terça-feira, 19 de junho de 2018

BÍBLIA 4

       Manuscritos. Ao longo da produção dos textos bíblicos, foram copiados e recopiados em profusão, até chegar hoje em nossos papéis-bíblia e tela touchscreen.

      O que se costuma argumentar é que mãos sem conta mexeram nos textos e os subverteram ao extremo. Logo, carecem de credibilidade. Portanto, atribuir "palavra de Deus" a textos que carecem de credibilidade seria, no mínimo, desmoralização.

       Do texto e da Pessoa por detrás. Na teologia clássica ortodoxa, resolvia-se esse problema dizendo que os manuscritos originais foram "verbal-plenariamente" inspirados.

      Qual seja a ideia, é que, palavra a palavra, houve inspiração que implica inerrância absoluta. Nenhuma vantagem, a meu ver, com criação de um problema adicional.

     Porque do que adiantariam originais intactos que, ao longo de sua tradição, sofreram variações, por pequenas que fossem? Porém multipliquem-se por, pelo menos, três milênios esse processo. Multiplicariam-se, por hipótese, as variações.

     Tratando-se, como se costuma atribuir, palavra de Deus, na suposição de que houve, mesmo que conteúdo mínimo perdido, estariam comprometidos: Deus, como emissário; autores a quem se atribuissem autoria e conteúdo, trabalho perdido; e, por extensão, os textos, corpo conjunto tradicionado, falhos como instrumento de preservação da mensagem.

     Prefiro, então, ater-me a dois argumentos: (1) a tradição dos textos, assim como as sucessivas versões, a partir dos originais, são dados aos homens; (2) a mensagem, em si, deve ser levada em conta, para que se verifique sua relevância.

     Dado aos homens são, consequentemente, uma vez escritos, recopiados, retransmitidos e traduzidos. Como obra literária, façam-se todos os estudos científicos possíveis, como texto, contexto e autoria.

       Quanto à mensagem em si, sua relevância, diz respeito ao estudo do seu conteúdo em sua variação. E quanto a supor existir mensagem central, pode-se, a partir dela, qualificar todo o conteúdo restante.

       Prefiro este último argumento e, a partir dele, qualificar todos os outros. A Pessoa por detrás é Deus. Assim assinalam os autores, na variedade de gêneros textuais expostos. E no ápice da mensagem, o texto diz que o Deus que existe se fez homem.

     E o Livro desanda a dizer que as qualidades de Deus estão ao alcance do homem. Que Deus visa comunhão, individual e comunitária com o homem. Que nem a morte física será obstáculo para isso, porém a morte moral sim.

      Radical. Vale a pena mergulhar nos textos. E, se houve perda, a radicalidade da mensagem central vai suprir. Porque, sendo verdadeira essa mensagem, não importa o que se perdeu. Porém, sendo falsa essa mensagem, todo o restante será puro diletantismo.

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