quinta-feira, 7 de março de 2024

Raiz de beira-rio

Certo dia, certa vez, certo tempo
Era o meu ginasial, 1969-1972,
Haja dia, haja tempo, nem mais assim se fala
Na época, eram minha cruz
O português e a matemática.
Mas havia dois tios, que o eram por afinidade
Comigo, e com as minhas tias,
Sim, dois tipos de afinidade,
Delas, esposos, e de mim, tios:
Inácio Jegueira, matemática,
 E Dirley, português, esposos,
No caso, de Mirian e Gislaine,


Ora, vejam só, fui parar em Nilópolis,
Na casa do casal recém-casado,
Para as aulas de português.
Casa da qual o nome da rua não lembro,
Aliás, acompanhei o casal em todas as casas,
Nilópolis, Nova Cidade, Anchieta, Recreio.
Lá conheci Emanuel, que vinha se formar,
Mais tarde Vanderlei, pelo mesmo caminho,
Era o tião, quero dizer, grande sujeito,
Acolhendo os meninos escrevendo sua história.
Dia certo, tempo certo, era essa a vez e a hora.
Mal sabia eu, tão treinado fiquei
Na matemática e no português,
Que veslibulei, do verbo vestibular,
E até engenharia tentei.
Bati cabeça, entrando aos 20 anos, em 1977,
Saindo em 1980 da PUC, para a UERJ, em 1982.
Deu certo e mal (ou bem) sabia o tio Dirley
Que na vida eu seria, como ele, professor
E como Dorcas, minha mãe querida
Seria professor, e que ironia, de português.
Tão bem adestrado eu fui.
Sujeito paciente, sempre de bom-humor,
Lutador, venceu sendo professor,
O que não é fácil, se se trata de qualquer um,
Mas esse meu tio não é qualquer um,
Pois traz marcas na vida, de uma gente de raiz,
Ribeirinhos do Paraíba do Sul, gente do interior,
Gente de igreja, pois, para isso, vale caráter.
Três filhos tiveram esse casal, 9 netos
E já dois bisnetos.
Porque Ana Lúcia faz parte dessa história.


E o neto Lucas herdou a nota tonal,
Papai Jack recente de Felipe,
São de uma família de violeiros e cantores,
Médicos, pastor e engenheiros,
Sem esquecer da única irmã Helena
Entre todos esses meninos.


Ateu pró-ativo, assim chamo quem,
Nessa condição, mais ética tem
Que muito manganão não cristão.
Mas a raiz da beira-rio, vale mencionar
Textualmente pelo nome Bernardina
Foi tronco firme, carvalho, esse sim,
Autêntico. Tal marca é visgo
Que não desgruda, muito mais
Que só religião, esta sim, que nunca foi nada mais
Que enrolação. Mas fé, não, esta é raiz.
Grato, tio, de cima de mais de 80.
Sua história dá um livro.
Rsrsrsrsrsrsrs...


Seguimos teu rastro
Rastro de todos os meninos
Lá de beira-rio, debruçados nos livros,
Valorizando o saber, educaram filhos,
Que souberam o que escolher.
Certa vez, fui a Grussaí.
Era um adolescente. De lá lembro pouco.
Do areal da linda praia, da nossa noite
 em casa cheia,
Da travessia por canoa, por um certo riacho,
De uma bruta chuva e tremendo trovão.
Mas uma impressão nunca mais
Da retina saiu: um rosto grave


De uma mulher gigante na beira-rio.
Bernardina. Essa beira-rio nunca saiu
De dentro dos meninos.
Essa raiz gigante de rosto grave vem,
Evém com a gente como herança
Desde lá, desde sempre, até a mim, e a outros tantos, influi.
Pela eternidade, enfim.

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