sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Necrópole - V

      Raul, o filho, nunca esqueceu esse dia. Porque olhou para o pai como se não entendesse que faltava ter falado sobre Deus. Claro que o menino havia ouvido falar fora de casa. Mas nunca da boca do pai. E a mãe achava que isso era assunto de pai. O menino perguntou sobre Deus. Foi? Claro. Quando eu disse que domingo vamos à igreja. Por que você nunca conversou com ele sobre isso?

     Ué, por que você não conversou? Porque é assunto de pai. Ele riu. Ela fez cara de mau humor. Ele ria ainda mais. Toda conversa é para pai e mãe, só varia a abordagem. Não sei nada de Deus. É intuitivo, mulher. Intuitivo, ela perguntava com espanto? Eu não acho. Aí ele ficou sério. Rauana já tinha me falado que, um dia, ele perguntou. Por que nessas idas tuas ao cemitério, você não aborda esse assunto? Ara, falar de Deus em cemitério, Laura?

      Definitivamente, eu não te entendo. Você traz para dentro de casa esse assunto estranho de visita a esse lugar lúgubre. Quando ela usou esse termo, ele arregalou os olhos. Então, vai me dizer que lá não é lugar para falar de Deus? Ora, Raul, falar de Deus eu acho que qualquer lugar serve. Sim, o que você disse a Rauana? Ora, que ela falasse com ele para te perguntar.

      Rauana, que que é Deus? Ela olhou para o irmão. Ora, Raul, dizem que Deus fez tudo o que existe. Mas como assim? Ora, Raul, pergunta pro pai. O próprio pai não soube, até a conversa com a mulher, porque o menino não teve curiosidade de perguntar.

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