sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

    Natal

    Tenho que escrever. Vou tentar fugir do comum, do tipo "são tantas emoções, bicho". Todo mundo tem coisas a lembrar sobre o Natal, de um jeito ou de outro.

    São muitos e são um. Bem, nos últimos 23 deles estabelecemos uma tensão entre Natal/Ano Bom, quer dizer, Ano Novo, por causa dos 4.100 km entre Rio, onde está toda a família, e Rio Branco, terra por adoção.

      Natal comércio, festa e fonte bíblica costumam se misturar. Claro que a fonte de tudo é o presépio que Lucas descreve na Bíblia. Mas espraiado o significado, virou troca de presentes, euforia e cheiro de feriado e reveillon.

       Lá se vão meus Natais da infância, sempre associados à igreja, ensaios de cânticos de época e das pecinhas teatrais sobre pastores, reis magos, José, Maria e o menino.

      Veio à memória um micão, bem assinalado o ano, 1980, conta redonda, Natal meu como estagiário no Largo do Barradas, Niterói, RJ. Uma tal peça de um tal sapateiro, nunca vi antes, sem fala, mimética, eu como protagonista.

     Não deu certo. Houve uma entrada extra de um "salvador da pátria", nada a ver com Jesus, para transformar o enredo, criando ação, mudando o foco para a comédia.

     Fora esse Natal, se voltamos o foco para as reuniões de família, duas citadas como simbólicas, no Meier, as do Ap de Dorcas, mesa lauda, decoradíssima, sortida, cheia de capricho.

      Na casa de Lourdes, desde o Ap do Cachambi, a mesma mesa, quanta saudade, pasando pelo Ap da Venceslau e esticando até Teresópolis. Em certo Natal, fizemos Rio Branco-4 dias de estrada-Méier-Teresópolis, para comemorar o Natal todos juntos.

     Natais recentes em Rio Branco, nos anos iniciais. Sendo de igreja, Natal e Culto de Vigília são extensão um do outro: sempre estamos pela igreja. Aqui no Acre, já dissemos, mais de 20 anos, mas destacamos um dos primeiros, pela perda coletiva do salpicão, azedado por causa do calor típico de época.

     Natais. Natal. Espírito de época. Desde crianças, quando nossa expectativa era o presente. Há uma certa nota muito particular e individual nessas memórias, porque há quem para quem nunca foi Natal.

     Ou o que viu de Natal, nos outros, reprimiu o que nele nunca foi sinal de alegria. Pobreza, por exemplo. Meu pai, 1949, em Nilópolis, viu mesa farta na casa de Eunice, minha avó. Dorcas esclareceu que, com emprego de Merinho, Ebinho e Maninha, deu para remediar.

      E Tula pôde fritar umas rabanadas (paridas, aqui no Acre) a mais. Mesmo sendo filho de casal de poucas posses financeiras, ainda assim vi primos, ora, parentes próximos, com menos posses ainda na comemoração do Natal.

     Portanto, que Natal? O do presépio de Lucas? Não tem nada a ver com dinheiro o dar presentes. A não ser para dizer que Jesus é o maior presente. Mas nasceu entre pobres e ainda rejeitado, duplamente: não havia dinheiro com José e Maria para bancar una estalagem e não havia lugar específico e preparado nem para o parto espontâneo.

       Maior dádiva versus maior rejeição. No lugar onde Jesus nasceu, fedia a cheiro de bicho: por isso, puseram nuna manjedoura, envolta em panos. Radical o sentido do Natal.

      Riqueza, para Deus, definitivamente não tem o mesmo sentido de riqueza para os homens. Maior presente, Jesus, ou é aceito de uma vez, identidade completa, ou é rejeitado de uma vez, sem meios termos.

      Feliz Natal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário