terça-feira, 21 de abril de 2015


  Levítico

    Um dos livros, talvez, menos lidos na Bíblia. Isso porque tem pouca narrativa, isto é, se ainda há quem se interesse pelas narrativas bíblicas. Digo isso porque, atualmente, os que mais deveriam nutrir interesse pela leitura do Livro, entre aqueles do grupo outrora chamado 'os Bíblia', estão deixando de lado o Livro.

    E recomeçar pelo Levítico, talvez, de novo, não fosse boa ideia. As narrativas bíblicas já povoaram a imaginação dos crentes, através dos anos. Porém outras são as ocupações e distrações para a mente, hoje em dia. Facílimo manter-se ligado à telinha, que já foi a da TV, a partir dos anos 50, passou pela do computador, início dos anos 90 e agora, neste começo de século, fixou-se na tela do Smart Fone. 

   Bem, nada contra, muito embora, até às linhas deste texto, eu não tenha adquirido o meu. Porém, fatalmente, vou adquiri-lo, mais tempo, menos. O problema será caso vire fixação, não permitindo que, nos intervalos, seja prudente que se construam, ou resgatem, relações. Como, por exemplo, ler a Bíblia, que significa relação com Deus. Surpreendi-me, dias atrás, com um companheiro de banco de praça que iniciou agradável conversa, em meio à qual discutiu essa perda da capacidade de, simplesmente, conversar, ao vivo, ele quis dizer.

    Pois, sem mais delongas, uma das obrigações, ou melhor, aqui, prazeres roubados aos mortais nestes dias é aquele de ler as Escrituras. Levítico constitui-se num desafio, exatamente porque necessita do esforço de ser desmembrado, de ser, como diz Paulo a Timóteo, bem manejado. Manejar bem a Palavra da Verdade. Pois esse critério se aplica, também, ao Levítico.

     Nos capítulos iniciais são descritos 5 tipos de sacrifícios. Constituem-se numa chave inicial para compreender, duma vez, (1) o próprio livro de Levítico, (2) a espinha dorsal da religião de Israel e (3) a projeção profética permanente que se fazia, no grande audiovisual que foi o ritual do Antigo Testamento, a respeito do sacrifício de Cristo, central na história da revelação.

      O 'alah, holocausto, ou seja, a queima total; a minhah, oferta de manjares; as shelem, ofertas pacíficas; o 'asham, a oferta pela culpa; e o hatta'th, a oferta pelo pecado. São cinco os tipos de sacrifícios. Todos eles associados à rotina de vida do ser humano, ao mesmo tempo em que tipificavam elementos presentes na relação com Deus.

        A escala de aproximação de Deus, para o homem, começa com o 'asham, a oferta pela culpa, visto que esse sacrifício aponta para a realidade genérica de que todos pecaram e carecem ou, como diz outra tradução, destituídos estão da glória de Deus, como está escrito em Romanos 3:23. Essa oferta indica essa generalidade, qual seja, todos são iguais, perante Deus, no mesmo grau de culpa.

         Já o hatta'th aponta para outra realidade, que somente a Bíblia define como certa, é de que não temos condições de dizer que não cometemos, eventualmente, pecado contra a santidade de Deus. Aliás, uma coisa está associada a outra: o fato de nos convencermos, ou melhor, sermos convencidos pelo Espírito Santo, como está em João 16:8, de que somos pecadores, diante de Deus, portadores dessa culpa, enseja o fato de que, eventualmente, pecamos.

       João também nos socorre com relação a essa verdade, quando diz que, se alguém negar que é pecador, mais do que fazer-se, automaticamente, mentiroso, estará chamando Deus de mentiroso, porque é Ele quem nos convence de que somos pecadores, apontando e mostrando em nós essa triste realidade. E vai ser também, segundo nos mostram as Escrituras, quem nos redime dessa condição: Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós (isto é culpa) [...] Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo - isto é, fazemos Deus - mentiroso, e a sua palavra não está em nós (isto é pecado eventual, decorrente da nossa condição de pecadores)- 1 João 1:8 e 10. 

        O 'alah, holocausto ou, literalmente, queima (causto) total (holo) aponta para a realidade de que Jesus Cristo, para nos redimir, pagar o preço, cobrir a culpa, ofereceu-se totalmente ao Pai. É perda total. Como diz Paulo aos Filipenses, se alguém pretende fazer essa troca, sua vida perdida, entregue a Deus, em troca da oferta da vida de Cristo, pode se preparar, porque será necessário encarar perda total: Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, paara ganhar a Cristo e ser achado nele não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo Jesus, a justiça que procede de Deus, baseada na fé - Filipenses 3:8-9.

      Com relação aos dois outros, o minhah e o shelem, significam de modo amplo, em nosso retorno, diante da graça sem limites de Deus, o que temos, agora, a oferecer. Mediante a entrega total de Jesus, essa mesma graça nos reeduca, como ensina Paulo a Tito: a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos, Tito 2:11-12. Então temos a oferecer a nós mesmos: Ele - Jesus - morreu por todos, para que os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou - 2 Coríntios 5:15. Com relação ao minhah, a oferta de manjares representa a obediência  em reposta ao Senhor, com a qual brindamos Deus com nossa fidelidade, nosso compromisso com sua verdade e a responsabilidade por sua obra entre os homens.

       Desse modo é que, desde o Antigo Testamento, o homem, perante Deus, foi responsabilizado por transmitir aos semelhantes as verdades da revelação. Moisés lembra como, em Deuteronômio 5:27, o povo fez com Deus aliança, nos seguintes termos: Chega-te, - disseram a Moisés - e ouve tudo o que disser o Senhor, nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o Senhor nosso Deus, e o ouviremos, e o cumpriremos. A partir daí, homens transmitem a homens a palavra de Deus. Oferta de manjares é a contrapartida da obediência devida a Deus e da responsabilidade de sustentarmos, no mundo, a obra de Deus, na transmissão de Suas verdades aos homens.

       Por isso que o dízimo, tão combatido e mal entendido por tantos, foi assumido pela igreja de Jesus, nos dias atuais, como símbolo dessa fidelidade e compromisso de obediência, como justa modalidade de contribuição, para o sustento da obra que devemos realizar, em nome de Deus. Já a oferta pacífica, assim denominada, shelem, da mesma raiz da palavra shalom, paz, significa toda a amplitude das bênçãos com que somos contemplados por Deus. Retiro do meu sustento, para além dos 10% que assumi como compromisso, outra faixa monetária, em resposta e retribuição pelo que Deus me concede e que, certamente, sustenta e sobra.

       Fui criado por um casal de origem na classe social mais baixa, pobre mesmo, só não eram miseráveis, como há muitos. Meu pai, numa carta que enviou, da roça, da colônia, como chamam aqui no Acre, a minha mãe, noiva recente dele, e que estava na cidade 'grande' do Rio de Janeiro, descreveu a refeição que faria na casa da irmã, poucas léguas a pé do lugar em que estava, em casa de seu pai. Nessa carta, ele descreve a refeição, de como, na zona rural, em 1952, havia roçado de milho e feijão, hortaliças, criação, quais eram, porcos, galinha, escambo com vizinhos, para que bem se alimentassem.

         Casados em 1954, morando de aluguel até 1967 e, a partir desse ano, enfiados num brutal financiamento de seu apartamento no Méier, nunca deixaram de ser dizimistas, ele, funcionário público do IBGE, ela, professora de 1ª a 4ª antigas séries, ganhando salário provisório, em julho e dezembro, acumulado, nunca, vou repetir, nunca deixaram de ser dizimistas. A a oferta pacífica deles era constante, mais tipificada em julho de cada ano, que era o mês de Missões, para minha mãe, da denominação Congregacional e, para meu pai, pastor batista, era a oferta pacífica para a Junta de Missões Nacionais (e Estrangeiras também) dos Batistas.

         Assim fui criado, como se costuma dizer. Retorno. Oferta de manjares e oferta pacífica, doces nomes de enlevo, delícias, paz, prosperidade, não essa absurda, ridícula e abusiva que está aí, na mídia, mercenários do 'teatro, templo e mercado' em que transformam seus ministérios, agora, pseudo ministérios. Mas a prosperidade de José, nas mãos de quem a vontade de Deus tinha livre curso: E nenhum cuidado tinha o carcereiro de todas as coisas que estavam nas mãos de José, porquanto o Senhor era com ele, e tudo o que ele fazia, o Senhor prosperava - Gênesis 39:23, profeticamente tipificando Jesus, nas mãos de quem a vontade do Pai prospera: ...e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos - Isaías 53:10c.

        Tarefa de casa: ler o Levítico. Porta de entrada desse livro: 'asham, admissão da culpa; 'alah, o holocausto de Jesus, que nos permite trocar nossa vida em pecado pela vida em santidade; hatta'th, enfrentamento e vitória, em Jesus, sobre o pecado eventual, como disse Jesus, basta ao dia o seu próprio mal, Mateus 6:34c; e minhah e shelem, nosso retorno, frente à graça sem medida e sem tamanho de Deus, derramada toda e completa no coração de cada verdadeiro crente salvo, tipificando o privilégio do sustento do verdadeiro ministério no qual e do qual somos servos. 

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