segunda-feira, 18 de maio de 2015


  Um dia, em Petrópolis

        Cidade de Pedro, o sentido desse nome. Pedro, aquele que foi filho de Pedro e, por isso, chamam um de Pedro I, o pai, e Pedro II, o filho. Favor ler "primeiro", para I e "segundo", para II. Por isso é que essa tal Cidade, "pólis", de Pedro, "petro" tem o charme do antigo por todo o lado. 

        Quem circula por suas ruas lendo, mesmo amadoristicamente, os perfis de seus prédios, discerne camadas de tal ou qual período ou época, se há décadas, quantas são elas e, eventualmente, se já passou foi mesmo um século ou século e meio, dependendo de qual casarão está em questão.

         História: andando por suas ruas, tem-se vontade de conhecer a história revelada a cada esquina, diante de cada fachada, a cada ladeira, travessa, beco ou curva. Grupo seleto, umas cento e poucas pessoas esteve, nesta sexta e sábado últimos recentes, por lá, para rever história.

           Certo dia, em Petrópolis, lá chegou um casal que, pelo que parecia, além de buscar o ameno clima serrano, parecia que Robert e Sarah tinham outras intenções. Ele, médico escocês, ela, poetisa e musicista, de origem britânica. Ambos de fé protestante.

           Ele, além de propagandista de sua própria fé, era médico, muito interessado em ajudar a sanar sérios problemas de saúde pública, em meados do século XIX, quando chegou o cólera à sede da Corte, provavelmente trazido de Belém, pela navegação costeira, único caminho de acesso ao Rio de Janeiro na época.

          Aula de história. Para aficionados, há todo um charme em ouvir aulas de história em Petrópolis. Aula de história ensina a ser inteligente com relação ao que envelheceu. É indispensável à qualidade de vida refletir sobre o passado, ponderando o presente, para projetar um futuro melhor. De um modo geral, é o que menos faz o ser humano no planeta.

            O imediatismo comanda as escolhas. Então, há total desinteresse pelas lições do passado, valores quetionáveis determinam as escolhas no presente e o futuro se afigura sombrio. Nas aulas de história desse dia e meio em Petrópolis, procurou-se focar nas escolhas desse casal, as escolhas que decidiram fazer e sua vontade de transmitir suas lições de vida.

              Residiram em dois lugares, em Petrópolis, na metade final do século XIX. O grupo presente nas aulas de história visitou um desses lugares. Faça suas contas, e deduza, lembrando suas aulas de história, que o período coincide com a parte final do Império, antes do colapso em 1889. O médico foi amigo pessoal do Imperador.

           Consta até, entre as histórias, o dia em que o Imperador decidiu visitar o médico em sua casa. O mensageiro imperial avistou-se com a esposa, d. Sarah, que informou estar gripado o marido. A visita foi, portanto, adiada. Conversavam, entre outros assuntos, sobre a viagem do médico à Palestina, nos idos de 1849-1850, e o desejo do Imperador visitar aquelas paragens. Aliás, foi nessa viagem onde o casal se conheceu e, posteriormente, casaram-se.

         Sarah interessou-se em abrir em sua casa uma classe de ensinamentos bíblicos para crianças. Contava histórias, entre elas a do profeta Jonas, para filhos de imigrantes ingleses e alemães e, posteriormente, crianças brasileiras. Era empolgada com o movimento com crianças iniciado por seu contemporâneo, Raikes, o movimento de Escola Dominical, a partir de 1780, na Inglaterra.

         Assim começou o movimento igual no Brasil, em 19 de agosto de 1855, com d. Sarah, em Petrópolis. O grupão ouviu esta e outras histórias sobre o casal. E visitou o segundo lugar onde residiram. Também recordaram de seu trabalho no Rio de Janeiro onde, em 1858, começaram uma igreja evangélica, a mais antiga em estado permanente no Brasil, com cultos em língua portuguesa.

           Histórias. O grupo teve chance de refletir sobre o passado. Como que um casal pode ser útil a tanta gente, caso se empenhe num projeto pessoal, avaliando que suas energias podem ser potencializadas por sua fé. Há tanto a fazer nesse tão cansado, sobrecarregado e desiludido mundo. Caso olhemos à volta, ao redor, e nos lembremos do casal Kalley de imigrantes ingleses, que optaram pelo Brasil do século XIX, quem sabe possamos realizar outro tanto, ainda neste século, enquanto houver fôlego de vida porque, um dia, vamos virar história que, por favor, não seja medíocre.

              

     

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