terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Mal traçadas linhas 63

 Uma fé turbinada.

   "Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?"
                             Lucas 18:8
 
      Instigante pergunta atribuída a Jesus. Já a partir do seu locus. Esse "vier" significa o quê? O propalado retorno de Jesus?

      Denominado, tecnicamente, parousia, no grego. Mas, especificamente, refiro-me aqui à "fé" como todo o conjunto daquilo que se afirma sobre Jesus.

      Pode-se incluir a parousia. Mas não vou falar especificamente dela. Do que depende essa "fé"?

      1. Da quantidade dos que creem. Então, enquanto houver um grupo no planeta professando ser cristão, estará comprovada, historicamente, que seja, a existência dessa fé.

     2. De fatos. O que está na Bíblia, por exemplo, comprovaria. Mas se reduzirmos o que está no livro ao argumento anterior, ou seja, está lá porque um grupo de gente fez aquelas afirmações, estamos estagnados no argumento 1.

      3. Ciência. Faz, pelo menos, uns 300 anos que o Iluminismo inaugurou a época do império da razão. A moda pegou. Todo mundo virou, um pouco, cientista. Virou também o principal argumento ateu.

      Do que depende a fé? Está no livro que Jesus é "autor e consumador" da fé. Resumindo, ele inventou e, ao mesmo tempo, garante. Voltamos, de novo, ao ponto 1: ela depende de um pessoal que acredita e faz dela propaganda.

     Se esse pessoal arregar, ou seja, parar de gritar, por aí, estufando a jugular de que foi mesmo assim e assim, e talecoisa (tal e coisa), como dizia meu avô (que dizia crer), ela, a fé, acaba.

      Jesus (se existiu mesmo e se disse mesmo aquilo) estaria certo. Quando (e se) voltasse, não encontraria à volta ninguém crendo nEle ou no que disse. Aliás, já pensou se aparece alguém dizendo "Ei, pessoal: meu nome é Jesus" e, sorrindo, dissesse: "Estou de volta".

     Ia dar no mesmo. Como foi da primeira vez, iam dizer: "Prova, então". De que prova depende a fé? Um montão. Para convencer cada um. Igual, de novo, a uma situação de que a Bíblia fala, só para ilustrar, quando um grupo dizia a Jesus (rindo, muito provavelmente): "Mostra um sinal aí".

       De que depende a fé? Será puro relaxamento do Altíssimo (Deus, se é que existe) deixá-la, assim, tão, como dizer? Assim, vamos dizer, tão largada? Assim, dependendo só dos que creem.

       Mais cioso, se está mesmo certo que está na Bíblia que "sem fé, é impossível agradar a Deus", falta a Ele, Deus, ser mais, como (de novo) dizer, falta a Deus ser mais iluminista (ou iluminado, se não for redundante dizer).

      Falta ao Altíssimo, em minha humilde (sempre humilde, é claro, opinião) submeter essa democrática instituição denominada "fé" (inventada e autorizada pelo Filho) a um escrutínio de marketing moderno (ou pós moderno).

      Desse modo a fé perderia todo e qualquer caráter dogmático, ortodoxo, restrito e, de uma vez por todas seria a fé de todos, uma fé, diríamos, inclusiva. Ninguém, absolutamente, ficaria de fora.

     Talvez, caro Filho, transformando fé nessa opção de todos, definitivamente democrática, sem inflexão dogmática nenhuma, eu até diria, turbinando a ideia (muito boa, por sinal) da Reforma, muito provavelmente, quando o senhor, desculpe, Senhor voltar vai, sim, encontrar fé na terra.

      Nada, Filho, que o marketing não resolva. Aliás, estamos num ano eleitoral. Turbine, Filho, a Sua candidatura.

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