quinta-feira, 29 de janeiro de 2015


  Azáfama

      O ruído de uma faca partindo pedaços de banana, na cozinha, me avisa que o dia já começou, para minha mãe, e que preciso ser rápido, neste texto, antes que o azáfama da casa me atrapalhe o raciocínio. Blog pode se tornar um vício. Escrever também. Pode virar despejo de besteiras no papel. Acho que preciso de uma terapia. Enquanto ela não vem, desabafo assim mesmo.

     Me acordei, como dizem por aqui, com uma vontade. Mas não sei ainda, direito, qual é. Só me senti, assim, sabem, como aquele número muito grande, recorde, de peças de dominó, Guinness Book, que são colocadas de pé, muito próximas, o suficiente para que alguém empurre a primeira e todas sigam caindo. No meu caso, são pedras infinitas, enfileiradas, caindo infinitamente.

      Me acordei assim. E tais peças de dominó seriam uma sucessão de ideias, quem sabe, mas não as tive, abri mão de todas elas. Outra metáfora seria dizer que me acordei com vontade de ir para um lugar onde não houvesse ninguém, nenhuma pessoa, que fosse um bosque, pronto, ou um parque, mas vazios. Ok, pássaros poderiam estar por ali na sua azáfama matinal. Mas só isso. Sem mais nenhum vivente. E ali, nesse lugar, me sentaria, abaixaria minha cabeça, inclinaria, assim, como se eu fosse orar, olhando para o chão, privando-me, de algum modo, de qualquer atenção que fosse outra, senão ficar assim e ali. Mas é mais ou menos assim.

      E nenhum pensamento me viesse à cabeça. Como se qualquer ideia me fosse atrapalhar o que não queria dizer. Ficar assim. Será que isso é meditar? Procurando ouvir Deus. Será que é assim? Junto com isso, me veio uma vontade. Mas não a sei expressar direito. É mais ou menos como se eu desejasse um novo começo, assim, do zero. Não que eu quisesse ou repudiasse todas as pedras do dominó que estão caindo, infinitamente, por detrás de mim, como se fossem os elementos, todos, de minha existência até exatamente este momento.

      Não. Não retiro nenhuma pedra. Mantenho essa mesma sequência e não abro mão de não retirar nenhuma pedra. Isso por causa de Jesus, porque Ele resgatou toda a minha existência, perdoou todos os meus pecados, então, não vou ficar selecionando pedras e rearrumando a sequência que vem em seu curso, uma atrás da outra, a de trás derrubando a da frente. Zerou. Se pudesse dizer o que de mais extraordinário poderia, então, ocorrer, neste exato momento, não neste, da escrita deste texto, mas esse, da reflexão proposta no texto, eu diria que desejaria, então, converter-me. Isso.

      A experiência da conversão é tão fundamental e fundante de tudo, que era para que se repetisse sempre. Mas é desnecessário. Aliás, sou convertido, para quem? Quem teria a coragem de constatar isso? Quem assinaria embaixo? Jesus, e com tinta de sangue, diz a Bíblia, e no meu coração. Não vai dar para nenhuma outra pessoa ter plena certeza, vão desculpando aí. É muito íntimo. É só entre eu e o Altíssimo. Vão desculpando aí.  Essa experiência, de conversão, ninguém tem nada a ver com isso, senão aquele, ou seja, qualquer um, e Quem. Quem? O Altíssimo. E eu não pensaria nada. Não me viria à mente nada. Seria um novo ponto de partida.

       Seria uma oração na qual eu não diria nada. Porque se dissesse, estaria condicionado, estaria meio que amarrado a qualquer coisa lá de trás. De onde vêm as pedras do dominó da vida, a de trás, empurrando a da frente. Se eu pudesse, eu teria esse momento. Seria como uma nova conversão. Seria bom que a cada momento houvesse conversão. Desnecessário. Desnecessário?

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