quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O Apocalipse nosso de cada dia - Parte 4

      João assinala quando, onde e como se iniciou o processo da revelação de que foi objeto. Em Patmos, ilha do mar Egeu, 55 km a sudoeste da Turquia, com uma área de 34,5 km².

    Apresenta-se aos destinatários como "companheiro na tribulação, no Reino e na perseverança em Jesus", por se achar na ilha "por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus". E 'companheiro de tribulação", referindo-se aos irmãos de fé, porque a igreja estava sob perseguição nesse período do império romano.

     Esse modo de dizer revela que era prisioneiro exilado, talvez entre 91-96 d. C., no período do imperador romano Dominicano. Foi quando num domingo, indicado por ele como "dia do Senhor", descreve "achei-me em espírito", situação em que, conservada a sua lucidez, vai se encontrar numa condição estática em que assinala, sucessivamente, as visões que lhe são concedidas. 

     A primeira delas é determinante para o contato com as igrejas, porque na forma como lhe aparece Jesus, estão reunidos um conjunto de símbolos definidores de sua autoridade, que vão se desdobrar no modo como vai se apresentar a cada uma delas. 

     Antes de descrevê-las, é importante saber alguns pormenores de seu efeito. Vamos numerà-los, para facilitar a compreensão:

1. Não são exatas, quer dizer, literais, com existência concreta no mundo real ou ainda no "mundo espiritual". São etéreas, ou seja, sem que sejam reais, têm um valor simbólico verdadeiro. Hoje podemos dizer que eram uma "realidade virtual";

2. Os destinatários do livro estavam familiarizados com elas. Se João as descreve e Deus, por meio delas, indica ao apóstolo verdades que deseja transmitir, por meio de Jesus, à igreja, significa que eram um meio fácil e direto, ao mesmo tempo que fascinante, para a sua compreensão;

3. A literatura ou linguagem apocalíptica era muito comum naqueles dias, tendo surgido séculos antes, como, por exemplo, quando a vemos no Antigo Testamento, portanto era bastante conhecida e explorada. O Apocalipse de João surgiu, em meio a muitos outros não canônicos, isto é, não pertencentes à Bíblia, para marcar presença, destacando-se de todos os outros como autêntico, concedendo um referencial seguro à igreja e transmitindo sua mensagem num modo familiar aos seus destinatários. 

     A primeira cena que João presencia descreve um personagem transitando entre 7 candeeiros, cujo aspecto se assemelha a um "filho de homem". Esta expressão é muito utilizada no AT, como em Dn 3,25, em 8,15 e em Ez 9,3. Trata-se de uma antecipação profética do perfil da pessoa de Cristo, autenticamente filho de homem, ao mesmo tempo que Filho de Deus, como obteve resposta Maria, ao indagar como seria o milagre de sua gravidez, ver em Lc 1,34-35.

      Ele chama a atenção de João, a partir do momento em que este se vê no contexto da visão, de modo audível, com "grande voz como de trombeta", atrás dele, ordenando que escreva o que vir num livro e o envie às sete igrejas da lista dada a seguir. Essa voz e essa ordem o fazem virar-se, para ver quem lhe chamava. E uma vez girando sobre si, vê 7 candeeiros, cada um deles representando uma das sete igrejas, e o próprio "filho de homem" em meio aos candeeiros.

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