sábado, 23 de junho de 2018

BÍBLIA 9

         Era para que a Bíblia fosse usada de modo desarmado. Quero dizer, que a visão sobre ela fosse equilibrada. Claro que há nela parcela do que requer fé. Pode parecer, então, que uma visão objetiva seja impossível.

       Mas há absurdos incompatíveis com sua principal proposição. Evidente ser necessário reconhecer a distância que, no tempo, nos separa do conteúdo expresso nos textos e contextos culturais específicos. Sem critério, certamente ocorrerão equívocos.

       Outro dado é que o sentimento religioso também opera em conjunto. O Antigo Testamento protestante corresponde à Torah judaica. Já na católica, nesse mesmo AT, há 7 livros a mais, com adições em outros dois.

       São acréscimos a partir da chamada Septuaginta, ou Setenta, a primeira versão da Torah, do hebraico para o grego, feita por sábios judeus da diáspora, no séc. III a. C., em Alexandria, no norte da África, capital intelectual da época.

        Os judeus conservadores de Jerusalém não aceitaram os livros acrescentados na versão Setenta. Protestantes seguem os judeus conservadores nativos de Jerusalém, enquanto católicos seguem os judeus liberais da dispersão.

         Mas o Novo Testamento é idêntico para esses dois grupos de cristãos embora, obviamente, não aceito por judeus, porque não consideram Jesus o Cristo, ou seja, o Messias.

       Em meio a esse jogo de aceitação/rejeição, é necessário entender, de modo objetivo, onde se situa a Bíblia. E há maneiras equivocadas de compreendê-la, assim como, irracional e mesmo incompetentemente combatê-la.

       Em muitas ocasiões, caso houvesse maior informação, método e critérios, não se falaria, desavisadamente, tanto desatino sobre ela. Assim como não se repetiria, como já houve antes na história, opção por queimar em fogueiras tanto ela quanto seus leitores.

      Por exemplo, há tendência em encarar a Bíblia como livro contra a modernidade, anticientífico ou moralista. Somente uma visão afetada a encara dessa forma. A riqueza da Bíblia precisa ser reconhecida.

         Independentemente de sua feição confessional ou dos desmandos que, em nome dela, foram/são/serão cometidos, não se pode desaboná-la, em função disso. A Bíblia, em si, não pode ser responsabilizada se a leem, interpretam e doutrinam de forma distorcida, atribuindo a ela o que, de si mesma, nunca propalou ou proclamou.

         Há nela conteúdos válidos universalmente. Quando fala, por exemplo, do amor, atribui Deus como fonte dele. E diz que se deve amar Deus sobre tudo e ao próximo na mesma proporção. Confronta todos. Quem pratica isso?

         Há quem diga que se tenta impor a outrem verdades bíblicas. Que por ser livro associado à religião, não há obrigação de assumi-lo como regra. Erro de quem assim raciocina. E a própria Bíblia não se impõe a ninguém. É de si mesma voluntária. E esta é a sua maior força.

         Deixar a consciência humana decidir é a marca principal do Livro. E esse é o maior temor do ser humano, porque é totalmente posto frente a essa responsabilidade. Que se revele sem nenhum escrúpulo. Assim, terá perdido todo o seu senso de humanidade.

       E terá concordado e comprovado o principal teor das Escrituras, que é a denúncia da perda, pelo ser humano, exatamente do senso de humanidade. Definitivamente a Bíblia não é para ser imposta a ninguém. Mas é cego da pior cegueira, em extrema ignorância, quem não lhe enxerga valor.

       
     

     

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