segunda-feira, 26 de abril de 2010

LEVÍTICO: UM MANUAL DE SANTIDADE

Por não saber, direito, se sou pastor professor ou professor pastor, na mistura dos dois ofícios (ou das duas vocações), magistério e ministério, termino por decidir colocar aqui um artigo que escrevi sobre o Levítico, o terceiro livro do Pentateuco, um dos menos lidos e, consequentemente, menos compreendidos da Bíblia. Aí vai alguma luz, inícío de uma pequena série de pequenos artigos:

LEVÍTICO: UM MANUAL DE SANTIDADE

Uma proposta de título. Se bem que, diriam alguns (ou vários, quem sabe), um título impróprio. Chamar de ‘manual’ pode, no mínimo, indicar para o processo em questão algo um tanto considerado artificial. E artificialidade não combina com santidade.

Porém o fato de ser Manual implica individualidade. Diz respeito a um elemento, uma unidade construída, muito provável e exclusivamente, pelo seu dono, um modelo pessoal, restrito e intransferível de conduta. Nesse caso, portanto, o termo se torna tolerável.

Trata-se, absolutamente, de manual individual e construído pelo próprio dono. É bem verdade que, em nossa infância, em termos biológicos ou em termos, digamos, espirituais, ainda não dispomos dos mecanismos indispensáveis à construção consciente e responsável desse dito recurso de conduta denominado ‘santidade’.

Ainda dependemos de outros, de instrução que vem de terceiros, muito embora, já ‘de fábrica’, tenhamos trazido os elementos que permitem, desde muito cedo em nossa existência, discernir ─ já usando este ‘termo técnico’ ─ o certo do errado. Nessa infância, seja a biológica ou seja a ‘infância da santidade’, portanto, vivemos um pouco a fase do ‘pode’ e ‘não pode’.

Com a maturidade, inexoravelmente, a caminho, mais uma vez esclarecendo, seja ela biológica, como componente natural de nosso desenvolvimento como pessoa, ou seja ela, de novo o termo, espiritual, impossível não dispor de um prático, simplificado e acessível manual.

Santidade apresenta, pelo menos, duas vertentes: (1) a primeira, advinda da prática, externa, por assim dizer, visível, ‘artificial’, digamos, para usar outro termo bem livre de burocracias e prático de entender; e (2) uma segunda vertente interna, natural, não artificial, invisível aos olhos. Pelo menos essas duas.

Vamos a exemplos práticos e, evidentemente, para citar uma autoridade no assunto, aliás, a única autoridade no assunto, vamos citar Jesus, ninguém mais, ninguém menos, (e vamos já perdoando a expressão ‘ninguém menos’, que não deve ser aplicada) do que Ele. Modelo último, único e acabado de santidade.

Pode até ser que se encontrem questionamentos a respeito do axioma Jesus, porém, para logo ser necessário admitir que vamos nos situar em contexto bíblico e genuinamente cristão. Na eterna busca pela autenticidade do que é cristão, será sempre necessário evocar a pessoa (desculpem-nos, Pessoa) de Jesus. Nele, santidade existe em sua modalidade-padrão.

Além de evocar a pessoa do Mestre dos mestres, seguimos adiante no primeiro exemplo, mencionando as polêmicas de Jesus com os fariseus. As fontes a respeito desses religiosos do tempo de Jesus nos advertem que eram extremamente rigorosos e, por que não dizer, procuravam ser coerentes e honestos com tudo o que se envolviam.

Portanto, tomar ‘fariseu’ como uma alcunha de hipocrisia, deve, no mínimo, requerer cuidado para não se cometer injustiças. Jesus quando os criticava, punha, para usar esta expressão, o dedo na ferida. Somente Jesus em sua percepção detectava a soberba deles e denunciava sua prepotência, seu poder de discriminar ou outros ‘pecadores’, achando-se superiores a eles, e como essa atitude servia de um péssimo mau exemplo para muitos.

Então ‘fariseu’ não deve ser usado como estigma de reprovação, de modelo negativo de conduta, como o termo, em si, já adquiriu como carga semântica. Mas deve nos servir de advertência, como frequentemente tem servido, de não agirmos do mesmo modo que eles, julgando ser mais (ou menos) santos do que outrem.

Voltando às vertentes, a duas citadas ali atrás, neste texto, esclarecendo melhor, santidade requer (1) um procedimento padrão, consciente e prático que implica rejeitar e dizer, de modo explícito, ‘sim’ e ‘não’ a variadas, diversas e diferentes situações do dia-a-dia, bem como (2) uma certeza e uma raiz de que tal atitude provém de fonte interna inquestionavelmente sincera, neutra e transparente, que termina por se revelar, no meio social, um mecanismo explícito de busca ─ para citar a própria Bíblia ─ do que é “verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama... virtude, louvor..” (Filipenses 4:8).

Anotemos o versículo completo: "Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento." E, mais adiante, o apóstolo Paulo acrescenta: "... isso praticai". Um dos mais lindos textos da Bíblia: belíssimo texto, belíssimo padrão. Santidade também é beleza em seu estado o mais puro.

Mais adiante vamos entender de que modo as ‘raízes da santidade’ estão em Jesus. Voltaremos ao assunto.

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