sexta-feira, 11 de setembro de 2020

1977 - Primeiro peso

 1977

     Ano em que fiz 20 anos. Com 19, já estava na PUC/RJ, na Gávea, para cursar engenharia elétrica. Era a ilusão alimentada na transição do curso de eletrotécnic, entre 1974 e 1976, feito na Escola Técnica Federal, no Maracanã.
    A fornada de alunos daquele ano, egressa do vestibular unificado da Cesgranrio, era um estorvo para a faculdade. Por isso, matricularam todos em Física 0 e Matemática 0, de modo a que fossem massacrados pelo modelo puramente teórico dessas disciplinas, para filtrar os sobreviventes. 
     A partir do ano seguinte, a universidade teria o seu vestibular isolado, o que lhe permitiria elitizar a clientela. E tudo isso ocorria num período de agitação política, governo Geisel, em que o diretório da PUC promovia reuniões nos pilotis, alusão ao prédio Cardeal Leme. Por isso,  pouco efeito teve uma advertência, por um grupo de veteranos,  que aquela iniciativa de "zerar" essa fornada de alunos do curso de engenharia era indevida.
    A chegada à PUC teve aquele deslumbramento e fantasia própria da época de calouro. Eles não faziam trote, mas convocavam para uma semana de calouros, com shows e outras participações muito amenas.
    A universidade fica em meio a um bosque, encrostado à beira de uma montanha ali, do velho Leblon-Gávea, onde os dois bairros se confundem. Uma de suas partes é chamada exatamente bosque,  cortado por um riacho, infelizmente poluído, mas um conjunto de árvores, cantinhos aprazíveis e assentos que entretem nos períodos de folga ou intervalos entre aulas. 
      Minha entrada na faculdade teve uma leve relutância, porque eu havia optado, no vestibular, engenharia fosse no Fundão, UFRJ, na UERJ ou na UFF, em Niterói. PUC foi quarta opção, particular, como ainda diz Martinho da Vila, o que seria demais para o funcionário público do IBGE, meu pai, e a professora primária minha mãe. 
     Portanto, informei-os de que a melhor opção era esquecer, tentar no ano seguinte, que tudo se encaixaria. Na verdade o conselho do "velho", como se referia aos pais na época, era aproveitar o curso de eletrotécnica feito numa instituição de alta monta,  que era a ETFCSF da época, para ingressar no mercado de trabalho. 
      Boa ideia do velho. Mas a preparação para o vestibular, que incluía sessões de estudos com amigas da igreja, Nadya Nascimento e Isis Jardim, empurrou-nos para o vestibular e consequente ingresso na faculdade. Por isso, na hora de eu sair fora, por causa do preço exorbitante que minha família pagaria, o velho espiritualizou a coisa e recomendou enfrentar.
     "Meu filho, você estudou e orou, esse resultado não é por acaso,  Dsus tem nos sustentado e vai continuar sustentando", etc, nessa argumentação. Topei. A coisa era bruta, comparativatemente falando, como se Dorcas, minha mãe,  ganhasse 1.000 ao mês e pagasse 950. Porque ficou combinado que o salário dela cobriria o carnê e meu pai a supriria com uma mesada.  Este o primeiro peso.

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