segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Mal traçadas linhas 6



     Atualize-se

        “Atualiza a sua tela”. Assim falou o atendente, que precisava enviar e-mail de confirmação da passagem aérea, e me solicitava atualizar para que os novos dados aparecessem. Meu filho perguntou: por que não apertou a F5? Era só apertar essa tecla.

         Pois é, vez por outra esses elementos da nova tecnologia reservam certas analogias que a gente pode aplicar à vida prática. A gente precisa, mesmo, dessa repaginação, dessa atualização. E, muitas vezes, até tentamos, mesmo, porém errando de ênfase.

         Pensamos que atualizar é, por exemplo, assimilar modos e jeitos para, exatamente, não ficarmos desatualizados. Torna-se ridículo, então, um cara de quase 60, como eu, tentando falar, comportar-se e pensar como alguém, digamos, 40 anos mais jovem.

        A gente assiste a uma tentativa de repaginação da igreja evangélica em áreas diversas. Nesse esforço, é necessário saber o que se deve prescindir ou jogar fora, e o que se deve preservar. Na minha geração, a uns 35 anos atrás, o livro Cristianismo Equilibrado, de John Stott, foi muito útil, sugerindo bom senso nessa postura seletiva.

        Destacava que Jesus sabia manter tradições e refugar modismos, filtrando o que era descartável do que deveria ser permanente. Exemplo era a postura dele sobre a Lei de Moisés, quando ensinou a separar o conteúdo do que era circunstancial.

         Foi célebre, por exemplo, a cena da sinagoga, quando cobravam de Jesus que, no sábado, não curasse, uma estúpida interpretação da preservação de integridade do sabbath. O Mestre perguntou: “Posso fazer o bem no sábado, ou estou proibido de o fazer?” Inteligência, colocação do problema nos parâmetros certos e coragem para sustentar opinião própria. Agora, só falta aplicar isso à igreja de hoje.

          Atualize-se. O sacrifício de Cristo tem validade permanente. Aplica-se de modo contínuo, como oferta, tanto a quem dele não se tornou, ainda, participante, quanto a nós que, constantemente, necessitamos de sua mediação. A ação do Espírito Santo em nós, que mantém atualizada a mediação desse mesmo sacrifício, também é permanente.

         Por isso, é necessária essa repaginação constante de nossa vida. E não depende somente de nós porque, como diz o profeta Jeremias, nosso coração é desesperadamente corrupto e até a nós mesmos engana. Gostamos de repetir, também de Jeremias, aquele versículo que postula: “Maldito o homem que confia no homem”.

         Isso mesmo: somos nós mesmos o primeiro homem (ou mulher) de quem devemos desconfiar. Apertar a tecla F5 não depende somente de nossos arquivos cache internos. Vai ser necessária a assistência do Provedor do sistema. Atualizar-se, para tanto, depende, sim, da atuação do Espírito em nossa vida.

          Que, certamente, virá da busca de lucidez para os olhos, resultado de exercício de vida piedosa. Esta palavra grega, sem correspondente na língua portuguesa, define ações que, em conjunto, modelam a vida na relação com Deus. Devem envolver, certamente, tempo com a Bíblia, em coerência com o tripé meditar-cumprir-proclamar.

         Outra postura deve ser presença na igreja, em meio ao grupo, vida de comunhão. Com todos os defeitos, crises e críticas de que essa modalidade de ajuntamento se tornou alvo, não há outro lugar, como diz o Salmo 133, onde o Senhor 'ordene a Sua bênção e a vida para sempre'.

         Vida de oração. Tempo gasto de conversa íntima com Deus, dentro do que a Bíblia ensina ser oração, evitadas a hipocrisia, as vãs repetições, o discurso de vaidades, a manipulação de 'bênçãos' para consumo próprio, enfim, oração é a súplica autêntica pela contínua tentativa de pôr em prática o que a Bíblia ensina e o que a igreja sugere que seja vida piedosa.

          Passa por essas vias a atualização. Tecle essa tecla. F5. O Provedor vai nos mostrar que arquivos deletar, que arquivos manter, que novos arquivos agrupar.
        

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