segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Leituras em Filipenses

     Filipos era uma cidade grega, geograficamente portão de entrada na Europa, para quem vinha da Ásia. O nome era em homenagem a Felipe II, da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, que promoveu a primeira globalização da história humana, espalhando língua e cultura gregas quando conquistou o mundo em cerca de 300 a. C.
     No tempo de Paulo era uma colônia romana, ou seja, uma Roma em miniatura, onde inclusive era proibido aos judeus edificar sua sinagoga. Por isso, o apóstolo desceu às margens do rio Gangites, onde um grupo da união feminina marcava reuniões, entre elas Lídia, vendedora de púrpura, talvez a peesidente da UAF.
     Nessa cidade Paulo permaneceu, talvez, quase um mês, frequentou esse lugar de reunião periodicamente,  repreendeu um espírito adivinhador que atormentava uma jovem, foi intrigado e preso por causa disso, açoitado, junto com Silas, na mesma prisão onde resolveram, os dois, cantar em louvor ao Senhor.
    Um terremoto localizado soltou as trancas, liberou todos os presos, sem rebelião, mas o carcereiro, entre enfrentar a punição romana e suicidar-se, preferiu esta opção. Mas Paulo, liderando os presos, propôs que poupasse sua vida e ouvisse o evangelho. Foi quando disse aquele versículo que a gente lia na parede de frente da "igrejinha antiga": "Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa".
    Ele creu. Recebeu Paulo em sua casa, contígua ao cárcere, pensou-lhe os ferimentos, alimentaram-se, toda a família foi batizada e, no dia seguinte, as autoridades pretorianas ainda levaram um susto ao saber que haviam açoitado, sem julgamento, um cidadão romano. Caramba, uma igreja que começa, emocionalmente, com todos esses acontecimentos, só mesmo poderia demonstrar em seu perfil os traços indicados na carta aos Filipenses. Vamos a sua leitura.

   Leituras em Filipenses.

   Já falamos como foi penoso o começo da igreja em Filipos e de Lidia, sua primeira conversão. Hoje mencionamos a introdução da carta, quando Paulo descreve o perfil daqueles crentes. Transparece a espiritualidade deles.
    São cooperadores unidos a Paulo, informados e agentes de seu ministério. Daí o apóstolo reconhecer essa atitude como obra de Deus na vida deles, que nunca cessaria de ser aperfeiçoada.
   Isso é amor. Diante disso, Paulo os exorta e estimula a aumentar e crescer em amor contínua e intensamente, por ser a única maneira de aprender a escolher o que é excelente, diante de Deus, assim como se manter sincero e inculpável, diante e para o dia de Cristo.
   Paulo indica esse perfil como aquele que apresenta os frutos de justiça na vida dos crentes, num grau pleno, os quais têm origem na ação do próprio Jesus em nós e, por meio dos quais, nossa vida se torna razão de glórias a Deus.
   Cooperação no Reino de Deus, crescimento em amor, percepção e lucidez na escolha do que, diante de Deus, é excelente e colheita de frutos de justiça cultivados por Jesus em nós, compõem o perfil da igreja, povo de Deus, cuja avaliação é razão de glórias dadas a Deus.
   
Leituras em Filipenses
 
      No início do cap. 2, Paulo vai mencionar 3 vezes a palavra amor. Aliás, se João definiu "Deus é amor", não há como obter, da parte de Deus, nada se não por amor. Neste trecho, o apóstolo, como que por ironia, pergunta aos crentes: "Há exortação do Espírito que te sirva de estímulo?".
     E Paulo mesmo completa, ora, se há e passa a dizer o que se espera: (1) tenham, entre si, um só sentimento; (2) nada façam por partidarismo; (3) cada um considere o outro superior a si mesmo. Essa é a definição do que seja comunhão.
    Até aqui, nesta carta, Paulo mencionou "cresçam em amor, "há consolação de amor no Espírito" e "tenham em vocês amor". E define este como o "sentimento de Cristo". Decisivamente comunhão se define em termos de amor. E é algo que se aprende praticando.
    Basta ler a oração de Jesus em João 17, que vamos entender assim. E aos Efésios, de novo Paulo afirma que comunhão e algo que, "suportando-nos, uns aos outros, em amor", devemos "esforçarmo-nos diligentemente por preservar, no Espírito".
    Definitivamente, ser igreja é uma construção permanente de quem luta, primeiro, por presevar sua autêntica comunhão com Deus, demonstrando isso no desdobramento de sua comunhão com o outro. Se isso não for realidade, assumamos a nossa hopocrisia e facamos a oração, "Senhor, faz cair minha máscara".
 
      Leituras em Filipenses
   
      "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus". Talvez possamos dizer ser este o tema da carta. Paulo menciona 4 vezes esse "sentimento": (1) afirmando ser ele que produz unidade em Cristo; (2) afirmando, no versículo acima, ter origem em Cristo; (3) apontando Timóteo como quem tinha esse sentimento; (4) e dizendo que ser perfeito em Cristo é ter esse sentimento.
     Como defini-lo? Uma coisa é certa: ele tem origem em Cristo. E embora seja indicado aqui por um imperativo, tem de ser espontâneo em nós, "fruto de justiça", em Cristo, como Paulo mesmo já disse. Isaías, o profeta, disse que certo querubim quis usurpar o lugar de Deus. Aqui, o apóstolo diz que Jesus, sendo Deus, esvaziou-se e "não usurpou para si o ser igual a Deus".
  Para nos amar, Deus se fez homem em Jesus. Melhor, amando-nos, se fez homem em Jesus. Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus. Mas como? Paulo indica, sobre Timóteo, que ele: (1) cuidava, sinceramente, dos interesses da igreja;  (2) buscava primeiro os interesses de Cristo, e não os seus próprios; (3) tinha o caráter provado; (4) foi servo do evangelho, bem próximo, junto, unido a Paulo. Talvez seja assim.
      
          Leituras em Filipenses

          Assim como nas igrejas da Galácia, um grupo de judaizantes andou por Filipos tentando convencer os irmãos a admitir ser circuncidados e a guardar preceitos do judaísmo. Paulo os compara a um bando de cães, atrás da carniça de suas vítimas. E os responde, definindo o que é conversão genuína em Cristo.
    Começa com perda total: "para mim, o viver é Cristo e o morrer é ganho". O apóstolo demonstra como abriu mão das honrarias do farisaísmo, no caso, o que o enchia de orgulho e era seu "pedigree". Concorda com Habacuque, que indica fé em oposição à soberba: "Eis o soberbo, sua alma não é reta nele, mas o justo viverá pela sua fé."
    Paulo afirma que, por causa da "sublimidade do conhecimento de Cristo", ser crente é, verdadeiramente, perder todas as coisas e as considerar refugo. Dessa forma, o ganho é Cristo e a justiça que procede, exclusivamente, desse ato de fé. Como aos Gálatas Paulo escreveu, "não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Essa é a qualidade de vida de quem vive pela fé.
    A resposta do apóstolo ao grupo de "cães itinerantes" é que circuncisão sempre foi sinal profético de conversão, a qual se cumpre e realiza pela fé em Cristo, da qual cada verdadeiro crente é sinal profético vivo. Andemos por fé: vivemos pelo Espírito, andemos no Espírito.

     Leituras em Filipenses

     Já na conclusão da carta, Paulo propõe aos irmãos mirar num alvo e afirma ser esse o propósito de Cristo na vida deles: "caminhar para conquistar aquilo para o que fomos conquistados por Cristo Jesus". E o apóstolo diz o que é, trata-se da perfeição.
   Ser per+feito signifca ser por todo o perímetro, por toda a volta, completo, pleno, cheio. E Paulo diz que já ter essa vontade em si, é o primeiro indicador de perfeição. Ele mesmo se coloca como exemplo, mas também confirma não ter ainda alcançado.
   Na verdade, trata-se de uma característica permanente na vida cristã, que a marca como autêntica e frutuosa. É Cristo mesmo quem concede os elementos necessários a que se possa atingir esse alvo.
    Lembrando a introdução dessa mesma carta, Paulo disse que crescer em amor nos permite percepção e escolher o que, diante de Deus, é excelente. E em Coríntios 2, o apóstolo também diz que, pelo Espírito, ansiamos ser revestidos pelo que é celestial.
    Termina essa seção da carta dizendo "todos que somos perfeitos, tenhamos esse sentimento". Buscar perfeição é um desejo de Jesus posto em nosso coração, pelo Espírito. Conquistemos aquilo para o que Jesus nos conquistou. E Paulo deixa em aberto: dúvidas sobre isto? Deus vos esclarecerá, diz. Que tal começarmos, então, esse diálogo com o Altíssimo?


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