sábado, 10 de novembro de 2018

Crônicas de uma vida XII - Delinquência juvenil anos 60

       Acho que estou com mania de Paulo. Mas do irmão do Zé Mauro era esse o nome, com certeza. Quanto ao Preguinho, tenho dúvida.

     Talvez fosse Francisco. Ou este era o nome do irmão do Joaquim? Pois tinham outros irmãos, cujos apelidos eram Corró, um deles, Dodôra, uma delas.

      Moravam à esquerda daquele prédio que vocês já viram na foto, dois pavimentos geminados simetricamente: parte de baixo à direita de quem olha da rua, ladeando o corredor, d. Olga, seu Otávio, filhos e filhas.

       Na simetria, o andar de baixo à esquerda foi alugado por seu Nelson Celestino dos Santos e Maria da Glória, respetivamente irmão e irmã de Jeconias Celestino dos Santos e Oscarina, avós maternos de minha esposa.

     Em cima, à direita, muito lá atrás, na memória, os pais do Jorge. Mas, posteriormente, Neide e Lisâneas, que saíram do 202 fundos, em cima do 102 de Cid e Maninha. E quando saíram, deram lugar a Ieda e Mario, este filho do Dr. Mario e Santinha.

      Foram o pais de Mario Luís e Glaucia. Demorou Ieda sair para a maternidade, Mario saiu à rua, para buscar a ambulância (lembram deste nome?), mas não deu tempo: Dorcas amparou Mario Luís nos braços ali mesmo, no 202 da Mendes de Aguiar 90.

       Houve rodízio, saem Neide e Lisâneas do 202 fundos, para o sobrado alugado, em cima da parte própria de d. Olga, entram Cid e Dorcas nessa vaga. Por pouco tempo, descem para o 102, entram Mário e Ieda, onde nasce Mario Luís.

      Para o lado esquerdo, casas geminadas à esquerda do prédio, aí já era o corredor do outro lado, morava esse Joaquim, irmão do talvez Francisco e dos, com certeza, Corró e Dodôra. Certa vez, sempre contornando, por malabarismos, os déficits financeiros, ganhei um caminhão cegonha todinho de matéria plástica.

       Multicolorido, caramba, como também brinquei com ele. Durou muito. Era atraente, por causa da imitação de rampinha, para os carros subirem na parte de cima, a mesma que, por ajuste, permitia aos carros subirem na parte de baixo. Carroceria com engate, separava-se do truck à frente.

       Era 25 de dezembro, que deve ter sido ano antes, ano depois da tal compra da Caravana. Eu estava bem ali, na calçada defronte ao portão do corredor onde eu morava. Usava o meio-fio como guia das manobras do brinquedo novo, estreia no dia do Natal, era usual mostrarmos nossos brinquedos uns aos outros.

       Joaquim veio assuntar, embora eu desconfiasse de suas intenções, porque já lhe conhecia a fama, legal, ganhou, foi, essas coisas. Eu, ao mesmo tempo dava atenção, assim como lia uma certa provocação quando, de repente, esse meu vizinho deu um bico no brinquedo, por detrás, espalhando os carrinhos por todo o lado,  parte na rua, parte na própria calçada, desengatando carroceria e truck.

        Correu. Ganhou a direção de sua casa. Agora o corredor à esquerda do sobrado simétrico, acesso às casas geminadas da esquerda. Corri atrás. O velho homem, demônio íntimo, já estava despertado, eu já carregava um pedregulho à mão, que soltei, por pura raiva, aliás, arremessei à porta da casa, também uma das metades geminadas onde ele morava. Ele já havia se evadido, mas minha fúria ainda não.

     Voltei à rua, juntei os carrinhos, entrei, nem sei se alguém, sensibilizado, por ali, ajudou. Imediato, aqui a memória pode estar pregando das suas, mas fato garantindo, não sei se sequencial no mesmo dia, queixei-me ao irmão logo acima na idade. Era uma espécie de reclamação, um protesto, se bem que não tinha autoridade expressa e revelou-se cúmplice do irmão.

      Ali, na mesma cena do crime anterior, esse que penso ser o Francisco, imobilizou-me por trás, Joaquim apanhou um pedregulho do tope daquele que eu havia arremessado na porta da casa dele, caminhou na minha direção, arregalei olhos, enquanto ele hesitava em saber onde iria me agredir. Escolheu, tudo foi tão rápido, que nem pensei em qualquer reação: acertou-me o lábio que, imprensado ao dente, feriu-se e sangrou.

      O mais velho me largou, os dois se encaminharam à sua casa, desta vez não reagi, talvez temendo o mais velho: era uma escadinha, eu no meio, Joaquim o mais novo. Quer dizer que, com o mais novo, eu me avistava mas, com o acima de mim, me acovardava. Dorcas tinha razão: era melhor eu me afastar de toda a doce delinquência desses anos dourados.
Mais ou menos deste jeito

Conjunto dos quatro Aps, Olga embaixo à direita;
Maria da Glória, embaixo à esquerda. Joaquim
e família, casa geminada à esquerda, corredor
de acesso com portão menor acinzentado.

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