quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Histórias de Itaocara com gente da terra - 2

Antunico meu avô, contava que a encontrou minha avó, para casar, numa fazenda de um tio dele, Inácio, irmão do pai dele. Fora do Faroppe. Para os lados de Santa Maria Madalena, onde moravam. Ele perguntou quem era a menina.

Esse tio Inácio foi aquele que, certa vez, procurando um escravo fugido, foi surpreendido pelo escravo que, com uma borduna, quebrou-lhe a espingarda. Quer dizer, ficou desarmado diante de um escravo com um porrete nas mãos. Não se intimidou: abaixa isso, larga essa valentia. E resolveu na moral que tinha.

  O cara amainou, pegou da espingarda espigaçada e voltaram escravo e dono para a fazenda. E é esse Inácio a quem Antunico meu avô vai pedir a futura esposa. Ele mandou o sobrinho se arrumar primeiro e voltar: passa depois.

Ele, pois, volta e casaram. Ela arranjou vestido de chita. Quem eram esses? Eram meu avô e minha avó. Ah, sim, moravam lá para os lados do Valão dos Índios, do Córrego dos Índios, digo eu... Sim, confirmo. Assim disse meu pai. Certo, como quem ia para o Ponto Pergunta, sugere Armando.

Para os lados da casa do Jair. Ali era o Valão do Azeite. Eu rio e confirmo que esses nomes estão no livro. Assim como Gigante, Gordura e arremato: meu pai foi estudar na fazenda da Moreminha, em Santa Maria Madalena. Assim conta Jani, irmã dele. Está no livro.

Cid acabou por não se adaptar, porque muito cedo tinha que se arrastar no capim gordura, talvez esse nome, molhado, para alcançar animais no pasto. Ora, era estudante ou o quê? Lembrei de neu avô chegar a casa enfurecido:

Esse menino é avoado. Começa a capinar e logo, logo se distrai. Avoado. Então Adalgiza, a mãe, profetizou: Não adianta brigar com Cid, que ele não vai ser lavrador. Vai ser pastor e doutor. Ora, deve ter estudado, nessa época, junto com o meu marido, Pedro Castelar, supõe Luzia, irmã de Armando.

Porque ele ia para a roça trabalhar, eu não, que eu estava ainda na casa de meu pai. Distância da escola mais longe do que de Tancredo Neves a Campo Grande, olha, 5 distâncias de estações de trens no Rio. Ir e voltar, da escola, e largar os cadernos para ir para a roça trabalhar.

Ora, se era para ser roceiro, para que ir para a escola? Meu pai falava de um tal de João Viana, que dava aula particular por aluno, que foi o pirmeiro professor do Cid. A mãe Adalgiza disse: Vou vender umas criações a pagar esse professor para dar aula para esse menino.

Será que foi do Pedro também? Ah, sim, a do Pedro foi d. Odete Brás. Ah, sim, a Odete, faz menção o Armando. Ele ia para a roça, conta agora a esposa, e, chegando lá, sentava no cabo da enchada e pegava as folhinhas do caderno. Assim contavam as irmãs dele, cunhadas de nossa narradora.

Sim  a mesma vocação de meu pai: nada com a roça. Meu pai vendeu a roça que numa última tentativa, o pai havia arrendado a ele, ao irmão Zezé. Rumou para a cidade grande e, no meio de uma crise, mandou carta ameaçando retornar ao rincão. Mas a família já havia percebido que não era por lá o lugar dele: Volte não, diziam, volte não.

Meu marido foi meu primeiro namorado. Eu ainda garotinha e ele andando por lá. Eu nem sabia o que era namorar. Então era ele só que namorava. Aí o irmão dele, pra meu pai, olha, compadre Samuel, não deixa Cumadre Luzia, que eu já era madrinha do filho dele, não deixa ela casar com Pedrinho não, que ele é muito preguiçoso.

Ora, pela avaliação de lá, quem pendia para os estudos, ficando longe da labuta no roçado, era preguiçoso. Não vai conseguir sustentar família não. Meu pai nem se envolvia na vida da gente. Mas minha mãe, era tesourinha, cortava rente, de um tudo, e logo decidiu: vamos acabar com esse namoro. E eu então logo defini: olha, se eu não caso com esse, não caso com mais ninguém. Como diz a modinha: "É o amor...". 🎶

Pois Pedro, à frente de Cid, meu pai, foi sim um lavrador. Mas por pouco tempo. Porque não ficaram, Luzia e Pedro, nem um ano casados na roça. Ele foi para o Rio de Janeiro primeiro, era a capital do país, para arrumar emprego e casa. Ela veio depois, já com barrigão de gravidez, para o Morro do Juramento, região de Vicente de Carvalho. Meu marido, trabalhando, nasce o nosso filho, ele veio em casa para ver.

Moravam perto da tia Ciana. Lá vem mais história boa. Ele foi em casa almoçar, e já estava eu com o bebê no canto da cama. Porque minha tia e meu tio saíram de sua cama de casal, foram dormir no chão, para que eu parissse ali em cima da cama deles.

Eu fiquei os 30 dias do resguardo usando a cama deles. Ele vem a casa, o desligado de plantão, almoça e diz aos tios, já estou indo. E a tia: você vai pra onde, pai Pedrinho? Ora, trabalhar. E ela: você não vai ver o seu filho não? O máximo de desligamento.

Ué, nasceu? Claro, Pedrinho: quando você saiu para o trabalho ela já apresentava contrações. Emanuel, sugestivo nome do primogênito. E a tia: e antes de sair, vai no armazém e compra uma galinha bem gorda para a canja da parturiente. E o deslidado foi lá, sim, é, nasceu, não é? E a tia já havia estabelecido as coordenadas para a tradicional canja. Era de lei.

Pois foi comprar a galinha, a tia fez, até ele provou com a esposa. E lembrei do nascimento de Nice, a minha tia Eunice, que, ao nascer, pela demora da chagada da avó Dorcas, a irmã mais velha Dorcas também, minha mãe, foi fazer, com o irmão mais velho, uma canja, saborosíssima, mas com alguns fiapos das penas da franguinha.

Distrito de Laranjais

Antiga Estação de Batatal

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