terça-feira, 26 de março de 2019

Artigos soltos 39

         Uma oração ao Deus da minha vida.

         Oração é eventual. Tem força própria. Muitas vezes irrompe. Surpreende. E nos vemos todos dentro delas. Certas coisas e certas situações em nossa vida nos expõem todos e inteiros. Caramba, como sentimos medo nessas horas.

        Quando Pedro negou, foi tomado pelo medo. Expôs-se todo e inteiro. Sua fraqueza (e franqueza, também) involuntária. Somos Pedros. E aquela prostituta (nem sei se era uma) que, violentada, teve sua vida exposta.  Aqueles homens, ora, os homens, eventualmente, mais do que eventualmente tão covardes: expuseram publicamente e rasgaram a intimidade alheia. 

       Ainda bem que provocaram Jesus. A qualquer e diante de toda a provocação, Jesus explode em amor. Quando você ouve um pássaro cantando, ele explode em amor. Quando você houve um bebê chorando, explode em amor. Se uma flor desabrochar, no invisível, com ou sem flagrante, como brota uma semente, no escondido, como explode a pipoca, explode e brota e floresce em amor.

      Jesus derramou do seu amor na vida da mulher. Aqueles homens não tinham do que acusar Jesus, senão de amor. E amar sempre dá muito medo. Por isso João, que é chamado "apóstolo do amor" certa vez disse "quem tem medo, não se aperfeiçoou no amor". E você me diga se há outra origem para o amor, senão Deus. Por isso que a Bíblia diz que o amor jamais acaba.

       No princípio, é o amor. Isso o livro não diz. Mas é como se dissesse. Me diz, então, se antes de tudo não está o amor e se, depois de tudo, ele não continua. Imagine a sua vida sem amor. Agora me diga se amor ê algo, assim, improvisado entre os homens, largado, como um bate-papo com os amigos. Jesus era homem de bate-papo com os amigos. 

       Ele os procurava. Tirante uma hora ou outra de oração, ele procurava e estava o tempo todo entre amigos. Certa vez que ele veio ao encontro deles, mais que urgente, andou sobre o mar. E até se assustaram com essa urgência. Você não acredita? Em que que você não acredita? No amor, em Jesus ter flutuado, na capacidade dele de fazer amigos, afinal, em quantas coisas você não acredita?

      Responda: acredito no amor, pratico com restrições, quer dizer, escolho a quem amar, mas não acredito que o amor seja eterno. Não acredito que ele era antes e que vai prevalecer depois. Para mim, amor não é eterno. É circunstancial. Para mim o cemitério é o fim do amor. Amor não é presença, para mim. Tem prazo de validade. Amo, quer dizer, amei alguns que já foram. Morreram. Um dia também vou morrer. O amor acaba na morte. 

     Tudo morre. O pássaro que cantou, morre. O bebê que chorou, um dia vai morrer. A flor que desabrochou é a que menos dura viva. O amor termina na morte.  Até Jesus morreu (se é que ele existiu). Jesus ressuscitou. Deus se reinventou. Porque Deus é amor. Um cara anônimo disse num dos livros da Bíblia que Deus é imutável (ora, sobre "Deus" se diz muita coisa). Outro cara da Bíblia disse "Deus é amor". Desculpe-me mencionar a Bíblia, livro tão provocativo. 

      Porque ela que diz que Deus é amor. Você não é obrigado(a) a crer nisso, quer dizer, nem na Bíblia, nem em Deus e nem no amor. Ou, quando muito, definir "amor" de outro jeito. Fique em paz. Ou perca a paz (o que às vezes é até melhor). Caso perca a paz, faça uma oração. Uma oração ao Deus da minha vida. Não é um deus. É Deus. Ele se reinventou. Explodiu em amor. Isso mesmo, até a ciência, essa "deusa", para alguns, de todas as respostas (até daquelas que ela ainda não tem, e o nome disso é fé), até ela diz que houve um Big-Bang.

       Pois então. Deus explodiu em amor.  Deus reinventou-se e ainda se reinventa a cada gesto de amor de verdade. Lembra do passarinho em seu trinado? Do choro da criança (ou qualquer choro verdadeiro)? Lembra da mulher violentada? Lembra de Jesus, boêmio, buscando amigos e crendo que a cada dia, mais uma chance, mais rostos, mais pessoas, mais chances de amar? 

       Desculpe, mas a Bíblia diz que Deus se fez homem. Você acha que é engodo ou mentira dizer isso? Pelo menos, é poético. O "livro inventado" diz que Deus é amor e explodiu-se porque não mais aguentava a solidão. Numa explosão de amor, criou o universo, colocando-nos como poeira cósmica dentro dele. No meio de uma explosão de amor. Diga que é mentira. Diga que seu amor é de mentira. Diga a si mesmo(a) que a morte é o limite do amor. 

     Diga que vida só existe do cemitério para fora. Eu vou continuar acreditando na vida. No amor. E quando encontrar Jesus numa roda de samba, com amigos, terei sempre  certeza do que disse  certo poeta: o samba também é uma forma de oração.

2 comentários:

  1. Muito bom. Se Deus é amor, nosso desafio diario é aprender e exercer um pouquinho desse amor. Talvez seja esse o proposito da vida.

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  2. Sim. Acho que esse único propósito é suficiente. Grande desafio.

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