quinta-feira, 5 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 85

        Jonas teve de lutar contra suas próprias mágoas. Como diz em seu livro, sabia que corria o risco de participar no "programa de perdão" de Deus.

      Perdão de Deus incluiu amar o inimigo. Isso porque, no entendimento e nas obras malignas, qualquer ser humano é inimigo de Deus. Ou Deus ama inimigos, ou não terá quem amar.

        Mas amarmos nossos inimigos, quer dizer, quem elegemos para inimigos, não aguentamos isso. É demais para nós.

      Por isso Jonas, antevendo essa possibilidade, qual seja, ser, por Deus, colocado diante de si mesmo, tentou a fuga. Até ânsia de suicidar-se alimentou para si.

      Sabemos que nem na morte se foge de Deus. Jonas quis se drogar, entorpecer-se nessa ilusão. Falhou. Deus dos absurdos foi a seu encontro.

       Do sono no porão do navio, fê-lo encarar mar revolto. Poucos homens já viram ou tem coragem de ver. Convenceu a tripulação que jogá-lo ao mar seria seu talismã.

      Eles o fizeram, com relutância. E o Deus dos absurdos deparou um peixe que engoliu Jonas que, nem assim, morreu. Então orou ao Senhor.

       A oração que brota do porão, de dentro do abismo mais profundo. Mas é tão profundo esse abismo que, cessada a ameaça, vai pedir de novo a morte.

     Colocado, de novo, diante de si mesmo, no desafio a amar o inimigo, a entender amor e perdão para o outro, sucumbiu novamente. O abismo era existencial.

       O abismo é existencial. O homem está mergulhado no seu próprio abismo. O amor é mais forte do que a morte, diz o Cantares. Jonas tentou ainda inverter essa máxima.

      Acaba o livro e não sabemos se o profeta aprendeu essa lição. Essa lição é aprendizado permanente. A todo dia aprendemos (ou não) com Deus. Como nos ensina Jonas, deparados ao óbvio de nossa existência.

Um comentário:

  1. Que lindo! Deus seja louvado.
    O perdão está em Deus se somos um com Ele o perdão precisa estar em nós

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