quarta-feira, 11 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 87

     
       Solidão de Deus. Solidão do homem. Há momento, mesmo levando-se em conta qualquer relação, que a solidão se reafirma.

      Deus é único. Para ser Deus, sendo Deus, assumida identidade, está sozinho. O mesmo com o homem/mulher. Para reafirmar sua identidade queda-se ele/ela só.

      E aí que Deus se empenha todo na relação com o homem/mulher. Deus deseja relacionar-se com todos os seres humanos, sem exceção. Mas não se desdobra ou se fragmenta.

       Põe-se todo na relação de um(a) por um(a). E não se esconde ou se mostra enigmático, porém se revela totalmente. Isso desconcerta e amedronta o homem. E a mulher também.

      Talvez elas, tão acostumadas a uma (o)pressão maior, desvelam-se com mais facilidade. Como Ana, "derramam sua alma". Não os homens. Mais covardes e inseguros, por isso machistas, querendo se impor pela força, correm atrás de uma espiritualidade de fachada.

      Mas para encontrar Deus, em espírito e em verdade, como diz João Apóstolo, só partindo da solidão. Solidão do homem diante de Deus em sua solidão.

      Sem máscaras. Sem ídolos. Nus e despojados. Deus traz consigo um incontido desejo de comunicar. Por isso, corre atrás, arrebanha homens e mulheres para lhes fazer Seus profetas.

      A partir do monento desse encontro, impossível não se voltar em direção a todos, para contar, como fez a samaritana, numa pergunta retórica: "Encontrei quem sabe tudo de mim: será o Messias?".

      Espiritualidade não é fuga dos homens, do burburinho, buliço da feira, do mercado, das varandas do Templo, das festas, da sarjeta, da periferia, da facção, dos hansenianos, dos prostíbulos.

       Deus, no homem Jesus, estaria onde hoje as chamadas igrejas pouco estão. Encontro da solidão de Deus com a solidão do homem. Onde a salvação acontece. Entre os enfermos, porque os "sãos" presumem-se não precisar de médicos.

       Definitivamente espiritualidade não é a fuga de entre os homens para uma solidão de fachada com Deus. Mas a partir do encontro, sair de posse da vocação única de Deus, que é encontrar-se com um por um homem/mulher.

       Jesus soube equilibrar relação com o Pai, relação com os homens/mulheres. Ninguém foi assim mais íntimo. E a intimidade de Jesus com o Pai não foi egoísta, porém altruísta, para o único modo de Deus e homem/mulher se encontrarem.



     

   

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