mulher, terninho do garoto, corte de cabelo e bolsa da moda. Guarda os aspectos todos dessa metade de século.

       Herdei no tempo traços do final de século XIX. Ainda não havia plenamente chegado o século XX. Afinal, estamos na América Latina.

      Ali mesmo, de sobre esse viaduto, tinha acesso com Cid, meu pai, à Estação de Cascadura e aos trens, com vagões modelo Getulio 1930. Se fosse com Dorcas, a condução era outra.

     No Largo de Cascadura, do lado de cá, para quem vem pela Ernani Cardoso, pegávamos o lotação. Aquele mesmo, uma só porta, motor à manivela e janelinhas horizontais, de sobe-desce.

       A porta fechava manualmente, por meio de uma geringonça atrelada a uma manivela, ao alcance da mão do motorista.
       
      Na verdade, tratava-se de uma bruta alavanca, fixa na porta, apoiada num eixo e, por essa manivela, manejada pelo motorista.

      Havia uma presilha nas janelas que subiam, vidro sobre vidro, de modo a travar fechada a que deslizava internamente, caso chovesse.
      
      Legal era ver o motorista descer, quando era preciso, quando o motor morria, para encaixar uma grossa manivela,  pelo lado de fora, no motor, que era externo, contorcendo-se junto até o tranco de acionamento.

       Pelo viaduto íamos, a pé, até a feira ou ao Supermercado Disco, "do outro lado", geograficamente depois da linha do trem, delta da famosa Avenida Suburbana, escoamento de ida e volta ao Centro.

      Este era o Centro da Cidade, para onde alguém "descia", quando se deslocava para lá. E os bondes? Trasitavam por lá. Havia lazer na Praça Seca, rota para Jacarepaguá, e a condução era o bonde.

      Essas recordações me trazem a foto. Garoto que nasceu no ocaso do século XIX. Mal o alvorecer do XX. Apesar de estarmos já na metade, estamos na América Latina, onde tudo acontece 100 anos depois.  
  
 Foto do acervo de Carlos Santos Torres
Facebook - Cascadura - Caminhos do Subúrbio


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