Sobre ordenações ao ministério e sobre como deve ser lá no céu.
De novo utilizando a vasta liberdade de que a gente dispõe ao escrever em blog, desta vez me dedico a um texto que procura avaliar ou fazer digressões a respeito do que vai definido no próprio título, ou seja, a propósito de ordenações ao ministério bem como as coisas lá na congregação celestial. As duas fotos acima dizem respeito, isto é, ilustram o assunto, visto que nelas aparece um sujeito ajoelhado, na primeira, enquanto um outro grupo de sujeitos impõem suas mãos, num cerimonial característico de igrejas evangélicas, assim denominado "Ordenação ao Ministério". Enquanto que a outra mostra um aspecto do púlpito como se apresentava no dia, o sujeito de pé, mais à esquerda da foto, olhando para as anotações sou eu mesmo, o mesmo que se apresenta ajoelhado na foto anterior.
Coisas do céu, digo, porque na galeria dos pastores presentes, incluído aquele que está também olhando suas anotações ao púlpito, ao centro, entre os outros cinco pastores assentados, conheço-os todos pelo nome: Jorge Mota, ao púlpito, no centro e, sentado ao seu lado, Maurillo Neves Moreira (que foi quem batizou a mim e a minha esposa), sentado bem abaixo de mim, à esquerda, José Alves Barbosa, amigo de meu pai há anos, ao lado dele Helio Rodrigues Martins, pastor de minha prima, na Congregacional do Encantado, RJ, e os dois à direita, meu pai, Cid Gonçalves de Oliveira e, ao lado dele, estrema direita, Antonio Limeira Neto. O placar desta foto é, incluído o meu nome que, a partir dessa data aí, 2 de janeiro de 1983, passaria a ser chamado "pastor", dá 7 X 3, quero dizer, três pastores ainda estão por aqui, eu, que escrevo estas notas, Helio Martins e José Alves Barbosa, enquanto quatro já estão no céu, Jorge Mota, Maurilo, Cid e, o mais recente assim promovido, o Limeira.
Por isso escolhi falar dessas duas coisas (1) ordenação pastoral ou ministerial e (2) coisas da congregação lá no céu. Vamos começar por essa segunda, mesmo porque serão digressões, como já mencionei, visto que não dá para saber ou, pelo menos, estabelecer com os critérios daqui, mesmo com toda essa tecnologia cada vez mais avançada, a nosso (des)favor, como e o que se passa lá, na congregação celestial. Apenas aprendemos (e divulgamos) no Seminário onde estudamos, com vistas a tal ordenação ao ministério, que há, pelo menos, três tipos de congregação (ou igrejas, ekklesia, no grego): (a) a igreja militante, (b) a igreja local e (c) a igreja celestial. Isso mesmo, entre outras coisas que, como pastores, divulgamos por aí, e que, resumidamente, confere com o que segue.
A (a) igreja militante são todos os crentes em Cristo vivos e atuantes neste planeta - que acreditamos ser o único existente com vida; (b) igreja local é o grupo restrito de crentes de uma determinada comunidade, dessas situadas em bairros das diversas cidades, vilas, povoados pelo mundo afora; (c) igreja celestial são todos aqueles que, uma vez tendo crido em Cristo ainda em sua vida, morreram e aguardam a ressurreição prometida por Jesus. Está lá, na cartilha de Teologia. E a gente, assim denominado "pastor", crê, pratica e espalha por aí esses conceitos. Agora passo às digressões. Mais ou menos deve ter ocorrido o seguinte diálogo:
"Oi, Limeira", assim disse Clovelina, com aquele clássico sorriso, belíssimo desde quando a conhecemos, porém muito mais bonito ainda lá, na congregação do céu. E Limeira, não tão sorridente ainda, terá respondido: "Poxa, Lilina, nem para me esperar...". E ela contra-argumentando: "Apenas fizemos uma troca: você me esperou na igreja, quando casamos e, agora, esperei você, mas só um pouquinho." E só então Limeira deu o sorriso dele. Assim estão os dois por lá, com aqueles sorrisões que, se já eram tão lindos aqui, imaginem por lá...
Assim são as coisas por lá, na congregação celestial. O tempo contado não é o mesmo daqui. Por isso que, quando Lilina e Limeira lá se encontraram, não contava o tempo que Limeira reclamou. Ele só reclamou, por causa do impacto do encontro, ainda não refeito da troca da igreja de cá, pela de lá, e por meia chateação de Lilina ter-se adiantado. Mas, instantaneamente a chateação aqui mencionada se desfez, como tudo e muita coisa se desfaz lá, na congregação do céu. Logo, logo se enturmaram, fosse com os colegas de turma que aparecem na foto, do placar "sete por três", ou seja, três ainda por aqui, Cid Mauro, Helio Martins e Barbosa (como meu pai o chamava, "o Barbosa"), e quatro já por lá, Cid Gonçalves, meu pai, Maurillo, Jorge Mota e, agora, mais recentemente, o Limeira. E muitos outros que já nos anteciparam na volta para casa.
Não dá para saber, sejamos sinceros e práticos, como é a congregação lá no céu, com detalhes, ou vá lá como seja, com os critérios e exigências do modo de conhecer as coisas como o desenvolvemos nesses séculos todos de vida aqui no planeta. Mas podemos imaginar, aí sim, com certeza, que a turma de lá não enfrenta uma porção de coisas como enfrentamos aqui embaixo. Uma delas, já mencionada, é a questão do tempo, como o contamos aqui no planeta. Uma vez lá, acaba esse negócio de contar anos, dias, meses, segundos, minutos, ufa, até o, literalmente (nosso) fim. Não. Lá na congregação de cima, na igreja do céu, o tempo é eternidade. O tempo não conta.
Tristeza. Outra coisa da qual não adianta tentar fugir ou viver como se ela não existisse. Aliás, é Paulo, o apóstolo (de novo ele) que menciona a expressão excessiva tristeza, isto é, uma tristeza além da conta, e ele menciona essa expressão exatamente quando fala da morte de crentes, de entes queridos nossos que partem lá, para a congregação do céu (aqueles que, como está lá na cartilha, antecipadamente creram em Cristo): não sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Lá não existe mais tristeza. As coisas daqui ficam aqui e, uma delas, não adianta ser hipócrita, cínico ou insensível porque, com certeza, vamos esbarrar com ela pelo caminho, que é a tristeza, essa fica por aqui. Por isso digo que o sorriso, aquele sorriso que sempre nos encantou e que aparecem nas fotos que ficaram, os sorrisões de Lilina e Limeira, lá no céu, ficaram muito, mas muito mais bonitos mesmo.
O tempo. A tristeza. A comunhão. Outra coisa - desculpem a palavra 'coisa', meio imprópria - que aqui define o que é igreja e que outro apóstolo, desta vez João, afirma que temos com Deus, é a comunhão, quando diz que a nossa comunhão é com o Pai e com seu filho Jesus Cristo, essa comunhão que experimentamos e por ela nos deliciamos, principalmente quando diz respeito ao contexto da igreja local, quando diz respeito ao testemunho que carregam consigo esses crentes que, ainda, por aqui peregrinam, e, com respeito aos que partiram e deixaram, após si, mesma qualidade de testemunho, que se constituem para nós, uns aos outros, como recomenda a cartilha (refiro-me à Bíblia) exemplo e modelo de fé - visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas - assim como Cristo, Ele mesmo se constitui modelo por excelência, sim, falando de comunhão, pois, no céu, a comunhão é perfeita. E a definição de igreja é comunhão. Privamos e devemos privar dessa comunhão aqui na terra, ela é real e deve formar, conceitual e praticamente, igreja - esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Mas lá na congregação do céu, entre si e com o Pai, nossos irmãos que lá estão experimentam perfeita comunhão.
Não há intervalo de comunhão. A geografia é obstáculo, muitas vezes, para a comunhão que existe entre os irmãos na igreja daqui. Embora, pelo conceito em si, de comunhão, ela nunca deixe de existir entre nós, aqui na terra, muitas vezes, estando longe, há um, digamos, intervalo de comunhão. No céu não há intervalo de comunhão. Entre a igreja daqui e a de lá há, sim, um intervalo de comunhão. Mas um dia, Paulo de novo, ele diz que então Deus será tudo em todos, haverá comunhão total, sem intervalos. E aquilo que Jesus, na chamada oração sacerdotal, definiu como o que é igreja em essência, quando disse a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste, essa comunhão, que define o que é igreja aqui, que devemos ter como modelo e prática essencial da igreja, lá na igreja celestial já é perfeita. E o pessoal fica lá, aguardando a vez da nossa chegada. E nós ficamos aqui, cumprindo o ministério que Cristo deixou a nosso cuidado, tendo a rodear-nos essa 'nuvem de testemunhas'.
Falta, para terminar essa licença a mais do blog, falar de ordenação. A foto mostra a minha ordenação. Uma coisa (de novo, a palavra quebra-galho) digamos assim, meio formal. Sim, porque é necessária, como cerimonial, mas independe de quem impõe a mão ou de quem recebe a imposição de mãos. Explico. Não há virtude em quem impõe mãos, não flui deles para o ordenado nada em especial e, também, se o tal ordenado, com todas as etapas anteriores que autorizam o tal cerimonial, quais sejam, lustrar as cadeiras de um Seminário, para ser aprovado nas sabatinas e provas, passar (ou sofrer) as inquisições (desculpem) as inquirições da famosa banca ou concílio, enfim, ser indicado para a ordenação, toda essa burocracia (até necessária, admito) não filtra ou não será definidora de nada, a não ser que, de Deus, realmente, haja uma verdadeira imposição de mãos (dEle, quero dizer, mãos de Deus) sobre o, assim chamado, candidato. Autenticamente vocacionado por Deus, então tudo o que fizerem, candidato, examinadores, colegas de ordenação, isso estarão fazendo em obediência ao e em nome do Pai. Se não...
Mas entre os pastores que ali estavam, cada um deles tem sua história e cada um deles, geração anterior à minha, algum tipo de exemplo deixam para mim. Posso até começar pelo mais conhecido exemplo, que foi o de meu próprio pai, numa pose característica sua, na foto, tão familiar a mim, que foi aquele que traçou em minha vida seu exemplo pessoal de fé. Costumo dizer que ele me ensinou o apego à Bíblia, enquanto que Dorcas me ensinou o apego à igreja. Ou outro, o pastor que, desde meus 10 anos de idade e até o dia dessa ordenação aí, 2 de janeiro de 1983, contava eu 26 anos incompletos, acompanhou-me, pregou, batizou a mim e a minha esposa, enfim, pastoreou por 15 anos a Igreja Evangélica Congregacional em Cascadura, RJ, o pastor Maurillo Neves Moreira e, coincidentemente (ou não) a quem sucedi no ministério, como pastor, nessa mesma igreja. Ainda mais um, que não aparece nessas fotos, Amaury de Souza Jardim, a quem convidei para o sermão do dia, a chamada parênese, que me viu chegar a Cascadura em 1966, de quem fui (e sou) amigo e companheiro de seus filhos e filhas, enfim, orou por mim na época de meu atropelamento em 1967 e me deu assistência no Hospital dos Servidores do Estado, juntamente com o pastor Teodoro José dos Santos, enfim, histórias e mais histórias, esses homens impõem mãos, literalmente.
E Antonio Limeira Neto, casado com Clovelina, a amiga de infância de minha mãe, Dorcas, duas famílias que sempre caminharam, pastor os dois, Cid e Limeira, educadoras as duas, Dorcas e Lilina, em paralelo, sua família e a nossa, sempre sabendo nós das idas e vindas do casal, andanças e mudanças de ministério, entre Bahia, sua terra natal e Rio de Janeiro, eu conhecendo desde muito novo os filhos do casal, as meninas, Nídia e Nádia, e o casal posterior que Deus acrescentou, Paulo e Núbia. Se ordenação também significa que aqueles que impõe suas mãos sobre o ordenado têm, com ele, alguma identidade ou transmitem, não no ato, em si, explícito no cerimonial, mas na história de vida transmitem algum exemplo ou modelo, como a Bíblia afirma que Jesus planejou ser e desejou que fôssemos uns para os outros, Limeira transmitiu-me exemplos e em suas pegadas andei, se isso significa dizer que, com prazer, aceitei (e muito me honrou) o convite para pastorear Copacabana, igreja que ele ajudou a instalar na zona sul (a única congregacional naquela área da cidade do Rio de Janeiro), assim como segui os rastros de Nelson e Josilene Rosa, o casal que ele convidou para abrir campo missionário em Rio Branco, Acre, e para cá vieram em 1984, no ano seguinte de minha ordenação. E aqui estou, desde 1995. Pegadas de Antonio Limeira Neto.
Tempo na congregação do céu, não conta. Tristeza, na congregação do céu, não há. Comunhão, na congregação do céu, é perfeita. Ordenação, uma formalidade, mas, dependendo de quem é ordenado e de quem impõe mãos, há sentido. Eu tenho avaliado, basicamente, ao longo da vida, o sentido que tem ter sido eu, ou me permitir ter sido ordenado. Dos bons exemplos de meu pai, eu posso até dizer, vivo deles, pelo menos aqueles que consegui reter. Também daqueles que o pastor que durante 15 anos foi considerado o meu pastor, guardo lembranças e marcas. E do Limeira, presente em minha ordenação e também de quem guardo lembranças e com quem convivi e no rastro de quem andei e ando, guardo lembranças, sou grato a Deus e fico imaginando atividade e dinâmica suas lá na congregação do céu. Sorrisões, aqueles, de Limeira e Clovelina. Sonora gargalhada a dela, desenho cuidadoso, sorriso que se desenhava aos poucos, obra de arte curiosa e provocativa, enigmática, silenciosa, o sorriso dele naquele rosto enorme, característico, nordestino. Ele esteve presente em minha ordenação. Aceito mais essas mãos impostas sobre minha cabeça. Relutei, Deus sabe muito o quanto, em me permitir ser ordenado. Aliás, durante muito tempo, achei que fora um gesto meu de covardia. Mas ao longo do tempo, Ele, Deus, tem confirmado o chamado. Sou um dentre eles. Sou pastor. E prossigo na esteira e pegadas dos que me precederam. Até o dia de estar com eles naquela congregação.
Cid Mauro Oliveira.
Não dá para saber, sejamos sinceros e práticos, como é a congregação lá no céu, com detalhes, ou vá lá como seja, com os critérios e exigências do modo de conhecer as coisas como o desenvolvemos nesses séculos todos de vida aqui no planeta. Mas podemos imaginar, aí sim, com certeza, que a turma de lá não enfrenta uma porção de coisas como enfrentamos aqui embaixo. Uma delas, já mencionada, é a questão do tempo, como o contamos aqui no planeta. Uma vez lá, acaba esse negócio de contar anos, dias, meses, segundos, minutos, ufa, até o, literalmente (nosso) fim. Não. Lá na congregação de cima, na igreja do céu, o tempo é eternidade. O tempo não conta.
Tristeza. Outra coisa da qual não adianta tentar fugir ou viver como se ela não existisse. Aliás, é Paulo, o apóstolo (de novo ele) que menciona a expressão excessiva tristeza, isto é, uma tristeza além da conta, e ele menciona essa expressão exatamente quando fala da morte de crentes, de entes queridos nossos que partem lá, para a congregação do céu (aqueles que, como está lá na cartilha, antecipadamente creram em Cristo): não sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Lá não existe mais tristeza. As coisas daqui ficam aqui e, uma delas, não adianta ser hipócrita, cínico ou insensível porque, com certeza, vamos esbarrar com ela pelo caminho, que é a tristeza, essa fica por aqui. Por isso digo que o sorriso, aquele sorriso que sempre nos encantou e que aparecem nas fotos que ficaram, os sorrisões de Lilina e Limeira, lá no céu, ficaram muito, mas muito mais bonitos mesmo.
O tempo. A tristeza. A comunhão. Outra coisa - desculpem a palavra 'coisa', meio imprópria - que aqui define o que é igreja e que outro apóstolo, desta vez João, afirma que temos com Deus, é a comunhão, quando diz que a nossa comunhão é com o Pai e com seu filho Jesus Cristo, essa comunhão que experimentamos e por ela nos deliciamos, principalmente quando diz respeito ao contexto da igreja local, quando diz respeito ao testemunho que carregam consigo esses crentes que, ainda, por aqui peregrinam, e, com respeito aos que partiram e deixaram, após si, mesma qualidade de testemunho, que se constituem para nós, uns aos outros, como recomenda a cartilha (refiro-me à Bíblia) exemplo e modelo de fé - visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas - assim como Cristo, Ele mesmo se constitui modelo por excelência, sim, falando de comunhão, pois, no céu, a comunhão é perfeita. E a definição de igreja é comunhão. Privamos e devemos privar dessa comunhão aqui na terra, ela é real e deve formar, conceitual e praticamente, igreja - esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Mas lá na congregação do céu, entre si e com o Pai, nossos irmãos que lá estão experimentam perfeita comunhão.
Não há intervalo de comunhão. A geografia é obstáculo, muitas vezes, para a comunhão que existe entre os irmãos na igreja daqui. Embora, pelo conceito em si, de comunhão, ela nunca deixe de existir entre nós, aqui na terra, muitas vezes, estando longe, há um, digamos, intervalo de comunhão. No céu não há intervalo de comunhão. Entre a igreja daqui e a de lá há, sim, um intervalo de comunhão. Mas um dia, Paulo de novo, ele diz que então Deus será tudo em todos, haverá comunhão total, sem intervalos. E aquilo que Jesus, na chamada oração sacerdotal, definiu como o que é igreja em essência, quando disse a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste, essa comunhão, que define o que é igreja aqui, que devemos ter como modelo e prática essencial da igreja, lá na igreja celestial já é perfeita. E o pessoal fica lá, aguardando a vez da nossa chegada. E nós ficamos aqui, cumprindo o ministério que Cristo deixou a nosso cuidado, tendo a rodear-nos essa 'nuvem de testemunhas'.
Falta, para terminar essa licença a mais do blog, falar de ordenação. A foto mostra a minha ordenação. Uma coisa (de novo, a palavra quebra-galho) digamos assim, meio formal. Sim, porque é necessária, como cerimonial, mas independe de quem impõe a mão ou de quem recebe a imposição de mãos. Explico. Não há virtude em quem impõe mãos, não flui deles para o ordenado nada em especial e, também, se o tal ordenado, com todas as etapas anteriores que autorizam o tal cerimonial, quais sejam, lustrar as cadeiras de um Seminário, para ser aprovado nas sabatinas e provas, passar (ou sofrer) as inquisições (desculpem) as inquirições da famosa banca ou concílio, enfim, ser indicado para a ordenação, toda essa burocracia (até necessária, admito) não filtra ou não será definidora de nada, a não ser que, de Deus, realmente, haja uma verdadeira imposição de mãos (dEle, quero dizer, mãos de Deus) sobre o, assim chamado, candidato. Autenticamente vocacionado por Deus, então tudo o que fizerem, candidato, examinadores, colegas de ordenação, isso estarão fazendo em obediência ao e em nome do Pai. Se não...
Mas entre os pastores que ali estavam, cada um deles tem sua história e cada um deles, geração anterior à minha, algum tipo de exemplo deixam para mim. Posso até começar pelo mais conhecido exemplo, que foi o de meu próprio pai, numa pose característica sua, na foto, tão familiar a mim, que foi aquele que traçou em minha vida seu exemplo pessoal de fé. Costumo dizer que ele me ensinou o apego à Bíblia, enquanto que Dorcas me ensinou o apego à igreja. Ou outro, o pastor que, desde meus 10 anos de idade e até o dia dessa ordenação aí, 2 de janeiro de 1983, contava eu 26 anos incompletos, acompanhou-me, pregou, batizou a mim e a minha esposa, enfim, pastoreou por 15 anos a Igreja Evangélica Congregacional em Cascadura, RJ, o pastor Maurillo Neves Moreira e, coincidentemente (ou não) a quem sucedi no ministério, como pastor, nessa mesma igreja. Ainda mais um, que não aparece nessas fotos, Amaury de Souza Jardim, a quem convidei para o sermão do dia, a chamada parênese, que me viu chegar a Cascadura em 1966, de quem fui (e sou) amigo e companheiro de seus filhos e filhas, enfim, orou por mim na época de meu atropelamento em 1967 e me deu assistência no Hospital dos Servidores do Estado, juntamente com o pastor Teodoro José dos Santos, enfim, histórias e mais histórias, esses homens impõem mãos, literalmente.
E Antonio Limeira Neto, casado com Clovelina, a amiga de infância de minha mãe, Dorcas, duas famílias que sempre caminharam, pastor os dois, Cid e Limeira, educadoras as duas, Dorcas e Lilina, em paralelo, sua família e a nossa, sempre sabendo nós das idas e vindas do casal, andanças e mudanças de ministério, entre Bahia, sua terra natal e Rio de Janeiro, eu conhecendo desde muito novo os filhos do casal, as meninas, Nídia e Nádia, e o casal posterior que Deus acrescentou, Paulo e Núbia. Se ordenação também significa que aqueles que impõe suas mãos sobre o ordenado têm, com ele, alguma identidade ou transmitem, não no ato, em si, explícito no cerimonial, mas na história de vida transmitem algum exemplo ou modelo, como a Bíblia afirma que Jesus planejou ser e desejou que fôssemos uns para os outros, Limeira transmitiu-me exemplos e em suas pegadas andei, se isso significa dizer que, com prazer, aceitei (e muito me honrou) o convite para pastorear Copacabana, igreja que ele ajudou a instalar na zona sul (a única congregacional naquela área da cidade do Rio de Janeiro), assim como segui os rastros de Nelson e Josilene Rosa, o casal que ele convidou para abrir campo missionário em Rio Branco, Acre, e para cá vieram em 1984, no ano seguinte de minha ordenação. E aqui estou, desde 1995. Pegadas de Antonio Limeira Neto.
Tempo na congregação do céu, não conta. Tristeza, na congregação do céu, não há. Comunhão, na congregação do céu, é perfeita. Ordenação, uma formalidade, mas, dependendo de quem é ordenado e de quem impõe mãos, há sentido. Eu tenho avaliado, basicamente, ao longo da vida, o sentido que tem ter sido eu, ou me permitir ter sido ordenado. Dos bons exemplos de meu pai, eu posso até dizer, vivo deles, pelo menos aqueles que consegui reter. Também daqueles que o pastor que durante 15 anos foi considerado o meu pastor, guardo lembranças e marcas. E do Limeira, presente em minha ordenação e também de quem guardo lembranças e com quem convivi e no rastro de quem andei e ando, guardo lembranças, sou grato a Deus e fico imaginando atividade e dinâmica suas lá na congregação do céu. Sorrisões, aqueles, de Limeira e Clovelina. Sonora gargalhada a dela, desenho cuidadoso, sorriso que se desenhava aos poucos, obra de arte curiosa e provocativa, enigmática, silenciosa, o sorriso dele naquele rosto enorme, característico, nordestino. Ele esteve presente em minha ordenação. Aceito mais essas mãos impostas sobre minha cabeça. Relutei, Deus sabe muito o quanto, em me permitir ser ordenado. Aliás, durante muito tempo, achei que fora um gesto meu de covardia. Mas ao longo do tempo, Ele, Deus, tem confirmado o chamado. Sou um dentre eles. Sou pastor. E prossigo na esteira e pegadas dos que me precederam. Até o dia de estar com eles naquela congregação.
Cid Mauro Oliveira.