domingo, 28 de janeiro de 2024

La se vão, vida, 50 anos de amizade!

 Era 1972. Havíamos terminado o ginásio, eu e Rogério, amigo de todas as horas, e até de apertos de época, como no dia em que me defendeu contra um agressor ginasial.

  O pai dele, médico por profissão, era amigo de outro médico, este havia iniciado o Curso Matins, naquele ano, preparatório para a prova de acesso à ETFCSF - Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca.

   Eu nem sabia, direito, do que se tratava, detalhes me faltavam sobre o que seria um curso técnico, muito procurado naqueles dias. Começamos a nos preparar, o curso ali, na Constança Barbosa, colada à minha residência, no Meier.

  Eu residia na Magalhães Couto, meio curso de rua, e meu amigo lá na Curupaiti, no final. Eu nem lembro se ele terminou comigo o preparatório. Eu segui em frente, realizei a prova nas cadeiras do antigo Maracanã e logrei êxito.

   Matemática, Português, Química e Desenho, aqueles cadernos amarelo, vermelho, verde e azul, este de desenho, quando carregávamos, para esse dia, compasso, transferidores, borrachas e lápis, um negócio mesmo de época.

   Eu havia pedido, na inscrição, as opções de eletrônica, o curso de elite mais procurado, eletrotécnica e mecânica, sim, preenchidas as demais opções, que incluíam estradas, edificações e meteorologia.

  Classifiquei-me para minha terceira opção e, posteriormente, fui reclassificado para a segunda, mas para início no segundo semestre de 1973, em agosto. Meus pais aproveitaram para me matricular no Curso Oxford, de inglês, nesse intervalo, que ficava ali na galeria que dele herdou o nome, na Dias da Cruz.

   Começamos na ETFCSF. Tudo diferente e muito amplo e estranho, para um garoto de 16 anos, desses nascido na virada anos 50/60, do século passado. Havia o trote de pelarem toda a cabeça do calouro. Eu resisti uma semana inteira. Fui um dos últimos da sala.

   E, por isso mesmo denunciado, tive a cabeça pelada num barbeiro ali mesmo, na São Fco Xavier, defronte ao Colégio Militar. Um dos últimos carecas da turma, enfim iniciavam-se os 3,5 anos, até meados de 1976, na escola.

   Éramos da A1El, eu acho, turma A, 1 para primeiro ano, e El para Eletrotécnica. Mal nos conhecíamos, mas destacava-se lá um de nós, pelo tamanho, quase 2 m, a cor morena, com cabelo meio black power, da época, e uma voz tonitroante.

  Mas caladíssimo, na dele, como se dizia. Atravessava a sala e sentava no fundo dela. Andava como quem media, com as pernas enormes, quantos metros havia. Um avestruz africano gigante. Ah, sim, posteriormente conhecido como O Moita.

    Foi quando certa vez o vi conversando com um velho conhecido meu, Sergio Cabral, o filho mais velho do presbítero Daniel Cabral, da Igreja Evangélica Fluminense, centro do Rio, desde 1858. E fui perguntar por que o conhecia. Ele disse: "Sou da igreja dele". Eu disse: "Não é. Eu conheço todo mundo de lá". Ele disse: "Ora, falta me conhecer".

  E nunca mais, até hoje, separamo-nos. Inciou-se uma amizade que atravessou a ETFCSF, retiros de Carnaval, com a igreja, acampamentos na Ilha Grande, três vezes, com o pessoal da igreja, amigos da rua, em Vila Isabel, e outros colegas nossos.

   Circuitos de estudo juntos, para as provas da Escola Técnica, minha iniciação na história mundial do rock, desatualizadíssimo que eu era, peladas de futebol na quadra do terraço da Igreja Fluminense, natação na piscina no CEFAP, em Sulacap, porque seu pai, além de médico nefrologista, era coronel da PM.

   Terminamos a Escola Técnica, fizemos nossos estágios, ele na SIEMENS, onde chegou a trabalhar, eu na FICAP/Elecab, em 1979. Eu já estava, pela PUC/RJ, desde 1977, tentando engenharia elétrica, sonho adolescente, acesso pelo CESGRANRIO, vestibular unificado, o ENEM regional do Rio, na época.

   Retornei à PUC em 1980, para trancar, definitivamente, só voltando a ela para o mestrado em teologia, de 1992 a 1995. E Hélio Henrique foi aprovado na Petrobrás, onde foi trabalhar, cursou engenharia e por ela se aposentou.

   Pai de Esther, história linda de amor e afeto, dele e Cida, de quem é viúvo. Encontramo-nos nessa nova fase, após minha ida para o Acre, em 1995, quando ele ainda morava na Tijuca. Acompanhei sua mudança para Guapimirim, no Caneca Fina, na primeira e nesta segunda casa onde reside com o irmão Hilton e sua filha.

   Acolheu-me por ocasião de minha cirurgia, em 2019. Sempre que venho ao Rio e a agenda corrida permite, a gente se encontra e discorre toda a conversa possível sobre todos os temas que existem. Foi assim anteontem.

   Autodenomina-se ateu. Mas, nesta última conversa, mencionou várias vezes sua "sorte". Enfrentou bons momentos, muitos, e grandes tribulações, como quando enviuvou, assim como na perda de sua mãe, Neide, semelhante ao modo como a minha, Dorcas, também se foi.

   Extraordinária d. Neide. Tanto quanto extraordinária Cida, esposa dele. Grandes mulheres Hélio Henrique teve em sua vida. Cuida do irmão Hilton e é conselheiro presente de sua filha Esther. Cultiva não somente uma variedade enorme de plantas e peixes artesanais, como também amplo espectro de amizades.

   Ah, sim: o que ele denomina "sorte" eu disse a ele ser providência divina. Um dia esteve na igreja, porque entendeu tudo o que ela representa. Um dia saiu. Aliás, nunca conversamos detidamente sobre suas razões para essa decisão.

   Claro que, aqui e ali, surgem pistas. Mas não o questiono, todo o tempo, por isso. Nesse meio tempo, entre 1973 e 2024, nesses 50 anos decorridos, até pastor me tornei. O que significa que meu envolvimento se aprofundou. Nosso reencontro se deu na época de meu casamento, em 1995, para o qual fiz questão de o convidar, ao qual compareceu com sua esposa.

   Amigo. Defino como um ateu pró-ativo. Inventei agora. Ateus não conseguem provar que Deus não existe, apenas têm fé na não existência de Deus. E nós, que cremos, também não conseguimos provar, para eles, que existe, pelo menos do jeito que acham que seria plausível, se é que isso os interessa.

   Deus à parte, as coisas estão aí como estão. Ah, sim, para mim, ateu pró-ativo é aquele a quem atribuo virtudes que, muitas vezes, faltam à vida de muita gente que diz acreditar em Deus e até, em muitos casos, igrejadas para caramba.

   Grande amizade. Grande amigo, também no tamanho. Estamos envelhecendo juntos. E sua amizade continua a contribuir muito para mim. Parabéns por esse aniversário. E vamos em frente por essa vida, cheia de surpresas, você com sua sorte, a que eu chamo providência divina. ELE não desiste nunca de nenhum de nós: também grande e o maior amigo, meu amigo.

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