segunda-feira, 2 de outubro de 2017

LEITURAS BÍBLICAS - Apologia 3

     O Apocalipse conquistou espaço, transformando-se quase que numa marca, que muitas vezes significa algo bem diferente do que o plano original da obra sugere.

     Por causa de sua típica linguagem e imagens fortes, o termo "apocalipse" que, mais estritamente está relacionado ao conteúdo do livro, significando "revelação", passou a ser associado a calamidades que prenunciam o "fim do mundo".

     Um mergulho nas descrições detalhadas dessas imagens apocalípticas, longe de nos colocar num contexto fantástico ou mítico, acaba nos jogando de encontro à realidade louca das épocas vividas pela existência humana.

       Caminhando de hoje para o passado, destaque-se quando o apocalipse fala de contaminação das águas, rios e oceanos, ou da capacidade que bolas de fogo têm de queimar a terça parte do mar ou da terra.

        Impossível não associar aos modernos e devastadores efeitos da poluição ambiental e da capacidade humana de explodir o mundo com armas nucleares.

      Caminhando em direção ao passado, vamos nos deter no ambiente da chamada Grande Guerra, a primeira, em que, proporcionalmente, a capacidade humana de matar em massa apareceu, em seu début, na idade moderna.

      O volume de tropas, com as máscaras antigases horríveis, a inauguração das metralhadoras contra as formações de cavalaria e as condições desumanas dos extensos labirintos de trincheiras tipificam as descrições de bandos de gafanhotos em guerra no texto apocalíptico.

     E com relação às imagens mais aterradoras ou, desejando-se assim indicar, as mais loucas do livro, associadas a bestas com várias cabeças e chifres, dragões e seres mistos fantásticos que emergem do mar, essas cenas não se situam assim tão distantes da realidade.

     Isso porque simbolizam a urdida maldade humana, para a qual qualquer representação horrenda corresponde a menos da realidade. E o figurino dessas cenas em pouco, muito pouco difere dos "ismos" que, já há cem anos, invadiram as artes e tornaram corriqueiras imagens não menos esquisitas.

     Impressionismo, Expressionismo, Cubismo, Abstracionismo, enfim, ondas que se misturam à tendência humana de experimentar estados mentais de diferentes estágios, em função da ingestão de alucinógenos, tão frequentes já no século XIX, turbinados no século XX e servidos delivery  neste século.

     Definitivamente, o Apocalipse não se situa assim tão distante da realidade. Na verdade constitui-se, em atualíssima linguagem, num retrato que foca, transparece e bem delineia o louco contexto no qual o homem moderno, aliás, ao longo da sofrida história da humanidade, inscreveu-se a si próprio.
     

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