quarta-feira, 24 de dezembro de 2014



Raiz de todos os males.

         Da série pequenos comentários sobre pequenos textos bíblicos dentro ou fora de contexto. Esta última observação não indica que será descontextualizado, mas que o leitor considere em abrir o Livro e buscar o contexto do texto, sempre mais enriquecedor, de modo a ampliar a visão do assunto exposto. No caso, lá na carta a Timóteo, capítulos finais da primeira, assim escrita, quando o é assunto dinheiro, quer dizer, muito dinheiro, porque o apóstolo fala no coletivo, citando o vocábulo 'riqueza'. 

         Sutilezas de cultura geral, filargyria, uma palavra só no grego, 'amor ao dinheiro' é a raiz de todos os males. Quando eu estudava lá no Seminário, idos de 1978-1981, um meu professor, comentando esse texto de Paulo a Timóteo, opinou ser um exagero dizer, pleno, que 'o amor do dinheiro é a raiz de todos os males'. Aliás, interessante o 'do' no lugar do 'ao', quanto citamos de oitiva e dizemos que é 'amor ao dinheiro'. Acho que como está lá, indica o amor que tem origem no dinheiro.

          Olhadela despretensiosa na internet, google, vai indicar num dos sites que tal preposição, 'de', tem pelo menos, 20 significados. É claro que um gramaticista vai indicar mais, mas vamos ficar aqui com o significado 'origem', supondo que esse amor de que fala o apóstolo tem sua origem no dinheiro. Vá lá que seja, ele, o dinheiro, por sua quantidade na mão de quem possui, gera um tipo de amor, quem sabe ao próprio dinheiro ou ao poder que ele sugere, aos bens que ele pressupõe, enfim, desencadeia um processo que, caso vire apego, paixão, senhorio, é raiz de todos os males. Descontrola, desnorteia, enfim.

            Agora, meu professor, na época, comentando o texto, a disciplina era Análise do Novo Testamento, achou que era exagero o pronome associado, na tradução, à palavra 'males': todos os males, portanto. Ele achou que seria males demais, males para caramba. Todos, generalizante, inclusivo ao extremo, afinal de contas, todos é todos, por definição, era englobar, incluir, nada, nenhum mal que fosse deixado de fora. Também coitado do dinheiro, culpado de tudo, e, afinal, de novo, injustiça seria, porque pelo menos uma quantidade extra de males ficaria de fora e teria sua origem em outra(s) circunstância(s).

            Está bem, que seja. Mas o presente arrazoado quer, exatamente, destacar aquilo que, de modo claro e direto diz o texto, sem maiores firulas exegéticas. Amor do dinheiro provoca males para caramba, se não forem todos, fica bem perto. Ou, formulando de outro modo, bastam esses tipos de males para dar fim à humanidade, instaurar a cobiça que gera uma gama enorme de ódio, provoca e banaliza variados tipos de morte e, como corolário (sempre quis, um dia, escrever esta palavra, que conheci, pelo primeira vez, num livro de matemática), o enriquecimento de poucos, à custa de toda essa desgraça, a desgraça de muitos, a desgraça de uma maioria. Para que haja poucos ricos, é necessária a pobreza e miséria da grande maioria restante de gente e, para equiparar todo mundo, utopia besta esta, seriam necessários mais 3 ou 4 planetas terra, pelo menos, deu na internet.

           Em sala de aula, algumas vezes, em doses homeopáticas, intervalos de currículo, eu despejava alguns comentários, desses que visam fazer pensar ou mudar mentalidades, ou incutir ou motivar alguma virtude, em lugar de vícios e, quase sempre, ao comentar sobre drogas e seu uso, eu dizia que corre solto no mundo e o maior ganho de dinheiro, nessa ordem, pelo menos na época em que fiz esse comentário, ganho do lucro com dinheiro, no mundo, vinha da venda de armas, em primeiro, do comércio de drogas, em segundo, e, curiosamente, do roubo de obras de arte, em terceiro. 
            
          Venda de armas, para puro extermínio do semelhante, o mais forte para o mais fraco e, caso o mais fraco queira ou suponha defender-se, arme-se também. Guerras, por aí, testes ao vivo e em cores, máxima tecnologia, aviões não tripulados, testes para tanques de guerra do mesmo modo, mísseis guiados por computadores de bordo minúsculos, cálculos de acerto do alvo nem visto, enfim, toda uma tecnologia de ponta em serviço do extermínio. População civil, opa, foi mal, era para ser cirúrgico, mas não deu, falha deles.

          Venda de drogas, o barato, o glamour dos anos 60, cara, anos dourados, a TV projeta mundo afora, a telinha, quem diria, catapultou-se, transmudou-se, hoje aparece diminuta, touchscreen, na ponta do dedo de qualquer criança, a geração que chega com a nova linguagem que eu desconheço e tenho dificuldade de compreender, assimilar, aprender e utilizar. A telinha ao alcance de tantos e quaisquer. A TV anos 60 mostrou o barato das drogas, Vietnam, Woodstock, tudo se misturava e tornou-se pretexto, sempre foi a droga pela droga (e continua sendo), mas bastaram pretextos, ácido lisérgico democratizado, acessível, verdadeiro ópio do povo, até que cheguem as drogas mais recentes e usuais e suas derivadas, como cocaína, o próprio crack, como rescaldo, e todos os demais extasis da vida. Com entrega delivery, que já é não tão nova modalidade. 

         Dá dinheiro, velho, então, escrúpulos às favas. E a natureza? Ela agradece. Por causa do lucro, poluam-se rios e oceanos, líquidos em tons de verde escuro ao cinza, multicores, sejam despejados nos mananciais, florestas sejam postas abaixo, para dar lugar a mais indústrias, a maiores plantações, a toda a exploração do subsolo que resta, o apocalipse já começou. Parem de ridicularizar a Bíblia, porque a Besta é o homem. Anticristo e falso profeta ele já é. Falso profeta, 98% dos políticos já são, por causa do lucro. Talvez percentagem pouco maior, pouco menor. Anticristo, por pura demagogia, fala-se muito nEle, digo, no verdadeiro, talvez e principalmente agora, nessa época natalícia, mas é pura demagogia.

             Supondo que tudo o que está na Bíblia a respeito dele, Jesus, seja pura fantasia, mesmo assim não vale a pena pôr em prática. Portanto, sejamos anticristos. Não abertamente, é claro, ninguém tem essa coragem e esse  desplante, esse cinismo, camuflemo-nos, pois, hipocritemo-nos, hipocrizemo-nos, caramba, qual é mesmo o verbo, enfim, ponhamo-nos máscaras mil, sorrimos, sorramos, sorremos, até quem professa, de boca, sua fé, camaloneie-se, camalonear-se, ou será camaleãonezar-se, enfim, neologismos ou tentativas à parte, anticristos, quantos somos? Por lucro, ou por qual outro pretexto? Vale a vantagem de ser. Quem não for, cara, tem desvantagem nessa brutal luta leão do dia a dia. Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo, foi esta a desvantagem do apóstolo Paulo na sua luta do dia a dia.

            A raiz de todos os males. Basta esse amor do dinheiro. Há mais males, é claro, por aí. Não seja pessimista, há males a granel. Mas, por pura economia, aqui nos detivemos nesses que provém do amor do dinheiro, bastantes para matar o suficiente, por e com todo o plantel de armas, desgraçar, com lucro doido, pelas drogas, a vida de muitos e, por si, suficientes para dar fim à natureza, por pura poluição e ambição do lucro. Homem, esse único animal em extinção, vai carregar consigo seu semelhante e toda a natureza a sua volta. O Éden às avessas. O paraíso não é aqui. Definitivamente.

   

     

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